Estrada Real – História, Caminhos e Atrações Turísticas

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Nos primórdios da exploração da região do ouro, em fins do século XVII, uma longa picada ligava os arraiais mineradores ao porto de Paraty, atravessando a serra da Mantiqueira.

A jornada levava três meses.

Em 1698, o bandeirante Garcia Rodrigues conseguiu autorização para abrir uma nova rota, que partia de Vila Rica (hoje Ouro Preto) em direção ao Rio de Janeiro, passando pela atual Juiz de Fora – o chamado Caminho Novo, como ficou conhecido.

Estrada Real
Estrada Real

A Coroa portuguesa controlava com mão-de-ferro o fluxo de metal de sua colônia, e tanto o Caminho Novo como o Velho só podiam ser trilhados sob seu conhecimento; abrir novas estradas era crime de lesa-majestade.

Com a exaustão das minas, na virada para o século XIX, a Estrada Real foi perdendo sua solenidade.

Somente após a Independência do Brasil (1822) é que as antigas “estradas reais” ficaram livres para trânsito. A elas foram se encontrando estradas ordinárias, tendo alguns trechos caído em desuso e desaparecido, engolidos pelo tempo e pelas matas.

Outros trechos viraram meros caminhos rurais, leitos de estradas de rodagem e ferrovias.

Assim a história da Estrada Real meio que se “apagou”; muitos a percorriam sem ao menos saber que aqueles caminhos foram palco de tantas histórias. Estas histórias começaram a ser resgatadas somente no final do séc. XX, com o ressurgimento da Estrada Real, agora como produto turístico. 

Os caminhos oficiais receberam, assim, a designação genérica de Estrada Real.

Os dois antigos caminhos – e sua posterior extensão, entre Ouro Preto e Diamantina – estão sendo reestruturados hoje pelo Instituto Estrada Real, em parceria com o governo de Minas Gerais, com o objetivo de estimular o turismo na região.

Fazem parte do projeto 177 cidades ao longo de 1400 quilômetros, num trajeto que cruza montanhas, vales, chapadões, várzeas, matas e cerrados.

Dentro da Estrada Real há circuitos e roteiros regionais – a Trilha dos Inconfidentes, que reúne dezesseis cidades nas imediações de Tiradentes, por exemplo, ou circuito das Vilas e Fazendas, seleção de locais para hospedagem rural nas imediações de Congonhas.

Muitas das cidades que compõem a Estrada Real estão em processo de implantação e aprimoramento de sua infraestrutura turística; pequenos núcleos até agora alheios ao turismo convencional mobilizam-se para oferecer apoio e bons serviços aos novos visitantes.

Estrada Real
Estrada Real

Compensam as falhas da profissionalização incipiente com a riqueza de suas antigas construções, a beleza da paisagem de seu entorno e a comovente autenticidade de suas manifestações culturais.

Caminhos para conhecer as atrações turísticas da Estrada Real

1. Caminho Velho

Também chamado de Caminho do Ouro, foi o primeiro trajeto a ser criado pela coroa portuguesa e liga Ouro Preto a Paraty.

Algumas das cidades e distritos que fazem parte do Caminho Velho: Aiuruoca, Baependi, Bananal, Cachoeira Paulista, Carrancas, Caxambu, Delfim Moreira, Itamonte, Lambari, Lavras, Ouro Preto, Paraty, Queluz, São Luiz do Paraitinga, Tiradentes e Três Corações.

2. Caminho Novo

Criado para servir como um trajeto mais seguro ao porto do Rio de Janeiro, principalmente porque as cargas estavam sujeitas a ataques piratas na rota marítima entre Paraty e Rio.

Algumas das cidades e distritos que fazem parte do Caminho Novo: Antônio Carlos, Barbacena, Conceição de Ibitipoca, Inconfidência, Itatiaia, Juiz de Fora, Lima Duarte, Ouro Preto, Petrópolis, Rio de Janeiro e Santa Rita de Ibitipoca.

Caminho dos Diamantes
Caminho dos Diamantes

3. Caminho Sabarabuçu

Distrito de Ouro Preto, o lugar é cercado por esplêndidas paisagens de montanha e lendas que permeiam o imaginário popular.

Algumas das cidades e distritos que fazem parte do Caminho Sabarabuçu: Brumadinho, Caeté, Cocais, Morro Vermelho, Nova Lima, Ouro Preto e Sabará.

4. Caminho dos Diamantes

Criado para conectar a sede da Capitania, Ouro Preto, à principal cidade de exploração de diamantes, Diamantina.

Algumas das cidades e distritos que fazem parte do Caminho dos Diamantes: Alvinópolis, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Ipoema, Mariana, Milho Verde, Ouro Preto, Santa Bárbara, Santana do Riacho e Serra do Cipó. 

