A Festa de Nossa Senhora das Candeias em Candeias

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A cidade de Candeias, situada na Baía de Todos os Santos, atrai milhares de fiéis e foliões todos os anos durante a festa religiosa de Nossa Senhora das Candeias, uma celebração que mistura o sagrado e o profano, regada a muita alegria e animação.

A colonização da região começou no século XVI, a partir das sesmarias que originaram o engenho de Matoim, de propriedade da família Antunes, e os engenhos do Caboto e da Freguesia. Todos sofreram grandes revezes durante a invasão dos holandeses, que atearam fogo às plantações.

Igreja Nossa Senhora de Candeias
Igreja Nossa Senhora de Candeias

O povoado surgiu por volta de 1640, quando os jesuítas montaram o Engenho Pitanga e construíram uma capela em louvor à Virgem Maria. Naquela época, correu a notícia de que uma mulher cega voltou a enxergar após banhar-se nas águas de um riachinho próximo ao engenho dos padres.

O suposto milagre atraiu muita gente e o vilarejo cresceu em volta do córrego, que, depois de canalizado, se transformou na Fonte dos Milagres. A ampliação da capela deu origem à Igreja Matriz de Nossa Senhora das Candeias.

O lugar ficou conhecido como Candeias, um local de religiosidade e romarias, com uma população formada principalmente por artesãos e santeiros, quadro que permaneceu inalterado ao longo dos séculos seguintes.

Candeias atrai milhares de fiéis todos os anos
Candeias atrai milhares de fiéis todos os anos

A partir de 1941, com a descoberta dos poços de petróleo e a presença da Petrobras na região, o perfil do povoado alterou-se.

A oferta de empregos fez com que a população aumentasse o suficiente para que o vilarejo ganhasse o status de município emancipado em 1958. Como as demais cidades do Recôncavo, Candeias conserva resquícios da colonização e suas festas atraem multidões.

Veja o mapa da Baía de Todos os Santos

História de Candeias BA

A origem do município de Candeias remonta a meados do século XVI, a partir das terras conhecidas como Matoim, uma sesmaria importante, pois abrigava os Engenhos de Caboto e da Freguesia de Nossa Senhora de Encarnação do Passé.

O nome Candeias vem da devoção à Virgem da Candelária, também chamada de Nossa Senhora das Candeias. A tradição oral sugere outra explicação: a abundância da madeira chamada candeia, usada pelos romeiros para fazer tochas ao subirem o despenhadeiro em direção à Igreja Matriz.

A região viveu o auge do ciclo da cana-de-açúcar, fundamental na formação da Bahia e do Recôncavo, moldando sua estrutura ética, cultural e socioeconômica. Próximo ao Engenho Freguesia, surgiu o lugarejo de Caboto, com foco no transporte de açúcar, comércio e pesca. Os engenhos marcaram o florescimento da economia açucareira, especialmente na década de 1560.

Em Passé, o distrito abriga a Igreja de Nossa Senhora da Encarnação do Passé, uma das mais antigas da Bahia, representando a transição entre capelas rurais e igrejas do final do século XVII.

Com o crescimento da lavoura açucareira, houve um aumento no número de engenhos e lugarejos na região.

A introdução da máquina a vapor impulsionou a criação de usinas, transformando a realidade local, e muitos senhores de engenho acabaram vendendo ou abandonando suas propriedades.

No início do século XX, floresceu a Usina Pitanga em Nossa Senhora das Candeias, conectada à capital pela linha ferroviária. Um fato marcante desse período foi o relato de uma criança cega que teria se curado ao se banhar nas águas da Fonte dos Milagres, próxima à igreja.

A partir desse episódio, o arraial de Nossa Senhora das Candeias passou a ser visitado por romeiros oriundos de todo o Recôncavo Baiano. Esse ritual se repetia ano após ano, com as visitas dos romeiros, modificando totalmente a realidade da vila.

Os romeiros utilizavam as casas dos moradores, que se transformavam em pensões, oferecendo refeições e descanso. O comércio floresceu com a venda de refeições, lembranças religiosas e fogos.

Os habitantes comercializavam até amostras do solo da cidade, pois os romeiros acreditavam que, após a bênção na Igreja de Nossa Senhora das Candeias, essa lembrança adquiria efeitos curativos.

Eram também vendidas garrafas de água da Fonte dos Milagres, que os romeiros disputavam avidamente para levar como lembrança.

A cidade industrial, que nasceu com os engenhos, ganhou seu contorno atual graças às atividades de prospecção e refino de petróleo.

A cidade possui uma topografia irregular, com muitas ladeiras no centro e nos bairros, e um território ao sul semelhante ao da Grécia Antiga, com áreas entrecortadas que facilitaram a criação de vários portos. A localidade consolidou-se como um centro importante no Recôncavo.

A verdadeira mudança, no entanto, aconteceu em 1941, quando foi descoberta a existência de petróleo no município, nas propriedades dos fazendeiros locais.

