Quando a bossa nova conquistou o mundo – História da Bossa Nova

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Bossa Nova The Girl From Ipanema com Frank Sinatra
Bossa Nova The Girl From Ipanema com Frank Sinatra

A bossa nova, que já vinha desenhando-se desde 1962 e se consolidou finalmente com o álbum Getz/Gilberto – Stan Getz & João Gilberto featuring Antonio Carlos Jobim.

Não me lembro de ver nada significativo na mídia brasileira sobre os 50 anos do lançamento do álbum que entrou para a história como um dos principais emissários da Bossa Nova nos Estados Unidos.

Reunidos sob a batuta do produtor Creed Taylor, o saxofonista Stan Getz recebia ninguém menos que João Gilberto, sua esposa Astrud e Tom Jobim, para as gravações desta verdadeira preciosidade: Stan Getz / João Gilberto. São pouco menos de trinta e quatro minutos de abraços e carinhos sem ter fim em termos de música.

Este disco, apesar de soberbo e já ter recebido vários certificados de “álbum de ilha deserta”, não foi o responsável pela chegada do ensolarado ritmo brasileiro em terras ianques, mas a sua confirmação como verdadeira mania entre os aficcionados do Jazz. Mesmo assim, é pertencente à categoria das obras-primas eternas, sem qualquer sombra de exagero.

Na verdade, a Bossa Nova já havia chegado por lá alguns anos antes de 1964. Consta que os primeiros indícios do ritmo por terras americanas tenham surgido com o sucesso do filme francês Orfeu da Conceição, baseado na peça escrita por Vinícius de Moraes, que contava com composições dele e de Tom Jobim em sua trilha sonora, ainda em 1960.

Vídeos sobre o Álbum que levou a bossa nova para o mundo faz 50 anos, Astrud Gilberto & Stan Getz em “The Girl From Ipanema” de 1964 e Frank Sinatra “The Girl From Ipanema”.

Neste mesmo ano, João Gilberto lançava seu segundo álbum, O Amor, O Sorriso e a Flor, dando sequência à estreia magistral de Chega de Saudade, lançado um ano antes.

João Gilberto estava, simplesmente, lapidando as pedras fundamentais do estilo, com participação de Tom Jobim nos arranjos.

A terceira e última parte desta trilogia viria em 1961, com o álbum homônimo. Neste contexto, músicos americanos vieram ao Brasil na mesma época para shows e foram devidamente apresentados à Bossa Nova.

Gente como Ella Fitzgerald e o flautista Herbie Mann sacaram que ali estava um primo tropical do Jazz, algo novo, refrescante e absolutamente capaz de ser apreciado na América.

Em 1962, o disc-jockey de Washington DC, Felix Grant, veio ao Rio e voltou abastecido de LP’s de Bossa Nova, que ele incluiu sem mais delongas em seu programa de rádio. Como o programa de Felix tinha grande penetração entre os músicos e os amantes do Jazz, em pouco tempo a Bossa Nova estaria na ordem do dia.

O Jazz enfrentava uma crise. Era um ritmo essencialmente relacionado à juventude e esta caíra de amores pelo Rock. Mais simples, mais direto, com letra, atitude e discurso empacotados, o novo ritmo vencera as improvisações e metáforas sonoras jazzísticas.

A Bossa Nova surgia como uma possibilidade de renovação do Jazz e sua popularização, algo que se tornara quase impossível naqueles dias.

O primeiro grande disco de um músico americano a se utilizar da linguagem do novo estilo foi Jazz Samba, lançado pelo saxfonista Stan Getz e o guitarrista Charlie Byrd. Dos sete temas do álbum, dois são de Tom (Desafinado, Samba de Uma Nota Só), dois de Ary Barroso (Bahia e É Luxo Só), além da parceria de Billy Blanco e Baden Powell (Samba Triste) e o clássico total O Pato, de Jayme Silva e Neuza Teixeira.

Charlie Byrd assina Samba Dees Days como a única canção não-brasileira a integrar o álbum. O sucesso foi estrondoso e a notícia chegou aos músicos brasileiros, que decidiram ver o que acontecia por lá.

A nova onda musical também chamou a atenção dos empresários americanos e logo estava organizado um show no Carnegie Hall, em Nova York, com artistas minimamente relacionados ao estilo. Além deles estavam os pais da matéria, Tom, João, Carlos Lyra, Newton Mendonça, Luis Bonfá, Sérgio Mendes, Roberto Menescal e Agostinho dos Santos, famoso pela participação na trilha de Orfeu da Conceição, cantando Manhã de Carnaval, canção que abria o filme. O show fracassou mas serviu para consolidar a Bossa Nova como um fenômeno de ares Pop, sendo conhecida por lá como “New Beat”.

Logo o ritmo foi entendido e vendido como algo moderníssimo, também associado à imagem do casal Jackie e John Kennedy, num engenhoso mecanismo de renovação político/social/cultural.

Novos discos de interpretações de canções de artistas brasileiros continuaram a surgir, até que o próprio Tom Jobim, incomodado com as versões em inglês das letras, se deu conta que nenhum músico daqui havia assinado um álbum solo por lá.

Em pouco tempo surgia o essencial The Composer Of Desafinado Plays, apenas com instrumentais belos, leves, arejados e praianos, algo absolutamente melhor e mais apropriado que as versões gringas para as canções da Bossa, com o violão de João Gilberto, algo que fazia total diferença. O reconhecimento veio na forma do Grammy de melhor álbum de 1963 e abriu as portas para este disco cinquentão sobre o qual estamos escrevendo.

Em 1964, Astrud Gilberto & Stan Getz surgiram como um trovão nas paradas de sucesso, apesar de sua sonoridade limpa e tranquila. A alternativa para o Jazz, hermético, intrincado, surgia em forma de música bela e leve, mas de inegável valor artístico.

Este, aliás, era o grande fato que encantava público e músicos americanos: a Bossa Nova era algo inegavelmente “fácil”, melódico, mas também era virtuoso e “artístico” o suficiente para ostentar a aura revolucionária e libertária que o Jazz sempre levou adiante.

Mesmo que vários imitadores e caronistas tenham surgido entre 1961 e 1964, a parceria entre Stan Getz e João Gilberto, escudado por Tom Jobim e Astrud Gilberto, permanece não afetada pela ação do tempo.

O disco levaria o Grammy de Melhor Álbum do ano seguinte, bem como os prêmios de Melhor Álbum de Jazz, Melhor Engenharia de Som e a versão com letra em inglês para Garota de Ipanema seria premiada como Gravação do Ano.

Somente em 2008 um outro álbum de Jazz ganharia o Grammy de Melhor do Ano, no caso, River, The Joni Letters, de Herbie Hancock. A revistas Vibe e Rolling Stone incluíram o álbum entre os 500 mais importantes do século XX.

Poucos sabem que a dupla lançou outro disco em 1966, Getz/Gilberto #2, trazendo uma compilação de gravações ao vivo no Carnegie Hall, feitas em 1964, com um lado para cada estilo, cabendo à Bossa Nova, o lado B, com versões em inglês de standards como O Pato, Corcovado, Você e Eu e a indefectível Garota de Ipanema.

A parceria entre ambos também daria mais um fruto em 1976, com o lançamento de The Best Of Both Worlds, nos mesmos moldes de trabalho colaborativo, letras em inglês e instrumental totalmente jazzístico.

O álbum de 1964, no entanto, permanece intacto. Recebeu uma edição especial de 50 anos, com as versões em estéreo e mono das gravações imaculadas. É obrigatório para qualquer amante de música minimamente sério.

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