Iemanjá: Conheça a Orixá e a Tradicional Festa em Salvador

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A festa de Iemanjá em Salvador da Bahia atrai milhares de baianos e turistas que lotam as praias do Rio Vermelho no dia 2 de fevereiro de todos os anos.

Iyemanjá, Yemanjá, Yemaya, Iemoja, ou Yemoja, é um orixá africano, cujo nome deriva da expressão iorubá “Yèyé omo ejá” (“Mãe cujos filhos são peixes”). Ela é identificada no jogo do merindilogun pelos odu ejibe e ossá, sendo representada material e imaterialmente no candomblé através do assentamento sagrado denominado igba yemanja.

Festa de Iemanjá no Rio Vermelho em Salvador BA
Festa de Iemanjá no Rio Vermelho

No Brasil, a orixá Iemanjá goza de grande popularidade entre os seguidores de religiões afro-brasileiras, e até por membros de religiões distintas.

Em Salvador, a festa de Iemanjá ocorre anualmente no dia 2 de fevereiro, sendo uma das maiores festas do país em homenagem à Iemanjá, a “Rainha do Mar”.

  • A celebração envolve milhares de pessoas, vestidas de branco, que saem em procissão até o templo principal, localizado próximo à foz do Rio Vermelho, onde depositam diversas oferendas, como espelhos, bijuterias, comidas, perfumes e outros agrados.

Outra festa importante dedicada a Iemanjá ocorre durante a passagem de ano no Rio de Janeiro, onde milhares de pessoas depositam oferendas no mar.

  • A celebração inclui também o tradicional “banho de pipoca” e o ritual de pular as sete ondas, que muitos praticam como forma de pedir sorte à orixá.

Na Umbanda, Iemanjá é considerada a divindade do mar e também a padroeira dos náufragos, sendo vista como a mãe de todas as cabeças humanas.

1. Os Vários Nomes de Iemanjá

Iemanjá ou Yemanjá, a Rainha do Mar, é reverenciada por diversos nomes, cada um carregando significados e histórias próprias. Entre eles, destacam-se Janaína, Inaê, e Princesa de Aiocá. O nome Aiocá evoca um reino de terras misteriosas, simbolizando a felicidade e a liberdade, e remete à nostalgia das origens africanas, evocando a saudade dos tempos em que se vivia livre nas florestas.

Embora o nome Janaína seja uma forma em português menos comum, ele também é associado a Iemanjá. Este nome surgiu durante o período da escravidão, como uma estratégia de sincretismo, permitindo que os africanos mantivessem suas práticas religiosas tradicionais, apesar da resistência dos senhores de escravos, que viam tais cultos como inaceitáveis.

Embora o uso de “Janaína” tenha diminuído ao longo do tempo, ele ainda ressoa em várias canções populares, que celebram “Janaína do Mar” e em cânticos litúrgicos, mantendo viva a conexão entre as tradições africanas e as expressões culturais contemporâneas.

Em 2 de fevereiro de 2010, pela primeira vez, uma escultura de uma sereia negra, criada pelo artista Washington Santana, foi escolhida para representar Iemanjá no grande presente da festa do Rio Vermelho, em homenagem à África e à religião afrodescendente.

Sereia negra para representar Iemanjá
Sereia negra para representar Iemanjá

2. Diferenças entre Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes

No Brasil, existe um sincretismo entre Nossa Senhora dos Navegantes, da religião católica, e a orixá Iemanjá, da mitologia africana. Embora ambas representem a proteção e a devoção às águas, elas têm origens e significados distintos.

  • Iemanjá é considerada a Rainha do Mar e é venerada por muitos como a mãe de todos os orixás. Sua imagem está associada à fertilidade, à proteção e à abundância, especialmente entre as comunidades de pescadores.
  • Nossa Senhora dos Navegantes, por outro lado, é uma figura central no catolicismo, simbolizando a proteção dos navegantes e pescadores. Ela é invocada para garantir segurança em viagens marítimas e bênçãos para as atividades pesqueiras.
Festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre
Festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre

Ambas as figuras são celebradas no dia 2 de fevereiro, em uma grande procissão fluvial que une devotos de diferentes tradições. Um dos maiores festejos em honra a Iemanjá ocorre em Porto Alegre, onde as festividades se fundem com as celebrações de Nossa Senhora dos Navegantes.

3. A festa de Iemanjá no Rio Vermelho

A tradicional Festa de Iemanjá em Salvador ocorre na praia do Rio Vermelho, todos os anos, no dia 2 de fevereiro. Nessa mesma data, Iemanjá é reverenciada em várias praias do Brasil, com oferendas como velas e flores lançadas ao mar em pequenos barcos artesanais.

A festa de Iemanjá no Rio Vermelho em Salvador BA
A festa de Iemanjá no Rio Vermelho em Salvador BA

Simultaneamente, acontece a festa católica na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, enquanto os terreiros de Candomblé e Umbanda realizam cerimônias nas praias, com espaços delimitados para seus rituais.

No Brasil, a versão de Iemanjá retratada por Pierre Verger representa a mãe que protege seus filhos a qualquer custo, uma mãe de vários filhos, ou vários peixes, que adora cuidar de crianças e animais domésticos.