Em 1930, dois baianos abnegados, Manoel Bastos, topógrafo, engenheiro civil e pesquisador autodidata em geologia, e Oscar Cordeiro, então presidente da bolsa de mercadorias da Bahia, acreditavam na existência de petróleo na Bahia. Eles persistiram até que o ouro negro jorrou no Lobato, subúrbio de Salvador, sem grande êxito inicial. No entanto, o petróleo se manifestou de fato em Candeias.

Após o primeiro sinal em Lobato, os extratores decidiram ir atrás da acumulação em Candeias.

A mesma sonda utilizada no poço de Lobato, a Nº 04 Oilwell, movida a diesel, foi deslocada para Candeias, chegando em uma carreta com guincho e com a ajuda de várias juntas de bois. A perfuração foi realizada na Fazenda São Paulinho, propriedade do Coronel José Barbosa Ferreira, e no dia 29 de junho de 1941, jorrou o ouro negro, resultando no nascimento do poço C-01 (Candeias-01), o primeiro poço comercial de petróleo do Brasil.

Esse fato atraiu a atenção do então presidente da República, Getúlio Vargas, que visitou a cidade em 23 de junho de 1952 e exibiu, em uma foto histórica, sua mão suja de petróleo.

A partir desse momento, o arraial foi completamente modificado. A vila foi invadida por grupos de trabalhadores, qualificados ou não, vindos de todas as partes. Os bois foram utilizados para puxar as sondas petrolíferas, e assim nasceu a cidade de Candeias.

Finalmente, em 14 de agosto de 1958, Candeias foi emancipada de Salvador, e essa data é comemorada todos os anos no município.

Pontos Turísticos de Candeias BA

1. Igreja Matriz Nossa Senhora das Candeias

A igreja construída em 1894 pertence aos frades franciscanos menores. Nossa Senhora das Candeias, associada à fertilidade, à purificação pela água, à iluminação pelo fogo e ao culto a Iemanjá, é festejada no dia 2 de fevereiro, juntamente com o grito de carnaval.

A festa religiosa de Nossa Senhora das Candeias, que atinge seu ponto alto nessa data, atrai milhares de fiéis e foliões todos os anos, em uma mistura de sagrado e profano, regada a muita alegria e animação.

Os festejos são também famosos na Micareta local, ao som dos trios elétricos.

2. Central de Abastecimento de Candeias

O mercado popular de alimentos também vende artesanatos. O lugar é excelente para conhecer as particularidades gastronômicas da região e garimpar um presente original.

3. Engenho da Freguesia – Museu Wanderley de Pinho

O conjunto arquitetônico tombado é também conhecido como Engenho da Fábrica, pois, além das construções da casa grande, da senzala e da capela, conforme os modelos do século XVIII, ali funcionava uma fábrica de açúcar.

Engenho da Freguesia - Museu Wanderley de Pinho
Engenho da Freguesia – Museu Wanderley de Pinho

O engenho pertenceu ao Barão de Cotegipe (1815-1889) e foi herdado por seu neto, José Wanderley de Araújo Pinho, patrono do museu que hoje ali funciona. O acervo do museu é composto por pinturas, esculturas, porcelanas, mobiliário e maquinário utilizado na lavoura.

O engenho localiza-se na Baía de Aratu, em meio à Mata Atlântica, na área de preservação ambiental.

História do Museu Wanderley Pinho em Candeias BA

4. Fonte dos Milagres e Santuário Nossa Senhora das Candeias

Junto à fonte, há uma grande movimentação de romeiros que chegam para pagar suas promessas. Há uma sala de ex-votos e, nos arredores, existe um comércio de artigos religiosos.

5. Engenho do Matoim

As primeiras construções da casa grande, senzala e igreja foram feitas pela família Antunes, agraciada com a sesmaria no ano de 1584. Essa família de cristãos-novos foi alvo da Inquisição no período de 1591 a 1595.

Segundo Angelo Adriano Faria de Assis, pesquisador da Universidade Federal Fluminense, na Revista Brasileira de História (2002), Heitor Antunes mantinha ativa uma sinagoga clandestina nas dependências do engenho.

Ao morrer, sua esposa Ana Rodrigues o enterrou segundo os rituais judaicos, ato que a levou à prisão, onde a já octogenária senhora veio a falecer. Mesmo após sua morte, foi julgada e condenada pelo Tribunal do Santo Ofício.

O engenho foi destruído pelos holandeses em 1624 e reconstruído no século XVIII pela família Rocha Pitta. O sobrado e a capela que restaram da propriedade, hoje tombados, estão abertos à visitação.

6. Igreja de Nossa Senhora da Encarnação de Passé

Localizado em um mirante natural com vista para a Baía de Todos os Santos, este templo do século XVII, hoje em ruínas, é considerado um dos maiores e mais antigos da Bahia.

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