Candomblé na Bahia, Origem e Religiosidade do Baiano

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Candomble na Bahia
Candomblé na Bahia, origem e religiosidade do baiano

O Candomblé é uma religião afro-brasileira que surgiu no século XIX, particularmente no Brasil, a partir da mistura de tradições religiosas africanas trazidas pelos escravizados, principalmente da região do atual Benin e Nigéria, com elementos do catolicismo e das tradições indígenas.

Sua origem remonta à resistência cultural dos africanos escravizados, que buscavam preservar suas crenças e práticas em meio à opressão e à tentativa de cristianização.

No Candomblé, os orixás, entidades divinas que representam forças da natureza e aspectos da vida humana, desempenham um papel central.

Os rituais incluem danças, cantos, oferendas e toques de tambores, que visam estabelecer uma comunicação com esses seres espirituais. Os terreiros, espaços sagrados onde as cerimônias acontecem, são centros de culto e de convivência comunitária.

A religião também desempenha um papel importante na formação da identidade cultural e étnica de muitos brasileiros, refletindo a rica diversidade da herança africana no país.

Ao longo dos anos, o Candomblé enfrentou desafios, incluindo a perseguição religiosa, mas continua a ser uma prática vibrante e respeitada na sociedade contemporânea.

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História e Origem do Candomblé

Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação.

Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticadas, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil.

O Candomblé tem grande valor prático para a vida diária, essa antiga religião dos escravos se contrapõe aos sistemas religiosos tradicionais, como o cristianismo e o budismo.

Terreiro de Candomblé
Terreiro de Candomblé

E sanciona identidades, porque todo indivíduo tem um Orixá a quem pertence, que define o comportamento e os desejos interiores de cada pessoa, sem fazer distinção entre o bem e o mal.

Em cada um de nós, pode haver o lado maternal de Oxum, a implicância de Nana ou a combatividade de Ogum.

Durante o ano todo acontecem festas de Candomblé na Bahia, cada Casa, cada nação (Keto ou Nagô, Ijexá, angola, Gêge, Cabinda, Congo etc.), cada grupo tem o seu ciclo.

E na mansidão e quietude do Orun, que estão em constante sintonia com o Ayé, confirmando o elo entre nós e os que se foram.

Candomblé é uma palavra de origem negro-africana que designa reunião de adeptos de culto, também conhecida em outras partes da América Latina, onde houve escravidão negra.

Estas reuniões de Candomblé se fazem em locais preparados para tais cerimônias, via de regra são realizadas em barracões rústicos e erguidas de acordo com certos preceitos: os cânticos são em geral em língua nagô, raras em português, e refletem o linguajar do povo.

Ao som de cânticos e danças, os atabaques constituem a base da música de percussão nos candomblés, que é mais do que um culto africano; faz parte de um dogma, de um culto e de uma moral, tendo seu clero, onde reúne os elementos construtivos de uma religião.

Quando os escravos africanos foram trazidos para o Brasil, a fim de trabalharem nas plantações, as autoridades portuguesas ordenaram que fossem batizados no prazo de seis meses, mas os negros continuaram a adorar os seus ídolos.

Os colonizadores não conseguiram fazê-los cristãos, pois eles agarravam-se às suas crenças e à sua . Quando eram libertados, levavam consigo a sua religião primitiva.

Finalmente catequizados de maneira vaga, eram batizados, mas, no entanto, nada compreendiam dessa religião que lhes ensinavam à força, e que confundia seus espíritos, pois o catolicismo se transformava, desde então, num meio de disfarce de suas crenças tradicionais.

Na realidade, o santo não era adorado, mas sim o Orixá correspondente.

Tudo não passava de uma fachada para esconder um ritual secreto.

A escravidão desenvolveu no negro um complexo de inferioridade, pois a religião predominante do branco fazia parte de uma cultura superior, ou seja: de senhores.

Enquanto o negro elevava sua crença de um plano inferior a um plano superior, tinha o sincretismo como um fenômeno de ascensão sempre desejado mais ou menos em surdina.

Por isso, os negros africanos limitavam-se a justapor os santos católicos aos deuses de suas crenças, considerando-os como de categoria igual, embora perfeitamente distintos.

O Candomblé tem as suas crenças, suas divindades, seus dignitários, seus fiéis, suas cerimônias de ritos muito complicados, seus lugares de culto, seus altares e seus objetos sagrados.

Os seus Orixás (divindades) do Candomblé personificam um fenômeno natural (tempestade, trovão, arco-íris, doença, etc.), uma atividade humana (caça, colheita, etc.) ou sentimentos (amizade, fidelidade, etc.).

O rei dessas divindades é Olorum, pai dos deuses, criador invisível e soberano, que transmitiu seus poderes aos Orixás, que dominam o mundo em seu nome, mas são um pouco maus, e convém evitar-lhes as cóleras.

Candomblé
Candomblé

Olorum tem dois filhos, Obatalá (céu) e Odudua (terra), sendo rodeado por uma corte de divindades que são os Orixás.

É impossível fixar uma data precisa para o início da introdução de escravos negros no Brasil, pois, por quase meio século antes do seu descobrimento, já existia o comércio de escravos africanos na Europa, com Portugal como sede.

Sendo a escravidão negra no Brasil contemporânea à sua colonização, seu grande tráfico iniciou-se pouco menos de 50 anos após o descobrimento do Brasil.

Esses migrantes involuntários trouxeram suas concepções de mundo, filosofia e religião: jejes, marrins, iorubas, fons, angolas, hausás, fantis, ashautis, malês, fulas, congos, entre outros.

São apenas algumas das raças mais representativas, cada qual com suas crenças.

Aqui, independentemente de cultura ou etnia, foram misturados conforme o interesse dos mercadores traficantes, espalhando-se pouco a pouco pelas senzalas da Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e, posteriormente, nos centros urbanos.