4. Figura de  Iemanjá (Yemanjá)

No contexto histórico do sagrado, Yemanjá (ou Iémójá) é uma figura feminina central do candomblé, reverenciada como a rainha das águas salgadas, deusa do mar, grande mãe do povo iorubá e “mãe de todos os orixás”.

Originalmente, na África, seu culto era realizado às margens do rio Ogum. Yemanjá é o orixá dos Egbá, uma nação iorubá que se estabeleceu entre as regiões de Ifé e Ibadan, onde ainda existe o rio Yemójá. A saudação “Odoyá!” significa mãe do rio.

No Brasil, Yemanjá transformou-se na “senhora dos mares”, possivelmente devido à vasta extensão oceânica do país. No entanto, ela também é vista como a rainha dos lagos, das lagoas e da junção do rio com o mar.

Yemanjá é representada como uma figuração de sereia e de mulher, ao mesmo tempo guerreira e mãe, esposa e batalhadora.

Ela é um símbolo de sensualidade, com seus seios fartos e cabelos longos, associada à imagem de uma mãe protetora.

Yemanjá tem diversos nomes, que, como no caso de Oxum, estão relacionados aos diferentes lugares profundos (ibù) do rio.

Yemanjá é frequentemente retratada como uma matrona de seios volumosos, símbolo de uma maternidade fecunda e nutritiva.

A imagem de sereia conecta Yemanjá com sua condição de mulher sexuada, feminina. Seus longos cabelos pretos e o vestido azul remetem à sua condição de mãe, pura e maternal.

No mar, Yemanjá exerce o controle, alternando entre momentos de destruição e de calmaria. Ela oferece fartura àqueles que dependem do mar para sobreviver. Yemanjá proporciona aos pescadores a abundância e a variedade de alimentos necessários para sua subsistência e sustento.

Seu culto foi trazido para o Brasil pelos povos africanos e se perpetuou por gerações, sendo reverenciado por brancos, negros, mulatos, ricos e pobres. Desde os batuques gaúchos até o xangô pernambucano, o culto a Yemanjá foi difundido, estruturado e estabelecido, consolidando-a como um grande exemplo de figura feminina afro-brasileira.

No Candomblé, Yemanjá possui sua própria autenticidadeYemanjá não é sereia, nem Janaína ou Nossa Senhora. Ela não é branca nem alourada. É um orixá, uma linda negra africana, mãe, mulher e guerreira.

5. Quando e Como Acontece a Festa de Yemanjá

1. Início

De acordo com a tradição, o festejo popular acontece desde 1923, quando a oferta de peixes da Vila dos Pescadores do Rio Vermelho reduziu-se. Desesperados, os pescadores pediram ajuda à Orixá e seguiram para ofertar um presente para Yemanjá.

O que de início representou uma iniciativa de um grupo de pescadores e seus familiares, foi atraindo a participação dos moradores do bairro e, posteriormente, da população da cidade de Salvador. Assim, a festa integrou também a participação de pessoas de outros estados e países.

2. Presente Principal

A cada ano, além dos presentes tradicionalmente entregues, um presente em especial é ofertado à Yemanjá e mantido em segredo até o momento da oferta no final do festejo.

3. Barracão e Casa de Yemanjá

O presente principal fica exposto no barracão, localizado entre a Igreja de Sant’Ana e a Casa de Yemanjá. O barracão é uma estrutura de madeira coberta por palha de coqueiro, montada todos os anos em decorrência da festa. Sua finalidade é acomodar e organizar os presentes em balaios, expostos publicamente.

Com janelas azuis e ladrilhos decorando a fachada, a pequena Casa de Yemanjá (também conhecida como Casa do Peso) funciona durante todo o ano como a Sede dos Pescadores do Rio Vermelho. Construída para atender às necessidades dos pescadores, suas funções foram redefinidas pela dinâmica da festa.

No dia 02 de fevereiro, a pequena casa dos pescadores torna-se o palco principal da Festa de Yemanjá, que, junto à orla da praia da Paciência e ao largo de Sant’Ana, forma um dos mais belos cenários da cidade.

4. Fluxo de Pessoas

O intenso fluxo de pessoas invade as ruas, avenidas e orla do bairro do Rio Vermelho, preenchendo o ambiente com devoção, batuques, oferendas e muita fé em Yemanjá.

A festa é conhecida como “festa de largo” em Salvador, referindo-se a eventos que ocorrem em locais mais abertos. A Festa de Yemanjá tem como ponto de concentração uma praça local, uma das centralidades do bairro, e o entorno da Igreja de Sant’ana do Rio Vermelho. O bairro é completamente modificado em sua estrutura com os festejos do dia 02 de fevereiro.

Outros locais participam de forma mais discreta das comemorações, devoções e ofertas à Rainha do Mar, como o Dique do Tororó, na região central da cidade.

5. Organização das Oferendas

Durante a festa, o fluxo de pessoas para a entrega dos presentes e oferendas segue uma organização específica. Forma-se uma imensa fila para aqueles que desejam entregar seus presentes no barracão, e outra fila para quem opta por entregar diretamente na Casa de Yemanjá.

Os presentes são acomodados em tradicionais balaios, cestos de palha adornados com as cores e itens mais queridos pela Orixá, tendo como destino as águas do oceano (ou dos rios).

Festa de Iemanjá em Salvador da Bahia

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