História do Cacau: Origens, Expansão e Impacto Econômico

Quando os primeiros colonizadores espanhóis chegaram à América, o cacau já era cultivado pelos índios, principalmente os astecas, no México, e os maias, na América Central.

De acordo com os historiadores, o cacaueiro, chamado cacahualt, era considerado sagrado.

cacaueiro
cacaueiro

No México, os astecas acreditavam que ele tinha origem divina e que o próprio profeta Quetzalcóatl ensinara ao povo como cultivá-lo, tanto para alimentação quanto para embelezar os jardins da cidade de Tetzapotlapan. Seu cultivo era acompanhado de solenes cerimônias religiosas.

Esse significado religioso provavelmente influenciou o botânico sueco Carolus Linnaeus (1707–1778), que denominou a planta Theobroma cacao, chamando-a de “manjar dos deuses”.

Os índios consideravam as sementes de cacau tão valiosas que as usavam como moeda. Quatrocentas sementes valiam um countle, e 8.000 sementes, um xiquipil.

amêndoas de cacau
amêndoas de cacau

O imperador Montezuma costumava receber anualmente 200 xiquipils (1,6 milhão de sementes) como tributo da cidade de Tabasco, o que corresponderia hoje a aproximadamente 30 sacas de 60 quilos.

Diz-se que até um bom escravo podia ser trocado por 100 sementes.

Ainda sobre o uso do cacau como moeda, Peter Martyr d’Anghiera escreveu em 1530, no livro De Orbe Novo Petri Martyres ab Algeria:

“Abençoado dinheiro, que fornece uma doce bebida e é benefício para a humanidade, protegendo seus possuidores contra a infernal peste da cobiça, pois não pode ser acumulado por muito tempo nem escondido nos subterrâneos.”

Vídeo sobre a história do cacau

História do Cacau: Origens, Expansão e Impacto Econômico

1. O Cacaueiro: A Árvore dos Frutos de Ouro

O cacaueiro, Theobroma cacao, é a planta da qual se origina o cacau, fruto de grande importância econômica. Ele pertence à família Malvaceae e ao gênero Theobroma. O cacaueiro ocorre principalmente no Brasil nas regiões norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará e Rondônia), nordeste (Bahia, Maranhão e Sergipe) e sudeste (Espírito Santo).

O cacau é o fruto do cacaueiro (Theobroma cacao), uma planta originária da floresta tropical úmida americana. No Brasil, ele pode ser encontrado principalmente nas florestas da Mata Atlântica, com destaque para os estados da Bahia e Espírito Santo.

Essa planta tem um valor comercial enorme e é muito explorada economicamente, pois suas sementes, após secas e processadas, são usadas na fabricação do chocolate.

O cacaueiro é originário de regiões de florestas pluviais da América Tropical, onde até hoje é encontrado em estado silvestre, desde o Peru até o México. Ele é classificado no gênero Theobroma, pertencente à família das Esterculiáceas.

Foi citado pela primeira vez na literatura botânica por Charles de l’Ecluse, que o descreveu sob o nome de Cacao fructus. Em 1937, foi descrito como Theobroma fructus por Linneu, que em 1753 propôs o nome Theobroma cacao, nome que permanece até hoje.

Os botânicos acreditam que o cacau é originário das cabeceiras do rio Amazonas, expandindo-se em duas direções principais, originando dois grupos importantes: Criollo e Forastero.

O Criollo, que se espalhou em direção ao norte, para o rio Orinoco, penetrando na América Central e sul do México, produz frutos grandes, com superfície enrugada. Suas sementes são grandes, com o interior branco ou violeta pálido. Foi o tipo de cacau cultivado pelos índios Astecas e Maias.

O Forastero espalhou-se pela bacia amazônica e em direção às Guianas. É considerado o verdadeiro cacau brasileiro e se caracteriza por frutos ovóides, com superfície lisa, imperceptivelmente sulcada ou enrugada. O interior de suas sementes é violeta escuro ou, algumas vezes, quase preto.

