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No Nordeste do Brasil, tanto a literatura de cordel quanto a xilogravura desempenham papéis culturais significativos e estão profundamente enraizadas nas tradições regionais.
Essa relação simbiótica entre a xilogravura e a literatura de cordel não apenas embeleza os folhetos, mas também amplifica o impacto cultural e educativo das histórias narradas.

Enquanto os textos de cordel oferecem conteúdo e narrativa, as xilogravuras proporcionam uma interpretação visual que torna o conteúdo mais acessível e atraente para o público. Juntas, essas formas de expressão preservam e transmitem as tradições e histórias da região, desempenhando um papel vital na manutenção da identidade cultural nordestina e na celebração da criatividade popular.
Vídeo sobre a Xilogravura
Xilogravura - como se faz?
Xilogravura - Literatura de Cordel
Xilogravura - Cordel07:40
Xilogravura - Ferramentas13:26
Impressão em xilogravura na madeira
Vamos explorar como essas duas formas de expressão artística se entrelaçam e influenciam a cultura nordestina:
Literatura de Cordel
- Origem e Desenvolvimento: A literatura de cordel tem suas raízes nas tradições populares do Nordeste, com influências de poemas e histórias europeias e africanas. Surgiu de forma mais estruturada no Brasil no século XIX e se tornou uma das principais formas de expressão popular na região.
- Características: Escrita em versos rimados e métricos, a literatura de cordel é conhecida por suas narrativas sobre heroísmo, lendas, eventos históricos e questões sociais. Os textos são frequentemente impressos em folhetos, pendurados em cordas (daí o nome “cordel”) e vendidos em feiras e mercados.
- Temas: Os temas abordados incluem desde romances e aventuras até críticas sociais e relatos de acontecimentos locais. É uma forma acessível de disseminar informações e cultura popular.
Xilogravura
- Origem e Desenvolvimento: A xilogravura chegou ao Brasil com os colonizadores portugueses e foi adaptada pelos artistas nordestinos para ilustrar a literatura de cordel. Essa técnica de gravura é amplamente utilizada para criar ilustrações que acompanham os versos dos folhetos de cordel.
- Características: Consiste em esculpir imagens em uma placa de madeira, que é então entintada e impressa em papel. As xilogravuras são reconhecidas por seu estilo gráfico distinto e suas imagens muitas vezes detalhadas e expressivas.
- Temas: As ilustrações muitas vezes retratam cenas dos textos de cordel, como figuras folclóricas, batalhas e eventos históricos, além de elementos decorativos que embelezam os folhetos.
Relação e Impacto no Nordeste
- Integração Cultural: A literatura de cordel e a xilogravura são inseparáveis no contexto nordestino. Os folhetos de cordel frequentemente utilizam xilogravuras para ilustrar e enriquecer os textos, criando uma forma de arte combinada que reflete a rica tradição cultural da região.
- Preservação de Tradições: Ambas as formas de expressão são fundamentais na preservação e transmissão da cultura popular do Nordeste. Elas documentam histórias, mitos e aspectos da vida cotidiana que poderiam se perder sem esses registros.
- Educação e Entretenimento: Servem como meio de educação e entretenimento para a população local, oferecendo uma forma acessível de aprender sobre a história, a cultura e as questões sociais da região.
Exemplos e Impacto
- Artistas Famosos: Artistas de destaque na xilogravura nordestina incluem o renomado xilógrafo e cordelista J. Borges, cuja obra é amplamente reconhecida por sua habilidade técnica e inovação estética.
- Eventos Culturais: Feiras e festivais dedicados à literatura de cordel e à xilogravura são comuns no Nordeste, celebrando e promovendo essas tradições.
Essas formas de expressão não só enriquecem a vida cultural do Nordeste, mas também desempenham um papel vital na formação da identidade regional e na perpetuação de suas tradições únicas.
História da xilogravura
Xilogravura é uma técnica de reprodução de imagens, e textos também, que se utiliza de uma matriz de madeira.
A matriz é entalhada à mão com um buril ou outro instrumento cortante. As partes altas que receberão a tinta são as que vão imprimir a imagem no papel.
A gravura mais antiga foi encontrada na China, era uma oração e data do ano de 868. Egípcios, indianos e persas a usavam para a estampagem de tecidos.
Mais tarde, foi utilizada como carimbo sobre folhas de papel para a impressão de orações budistas na China e no Japão.
No Ocidente, começa a ser usada no final da Idade Média (segunda metade do século XIV), ao ser empregada nas cartas de baralho e imagens sacras.
No século XV, pranchas de madeira eram gravadas com texto e imagem para a impressão de livros que, até então, eram escritos e ilustrados à mão.
Com os tipos móveis de Gutenberg, as xilogravuras passaram a ser utilizadas somente para as ilustrações.
No Brasil, a xilogravura chega com a mudança da Família Real portuguesa para o Rio de Janeiro.
Os primeiros xilogravadores apareceram depois de 1808 e se alastraram principalmente pelas capitais, produzindo cartas de baralho, ilustrações para anúncios, livros e periódicos, rótulos, etc.
O primeiro folheto de cordel impresso, ou mais antigo, que se tem notícia é de autoria de Leandro Gomes de Barros (1865-1918).
A xilogravura foi usada por muito tempo para ilustrações de periódicos como jornais.
Um exemplo disso é o Jornal Mossoroense (RN). Um dos mais antigos jornais em atividade no Brasil, continha xilogravuras como vinheta e ilustrações, elaboradas por seu dono João da Escóssia, considerado por isso, o primeiro xilógrafo potiguar.
A xilogravura popular nordestina ganhou fama pela qualidade e originalidade de seus artistas. Hoje em dia, muitos gravadores nordestinos vendem suas gravuras soltas além de continuarem a produzir ilustrações para as capas dos cordéis.
Quase todos os xilógrafos populares brasileiros, principalmente no Nordeste do país, provêm do cordel.
Entre os mais importantes presentes no acervo da Galeria Brasiliana estão: Abraão Batista, José Costa Leite, J. Borges, Amaro Francisco, José Lourenço e Gilvan Samico.
José Francisco Borges, considerado um dos mais importantes nomes da gravura popular brasileira, fez sua primeira xilogravura para o folheto “O Verdadeiro aviso de Frei Damião (sobre os castigos que vêm)”, também de sua autoria.
Em quase 40 anos de carreira, J. Borges escreveu mais de 200 cordéis, que, com exceção do primeiro, foram ilustrados por ele próprio.
O artista destaca a gravura “A chegada da prostituta no céu”, de 1976, como sua obra mais famosa. Sua obra retrata o cotidiano do homem do Nordeste, a cultura e o folclore e a luta do povo na vida do sertão. Outro tema frequente no cordel e gravuras de J. Borges é o cangaço.
Xilogravura e Literatura de Cordel: A Arte e Tradição Popular do Nordeste