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O Cânion do Rio Poti, localizado na divisa entre os estados do Piauí e Ceará, é uma das paisagens mais impressionantes do Nordeste brasileiro. Este destino turístico ainda pouco explorado oferece aos visitantes uma combinação de beleza natural, aventura e história, sendo um local ideal para ecoturismo e atividades ao ar livre.
![Cânion do Rio Poti no Piauí Cânion do Rio Poti no Piauí](https://turismo.b-cdn.net/wp-content/uploads/2013/11/Canion-do-Rio-Poti-no-Piaui.webp)
O cânion do rio Poti é umas das feições naturais do Estado do Piauí, situado mais caracteristicamente nos municípios de Buriti dos Montes, Castelo do Piauí e Juazeiro do Piauí, com duas rotas de acesso: uma a partir de Juazeiro do Piauí e outra de Castelo do Piauí.
Vídeos – Documentário e Atrações Turísticas no Cânion do Rio Poti
Atrações Turísticas Principais do Cânion do Rio Poti
- O Cânion: O Cânion do Rio Poti se estende por cerca de 180 km, esculpido pelo Rio Poti ao longo de milhões de anos. As paredes rochosas chegam a alcançar 60 metros de altura em alguns trechos, criando um cenário dramático e deslumbrante. A região é marcada por formações rochosas impressionantes e pinturas rupestres que remontam à pré-história.
- Passeios de Caiaque: Uma das melhores maneiras de explorar o cânion é através de passeios de caiaque pelo Rio Poti. Esses passeios permitem que os visitantes deslizem por entre as paredes do cânion, apreciando a paisagem e a tranquilidade do ambiente. Durante o percurso, é possível fazer paradas para banhos de rio e para observar a fauna e flora locais.
- Trilhas e Caminhadas: Existem várias trilhas que levam os visitantes a pontos estratégicos com vistas panorâmicas do cânion. As trilhas variam em nível de dificuldade, desde caminhadas leves até rotas mais desafiadoras que incluem subidas e descidas íngremes. Algumas das trilhas também passam por áreas com pinturas rupestres e sítios arqueológicos.
- Pinturas Rupestres: Nas paredes do cânion, podem ser encontradas diversas pinturas rupestres, datadas de milhares de anos. Essas pinturas são testemunhos da presença de povos pré-históricos na região e representam uma parte importante do patrimônio cultural do Piauí.
- Mirante do Gritador: Localizado na cidade de Pedro II, o Mirante do Gritador oferece uma vista espetacular do cânion e das montanhas ao redor. É um excelente ponto para apreciar o pôr do sol e tirar fotos incríveis da paisagem.
- Cachoeiras: Em certas épocas do ano, especialmente durante a estação chuvosa, o Rio Poti forma cachoeiras ao longo de seu curso. Uma das mais conhecidas é a Cachoeira do Boi Morto, que é de fácil acesso e oferece um ótimo local para banho e contemplação.
Dicas de Visita
- Melhor Época para Visitar: A melhor época para visitar o Cânion do Rio Poti é durante a estação seca, de julho a dezembro, quando o nível do rio está mais baixo e as trilhas estão mais acessíveis. Durante a estação chuvosa, de janeiro a junho, o rio enche, o que pode dificultar o acesso a algumas áreas, mas também revela cachoeiras temporárias.
- Acesso: O cânion está localizado em uma área remota, e o acesso é geralmente feito a partir das cidades de Buriti dos Montes, no Piauí, ou Castelo do Piauí. O trecho final até o cânion pode requerer veículos 4×4, especialmente durante a estação chuvosa.
- Guias Locais: Recomenda-se fortemente a contratação de guias locais para explorar o cânion, tanto para garantir a segurança quanto para aproveitar ao máximo a visita, com informações sobre a geologia, a fauna, a flora e as pinturas rupestres.
- Hospedagem: As cidades próximas, como Pedro II e Castelo do Piauí, oferecem opções de hospedagem simples, como pousadas e pequenas fazendas que recebem turistas. Também é possível acampar em algumas áreas do cânion, para aqueles que buscam uma experiência mais próxima da natureza.
Atividades de Aventura
Além dos passeios de caiaque e das trilhas, o Cânion do Rio Poti é também um destino para esportes de aventura, como rapel, escalada e cicloturismo. A combinação dessas atividades com a paisagem única do cânion proporciona uma experiência inesquecível para os amantes da natureza e da adrenalina.
O Cânion do Rio Poti é um destino que ainda conserva um ar de lugar inexplorado, perfeito para aqueles que buscam uma experiência autêntica em meio à natureza selvagem e preservada do Nordeste brasileiro.
A bacia do rio Poti, em função da sua posição geográfica e do cânion, funcionou como um corredor migratório entre as planícies do Piauí e Maranhão e o semi-árido do Ceará, Pernambuco e Bahia.