Para se desenvolver melhor, o cacaueiro exige solos profundos e ricos e um clima quente e úmido, com temperatura média de cerca de 25°C e precipitação anual entre 1.500 e 2.000 milímetros, sem períodos secos prolongados.

2. A Longa Viagem do Cacau

À medida que o cacau ia ganhando importância econômica com a expansão do consumo de chocolate, várias tentativas foram feitas para implantar a lavoura cacaueira em outras regiões com condições de clima e solo semelhantes às do seu habitat natural.

Como consequência, suas sementes foram sendo disseminadas gradualmente pelo mundo. Em meados do século XVIII, o cacau tinha atingido o Sul da Bahia e, na segunda metade do século XIX, foi levado para a África.

As primeiras plantações africanas foram feitas por volta de 1855, nas ilhas de São Tomé e Príncipe, colônias portuguesas ao largo da costa ocidental africana.

Oficialmente, o cultivo do cacau começou no Brasil em 1679, através da Carta Régia, que autorizava os colonizadores a plantá-lo em suas terras.

Várias tentativas feitas no Pará fracassaram, principalmente devido à pobreza dos solos daquela região. Apesar disso, por volta de 1780, o Pará produzia mais de 100 arrobas de cacau.

O cultivo, entretanto, não se consolidou naquela época e permaneceu uma atividade extrativa até anos recentes.

3. Cacau: Uma Riqueza Gerando Divisas

Em 1746, Antônio Dias Ribeiro, da Bahia, recebeu algumas sementes do grupo Amelonado – Forastero de um colonizador francês, Luiz Frederico Warneau, do Pará, e introduziu o cultivo na Bahia.

O primeiro plantio nesse estado foi feito na Fazenda Cubículo, às margens do Rio Pardo, no atual município de Canavieiras. Em 1752, foram feitos plantios no município de Ilhéus.

O cacau se adaptou bem ao clima e solo do Sul da Bahia, região que produz hoje 95% do cacau brasileiro, ficando o Espírito Santo com 3,5% e a Amazônia com 1,5%.

O Brasil é o 5º maior produtor de cacau do mundo, ao lado de Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. Em 1979/80, a produção brasileira de cacau ultrapassou 310 mil toneladas.

Cerca de 90% de todo o cacau brasileiro é exportado, gerando divisas para o país. No período 1975-1980, o cacau gerou 3 bilhões e 618 milhões de dólares.

4. Cacau e Chocolate

O mundo civilizado só tomou conhecimento da existência do cacau e do chocolate depois que Cristóvão Colombo descobriu a América.

Até então, eram privilégio dos índios que viviam no sul do México, América Central e bacia amazônica, onde o cacau crescia naturalmente em meio à floresta.

Hoje, quase 5 séculos depois, derivados do cacau são consumidos em muitas formas, em quase todos os países, e fazem parte da vida do homem moderno.

Estão presentes em todos os lugares:

  • Nas mochilas dos soldados e nas bolsas dos estudantes, em barras de chocolate altamente nutritivas;
  • Nos salões de beleza, em formas variadas de cosméticos;
  • Em reuniões sociais, através de vinhos e licores.

Seus resíduos são utilizados como adubo e ração animal.

Saindo da floresta amazônica para conquistar o mundo, o cacau percorreu um longo caminho. Sua história, cercada de lendas, foi marcada por episódios curiosos:

  • Foi usado pelos Astecas como moeda;
  • Provocou discussões religiosas sobre seu uso em conventos devido às suas supostas propriedades afrodisíacas;
  • Foi, por muito tempo, uma bebida exclusiva das mais faustosas cortes da Europa.

Suas sementes, levadas para outras regiões e continentes, formaram grandes plantações, que hoje representam uma importante fonte de trabalho e renda para milhões de pessoas.

4.1. Valor Energético do Chocolate

O chocolate é um dos alimentos mais balanceados que existem, contendo uma associação equilibrada de cacau, leite e açúcar.

Devido ao seu alto índice de carboidratos e gorduras, o chocolate apresenta uma quantidade significativa de proteínas.

