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O cânion do rio Poti é umas das feições naturais do Estado do Piauí, situado mais caracteristicamente nos municípios de Buriti dos Montes, Castelo do Piauí e Juazeiro do Piauí, com duas rotas de acesso: uma a partir de Juazeiro do Piauí e outra de Castelo do Piauí.
O Rio Poti, assim denominado desde 1760, nasceu Itaim-Açu, ao longo do qual foram instaladas fazendas doadas como sesmarias pela coroa portuguesa no século XVIII.
O Rio Poti percorre mais de 80 km em terras cearenses na direção norte até ser capturado por um sistema de falhas do lineamento Transbrasiliano, aprofundando seu leito como resultado da ação mecânica das águas sobre sedimentos da Formação Cabeças,
predominantemente.
O Lineamento Transbrasiliano corta o Brasil desde Sobral até o Mato Grosso.
O rio corta o sistema de serras da Ibiapaba e no trecho entre a Cachoeira da Lembrada e o Cânion da Pedalta é onde se estabelece o Cânion do Rio Poti, embora o seu leito apresente-se escarpado também por outros trechos até sua foz em Teresina.
O melhor período para visitar a região é depois das chuvas entre julho e dezembro.
O local é indicado para prática de esportes de aventura como rapel, canoagem, ciclismo e trekking.
A nascente do rio Poti está instalada na Fazenda Jatobá, no município de Quiterianópolis, Ceará.
A bacia do rio Poti, em função da sua posição geográfica e do cânion, funcionou como um corredor migratório entre as planícies do Piauí e Maranhão e o semi-árido do Ceará, Pernambuco e Bahia.
As milhares de gravuras rupestres, confeccionadas em baixo relevo, por picoteamento, e outras tantas de pinturas rupestres em abrigos sob rochas comprovam que esta região foi, em tempos, uma rota migratória milenar dos primeiros habitantes das américas.
Estas são algumas das razões para o turista se apaixonar pelas belezas do cânion.
A paisagem, a trilha ancestral, as inscrições rupestres, a vegetação de transição entre a caatinga, o carrasco e o cerrado; o branco, o amarelo e vermelho dos paredões de arenito, bem como o conjunto da obra, credencia o formidável boqueirão a figurar entre os mais radicais e belos roteiros ecoturísticos do Brasil.
A longa história natural do Cânion do Rio Poti, entre o Ceará e o Piauí
Há cerca de cem milhões de anos, a América do Sul e a África, que faziam parte do megacontinente Pangea, se dividiram.
O Nordeste brasileiro foi a última parcela desse território a ser separado, e quase se individualiza como um continente à parte. Isso não ocorreu, mas os terrenos sofreram grandes esforços, foram deformados, falhados, fraturados.
A grande marca desse episódio de separação continental no Nordeste brasileiro foi o soerguimento dos terrenos no interior no continente: terrenos cristalinos e sedimentares foram lançados para cima, alçados a uma altitude talvez não muito superior a do topo dos relevos mais elevados da atualidade (cerca de mil metros).
De la para cá, o relevo, as paisagens naturais, vêm evoluindo a partir da erosão dessa superfície soerguida, comandada por climas secos – isto é, a erosão não é muito intensa, pois falta água para “destruir” as rochas.
No segmento ocidental do Estado do Ceará, na zona que hoje corresponde à divisa com o Estado do Piauí, esse soerguimento colocou terrenos sedimentares (os arenitos da Bacia Sedimentar do Parnaíba, bem antigos, de cerca de 430 milhões de anos) e terrenos cristalinos também antigos (de 2,2 bilhões de anos, formado por gnaisses e outras rochas metamórficas) lado a lado (Figura 1).
Tão logo isso aconteceu, os rios, que são os maiores escultores da superfície da Terra, aproveitando desníveis topográficos na superfície soerguida, começaram a cavar seus vales. Dentre esses rios, estava o antigo Rio Poti, que nasce na Serra dos Cariris Novos, no município de Quiterianópolis, situado ao sul de Crateús (CE).
Drena de sul para norte até a altura de Crateús, onde passa a fluir no sentido leste-oeste, para desaguar no Rio Parnaíba, em Teresina (PI). Ele tem uma extensão de aproximadamente 570 Km.
O Rio Poti começou a dissecar os terrenos sedimentares e cristalinos lá pelos idos de 90, 80 milhões de anos atrás. Vindo de sul para norte, ele encontrou uma falha geológica (área de ruptura entre rochas) nesses terrenos, encaixou-se na falha, e passou então a escoar de leste para oeste.
A grande surpresa que a natureza fez ao Rio Poti foi a seguinte: rapidamente ele “percebeu” que as rochas sedimentares eram mais resistentes ao processo de cavamento que as rochas cristalinas. Assim, o rio foi abrindo o vale com maior facilidade nos terrenos cristalinos, enquanto que nos terrenos sedimentares, resistentes, o vale que foi sendo aberto foi do tipo garganta (Figura 2).
Com o passar dos milhões de anos, o trabalho de cavamento do velho Rio Poti seguiu essa lógica: cavou mais no cristalino do que no sedimentar.
Enquanto cavava no cristalino, o rio ia aprofundando o vale no sedimentar, para que o leito do rio estivesse sempre no mesmo nível de altura topográfica. Vários afluentes surgiram no lado do cristalino, e foram ajudando no processo de alargamento do vale.
O resultado dessa longa história evolutiva foi que surgiu uma área deprimida no cristalino, enquanto o sedimentar foi ficando em ressalto (Figura 3).
Com a evolução no tempo desses processos erosivos, o resultado foi a formação do Cânion do Poti, o surgimento da Serra da Ibiapaba (que representa o contato desnivelado, o ressalto, entre cristalino e sedimentar) e a formação de uma ampla área rebaixada no sopé da Ibiapaba, que corresponde ao que chamamos de sertão.
A lógica da existência do Cânion do Poti, da Serra da Ibiapaba e do sertão (superfície de piso atual) é então uma só, a chamada “erosão diferencial”: os materiais mais resistentes ficaram pouco erodidos, na forma de garganta (cânion) ou elevação (Serra da Ibiapaba),e o material mais frágil ficou rebaixado e deprimido (o sertão) (Figura 4).
Assim termina a nossa história. De agora em diante, a tendência é que esse processo evolutivo avance, com recuo para oeste da Serra da Ibiapaba e eventual colapso das paredes do cânion no futuro (milhões de anos). Isso, se a sociedade não mudar o rumo da evolução.
Temos que torcer para que nunca pensem em fazer uma barragem no rio à jusante do cânion, como aconteceu em situações semelhantes em outras áreas do mundo e no nosso próprio País. Vamos zelar pela sobrevivência do nosso cânion.
O mapinha elaborado a partir de dados topográficos mostra a situação atual (Figura 5).
Guia de Turismo e Viagem do Piauí