As milhares de gravuras rupestres, confeccionadas em baixo relevo, por picoteamento, e outras tantas de pinturas rupestres em abrigos sob rochas comprovam que esta região foi, em tempos, uma rota migratória milenar dos primeiros habitantes das américas.
A longa história natural do Cânion do Rio Poti, entre o Ceará e o Piauí
Há cerca de cem milhões de anos, a América do Sul e a África, que faziam parte do megacontinente Pangea, se dividiram.
O Nordeste brasileiro foi a última parcela desse território a ser separado, e quase se individualiza como um continente à parte. Isso não ocorreu, mas os terrenos sofreram grandes esforços, foram deformados, falhados, fraturados.
A grande marca desse episódio de separação continental no Nordeste brasileiro foi o soerguimento dos terrenos no interior no continente: terrenos cristalinos e sedimentares foram lançados para cima, alçados a uma altitude talvez não muito superior a do topo dos relevos mais elevados da atualidade (cerca de mil metros).
De la para cá, o relevo, as paisagens naturais, vêm evoluindo a partir da erosão dessa superfície soerguida, comandada por climas secos – isto é, a erosão não é muito intensa, pois falta água para “destruir” as rochas.
No segmento ocidental do Estado do Ceará, na zona que hoje corresponde à divisa com o Estado do Piauí, esse soerguimento colocou terrenos sedimentares (os arenitos da Bacia Sedimentar do Parnaíba, bem antigos, de cerca de 430 milhões de anos) e terrenos cristalinos também antigos (de 2,2 bilhões de anos, formado por gnaisses e outras rochas metamórficas) lado a lado (Figura 1).
Tão logo isso aconteceu, os rios, que são os maiores escultores da superfície da Terra, aproveitando desníveis topográficos na superfície soerguida, começaram a cavar seus vales. Dentre esses rios, estava o antigo Rio Poti, que nasce na Serra dos Cariris Novos, no município de Quiterianópolis, situado ao sul de Crateús (CE).
Drena de sul para norte até a altura de Crateús, onde passa a fluir no sentido leste-oeste, para desaguar no Rio Parnaíba, em Teresina (PI). Ele tem uma extensão de aproximadamente 570 Km.
O Rio Poti começou a dissecar os terrenos sedimentares e cristalinos lá pelos idos de 90, 80 milhões de anos atrás. Vindo de sul para norte, ele encontrou uma falha geológica (área de ruptura entre rochas) nesses terrenos, encaixou-se na falha, e passou então a escoar de leste para oeste.
A grande surpresa que a natureza fez ao Rio Poti foi a seguinte: rapidamente ele “percebeu” que as rochas sedimentares eram mais resistentes ao processo de cavamento que as rochas cristalinas. Assim, o rio foi abrindo o vale com maior facilidade nos terrenos cristalinos, enquanto que nos terrenos sedimentares, resistentes, o vale que foi sendo aberto foi do tipo garganta (Figura 2).
Com o passar dos milhões de anos, o trabalho de cavamento do velho Rio Poti seguiu essa lógica: cavou mais no cristalino do que no sedimentar.
Enquanto cavava no cristalino, o rio ia aprofundando o vale no sedimentar, para que o leito do rio estivesse sempre no mesmo nível de altura topográfica. Vários afluentes surgiram no lado do cristalino, e foram ajudando no processo de alargamento do vale.
O resultado dessa longa história evolutiva foi que surgiu uma área deprimida no cristalino, enquanto o sedimentar foi ficando em ressalto (Figura 3).
Com a evolução no tempo desses processos erosivos, o resultado foi a formação do Cânion do Poti, o surgimento da Serra da Ibiapaba (que representa o contato desnivelado, o ressalto, entre cristalino e sedimentar) e a formação de uma ampla área rebaixada no sopé da Ibiapaba, que corresponde ao que chamamos de sertão.
A lógica da existência do Cânion do Poti, da Serra da Ibiapaba e do sertão (superfície de piso atual) é então uma só, a chamada “erosão diferencial”: os materiais mais resistentes ficaram pouco erodidos, na forma de garganta (cânion) ou elevação (Serra da Ibiapaba),e o material mais frágil ficou rebaixado e deprimido (o sertão) (Figura 4).
Assim termina a nossa história. De agora em diante, a tendência é que esse processo evolutivo avance, com recuo para oeste da Serra da Ibiapaba e eventual colapso das paredes do cânion no futuro (milhões de anos). Isso, se a sociedade não mudar o rumo da evolução.
Temos que torcer para que nunca pensem em fazer uma barragem no rio à jusante do cânion, como aconteceu em situações semelhantes em outras áreas do mundo e no nosso próprio País. Vamos zelar pela sobrevivência do nosso cânion.
O mapinha elaborado a partir de dados topográficos mostra a situação atual (Figura 5).
Guia Turístico do Cânion do Rio Poti