Um tablete de 100 gramas equivale a:

  • 6 ovos;
  • 3 copos de leite;
  • 220 gramas de pão branco;
  • 750 gramas de peixe;
  • 450 gramas de carne bovina.

4.2. USO MÚLTIPLO DO CACAU

  • Muito além do Chocolate

Cacau lembra chocolate. Sempre foi assim, desde os astecas, que em suas cerimônias religiosas incluíam o chocolate. Agora, do fruto do cacaueiro, começa a se industrializar também o suco de cacau, a partir da extração de sua polpa.

Com a polpa de cacau, pode-se ainda fazer geléias, destilados finos, fermentados – a exemplo do vinho e do vinagre – e xaropes para confeito, além de néctares, sorvetes, doces e uso para iogurtes. Existe um mercado amplo e imediato, principalmente para o suco de cacau, tanto no país como no exterior.

  • Pesquisa dá Lucro

Pesquisas desenvolvidas pelo MA/CEPLAC começam a gerar, recentemente, tecnologias capazes de otimizar a produção cacaueira, através do aproveitamento integral dos subprodutos e resíduos da pós-colheita.

Este programa, além de contribuir para diversificar a receita das propriedades rurais, pode resultar em incremento significativo da renda líquida do produtor de cacau, tornando-o menos dependente das flutuações do mercado externo, que regula o preço do produto.

  • Semente do cacau vale ouro

O cacaueiro sempre foi cultivado para aproveitar apenas as sementes de seus frutos, que são a matéria-prima da indústria chocolateira. As sementes secas representam no máximo 10% do peso do fruto do cacaueiro.

Apenas recentemente, os 90% restantes começaram a despertar o interesse dos produtores, a partir de estudos desenvolvidos por técnicos do MA/CEPLAC. Uma tonelada de cacau seco, por exemplo, representa de 400 a 425 Kg de polpa integral.

  • A casca do cacau também tem uso

A casca do fruto do cacaueiro também pode ter aproveitamento econômico, conforme atestam pesquisas de técnicos do MA/CEPLAC.

Ela serve para alimentar bovinos, tanto in natura como na forma de farinha de casca seca ou de silagem, assim como para suínos, aves e até peixes.

A casca do fruto do cacaueiro pode ainda ser utilizada na produção de biogás e biofertilizante, no processo de compostagem ou vermicompostagem, na obtenção de proteína microbiana ou unicelular, na produção de álcool e na extração de pectina. Uma tonelada de cacau seco produz 8 toneladas de casca fresca.

  • Um sabor exótico do cacau

O suco de cacau possui sabor bem característico, considerado exótico e muito agradável ao paladar, assemelhando-se ao suco de outras frutas tropicais, como o bacuri, cupuaçu, graviola, acerola e taperebá.

É fibroso e rico em açúcares (glicose, frutose e sacarose) e também em pectina. Em termos de proteína e de algumas vitaminas, é equivalente aos sucos de acerola, goiaba e umbu. Algumas das substâncias que compõem o suco de cacau conferem-lhe uma alta viscosidade e aspecto pastoso.

  • De mãos dadas

Estimular a produção de suco de cacau e a abertura de mercados para o produtor, através da soma de esforços e diluição de custos.

Estas são, em síntese, as ações que os produtores de cacau objetivam com a criação da sua Associação de Produtores de Polpa e Frutas do Vale do Rio das Contas.

O CEPLAC apoia esta iniciativa e, inclusive, copatrocinou na região cacaueira baiana um workshop sobre “A retomada do Pólo Agroindustrial do Vale do Rio de Contas“.

A Aprosuco tem sede (em instalação) na própria região cacaueira, na cidade de Ipiaú.

Subprodutos de cacau com referência a uma produtividade anual de 750 Kg do produto seco por hectare:

Subprodutos Rendimentos
Cacau seco 750 Kg
Semente seca 100 Kg
Mel de cacau 200 litros
Geléia 150 Kg
Vinagre 180 litros
Destilado 25 litros
Polpa 300 a 400 litros
Suco congelado 300 a 400 litros
Néctar 600 a 800 litros
Geleiado 200 a 300 litros

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