Historia da Estrada Real

O percurso da Estrada Real com seus 1400 km de extensão envolve mais de 200 municípios divididos em três estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

Mapa da Estrada Real
Mapa da Estrada Real

A rota da Estrada Real movimentou a economia do país por um período de mais de 150 anos.

Por esses caminhos o ouro e as pedras preciosas eram levados à corte do Rio de Janeiro. 

Neste período a ênfase econômica do Brasil estava em Minas Gerais, região que permaneceu desabitada de “cristãos até finais do século XVII”.

Foi a descoberta do ouro e dos diamantes que contribuiu decisivamente para atrair pessoas de diversas proveniências para a região, no intuito de um fácil enriquecimento com um investimento mínimo.

Após o período da ocupação do litoral brasileiro as expedições dos bandeirantes e sertanistas, nas últimas décadas do seiscentismo começaram as descobertas auríferas e o estabelecimento dos primeiros arraiais e núcleos populacionais. 

Uma grande quantidade de pessoas vindas de várias partes da colônia e da Europa começaram a ocupar essa região.

A Coroa Portuguesa tentou em 1705 impedir a entrada de estranhos na zona do ouro.

O auge da busca pelo ouro nas Minas Gerais deu-se na época colonial até meados do século XVIII.

O início do garimpo do ouro começou nas margens de riachos e beira dos rios, passou em seguida a ser extraído nas margens mais elevadas, já nas encostas das montanhas.

A busca pelo ouro e pelas pedras preciosas vai fazer surgir “os muitos caminhos” que levavam às minas, ampliando as Entradas deixadas pelos bandeirantes e os caminhos demarcados pelos indígenas.

Inúmeros caminhos foram construídos a partir do Rio de Janeiro para Minas, passando por São Paulo.

Devido à diversidade de caminhos, desvios e mudanças ocorridas ao longo do tempo, três caminhos foram delineados nos mapas:

  • Caminho Velho
  • Caminho Geral do Sertão
  • Caminho Novo

Assim, o chamado Caminho Velho compreende o maior dos itinerários da Estrada Real.

O Caminho Geral do Sertão, como ficou conhecido o antigo caminho dos paulistas, deu-se pelo empenho do bandeirante Fernão Dias Paes em sua última expedição (1674-1681).

Por esse caminho foi estabelecida a comunicação entre São Paulo de Piratininga às vilas do Vale do Paraíba – Mogi, Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá, atravessando a serra da Mantiqueira e cruzando o rio Grande no seu trecho oriental em direção ao rio das Velhas.

Pelo Caminho Velho, a duração da travessia de São Paulo a Ouro Preto ou a região do rio das Velhas era cerca de 74 dias de viagem. Saindo do Rio de Janeiro, passando por Paraty, a travessia durava cerca de 73 dias, isso compreendendo “35 dias de jornada e 38 de paradas.”

Mesmo com todas as dificuldades esse trajeto só deixou de ser amplamente utilizado quando adveio o Caminho Novo, que permitiu acesso rápido e ligeiro às minas.

O Caminho Novo é tido como a primeira estrada oficial brasileira.

A construção desse trajeto recebeu um forte apoio do Governador Artur de Sá e Meneses que, impressionado com as dificuldades encontradas na primeira viagem às minas de ouro, rapidamente encomendou outra estrada ao filho do caçador de esmeraldas Garcia Rodrigues Paes, que concluiu esta estrada em 1707.

No início do século XVIII a meados do século XIX, O Caminho Novo era o principal caminho do Ouro, dentre todos os caminhos coloniais e estradas do século XIX.

O caminho partindo do Rio de Janeiro em direção às minas, esse novo itinerário era percorrido em 10 a 12 dias, com suas 80 léguas ou 494 km.

O Caminho dos Diamantes, também chamado Caminho do Sabarabuçu, é um caminho destacado de maneira regional, dentro do âmbito da capitania das Minas Gerais.

A descoberta dos veios auríferos nas regiões do Serro Frio (cidade do Serro) e do Tijuco (Diamantina) causou o surgimento desse caminho.

O acesso a ele passou a ser muito concorrido. Por meio dessa rota chegava a partir de Vila Rica (Ouro Preto) pedras preciosas tão cobiçadas do Distrito Diamantino.

Dos traçados originais dos Caminhos do Ouro para as minas, poucos se mantiveram intactos.

A partir do Rio de Janeiro e de São Paulo, trechos foram transformados, principalmente em estradas de ferro, considerando-se as facilidades representadas para tais projetos pelas inúmeras gargantas localizadas nas serras do Mar e da Mantiqueira por onde passavam esses caminhos.

Outros trechos foram retrabalhados, surgindo novos traçados de estradas carroçáveis no século XIX, que deram lugar a rodovias do século XX.

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