Durante mais de três séculos, homens, mulheres e crianças da raça negra, oriundos do continente africano, foram trazidos como escravos.

Até o advento da Lei Eusébio de Queiroz, promulgada em 4 de setembro de 1850, e mesmo alguns anos depois, integrantes de várias nações africanas vinham para o Brasil, trazendo consigo toda uma tradição cultural e religiosa que influenciou fortemente a formação do povo brasileiro.

Existem no Brasil diversos trabalhos publicados sobre a religiosidade africana, mas essas publicações, em sua maioria, são espécies de guias para aqueles que professam o Candomblé, a Pajelança e outros ramos da seita espiritual, sem, contudo, oferecer uma visão folclórica mais ampla sobre o Candomblé.

O etnólogo baiano Édison Carneiro, autor de vários estudos sobre o tema, como “Religiões Negras” (1936), “Candomblés da Bahia” (1948), e “Antologia do negro brasileiro” (1950), é até o momento a maior autoridade no assunto.

Muitos autores confundem a origem desses negros, classificando-os ora por tribos, ora por nomes genéticos, ou por simples portos de procedência.

A Circular do Ministério da Fazenda nº 29, de 13 de maio de 1891, assinada pelo então ministro Rui Barbosa, determinou a incineração de todos os documentos que diziam respeito à escravidão negra no Brasil, impedindo assim que estudiosos e pesquisadores descubram a verdadeira origem do negro brasileiro.

Devido à inexistência de documentos, os historiadores calculam: Visconde de Taunay estima que 3.600.000 negros foram trazidos para o Brasil, enquanto Roberto Simonsen calcula 3.300.000, e Maurício Goular entre 3.500.000 a 3.600.000, no período de 1538/1850.

Os dignitários dos candomblés gêge-nagô (pequenas nações negras da Costa dos Escravos, do grupo Iorube) e congo-angola reivindicam com orgulho sua ascendência africana, gabam a pureza de suas tradições e desprezam os candomblés dos caboclos, considerando-os misturas abomináveis, acusando-os de manchar os veneráveis ritos com práticas indígenas.

As cerimônias de Candomblé mais importantes são acompanhadas de danças, melopéias e oferendas de animais: carneiros, cabras, bodes e galinhas.

Essas cerimônias realizam-se no barracão, que muitas vezes é ornamentado com grinaldas e letreiros como “Viva Oula” ou “Viva Xangô”.

Os Orixás têm o direito de ser venerados todas as semanas, e nos dias determinados pela tradição, os filhos-de-santo apresentam iguarias aos seus feitiços, enchem as quartinhas com água fresca para o banho e levam os colares de pérolas do santo e suas cores.

O sincretismo é um fenômeno antigo, desde o início da colonização, já presente no quilombo dos Palmares, tanto nos gestos ou ritos quanto na semelhança entre os deuses africanos e os santos.

Esse fenômeno também é geral em toda a América Católica, sendo encontrado em países como Cuba e Haiti, onde o Orixá pode, ao mesmo tempo, ser um santo, e vice-versa. Aqui, eles se unem na mística africana e na mística católica.

A religião afro-descendente tende, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, devido à desorganização urbana, a tomar cada vez mais um aspecto de magia.

O sincretismo religioso no Brasil, especialmente no contexto do contato entre negros escravizados e o catolicismo, reflete uma adaptação cultural rica e complexa.

O negro escravizado, ao se deparar com as práticas religiosas dos senhores brancos, reconhecia a força atribuída às orações direcionadas aos santos católicos, especialmente para a cura de doenças ou a proteção contra infortúnios.

Os ex-votos presentes nas capelas, como sinais visíveis de milagres, também impactavam essa percepção. Isso permitiu que o negro africano reconhecesse a existência de uma força inegável na religião de seus opressores.

Contudo, o sincretismo manifestou-se de maneiras diferentes, dependendo das culturas e tradições dos povos que foram assimilados. A fusão de elementos religiosos não segue uma regra geral, mas varia conforme as tradições em contato.

Esse fenômeno se observa particularmente no Candomblé, onde os Orixás africanos são sincretizados com os santos católicos.

As festas de Candomblé possuem uma estrutura definida e cerimonial. Elas começam de madrugada com a matança, que consiste no sacrifício de animais em holocausto aos Orixás.

Essa parte da cerimônia tem um caráter reservado e íntimo, sendo restrita aos iniciados na religião.

As Iabás, ou cozinheiras, são responsáveis por preparar as carnes dos animais sacrificados, retirando os Erês (elementos menores) e organizando as oferendas com cuidado.

A comida, tanto as carnes quanto as comidas secas, é preparada especialmente para cada Orixá e disposta no assentamento, que é o local sagrado correspondente a cada divindade. Somente ao final da tarde, próximo ao crepúsculo, a cerimônia pública se inicia.

O barracão, onde ocorre a celebração, é enfeitado com folhas de coqueiro e bandeirolas de papel, criando um ambiente festivo e solene.

No centro do terreiro de Candomblé está o Padé de Exu, uma oferenda dedicada a Exu, que é o mensageiro dos Orixás e o mediador entre os seres humanos e os deuses.

Exu é sempre o primeiro a ser tratado em qualquer obrigação, pois sua função é garantir que a festa ocorra em paz e harmonia, além de proteger a porteira e impedir a entrada de espíritos malignos que possam atrapalhar o bom andamento do evento.

O Candomblé da Bahia é uma expressão religiosa profundamente enraizada na cultura baiana, refletindo a complexidade das crenças afro-brasileiras e sua interação com o catolicismo, compondo uma espiritualidade sincrética que influencia a religiosidade do povo baiano até os dias de hoje.

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