História do Nordeste

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História do Nordeste - Lampião
História do Nordeste – Lampião

A história do nordeste começa com o descobrimento do Brasil e o nordeste deve seu nascimento e desenvolvimento em torno da sociedade do açúcar

Ponto zero da história brasileira foi no nordeste, a história do nordeste deve seu nascimento e desenvolvimento ao engenho açucareiro.

Hoje, ao mesmo tempo em que carrega nurcas do passado colonial, a região descobre novos caminhos para a modernização.

Aquilo que todos os brasileiros identificam como região Nordeste é uma noção relativamente recente: até o começo da República, essa parte “alta” do país era chamada, sem distinção, de Norte.

O recorte regional nasceu com os esforços de industrialização do território; durante o século passado, a região foi dividida de diferentes formas e recebeu diferentes nomes.

O Nordeste de hoje, composto por nove estados, resulta da divisão estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1970.

Nesse processo, histórias, culturas e trajetórias distintas foram enfeixadas sob a denominação geral de Nordeste. Haveria, assim, muitas maneiras de retraçar o percurso da região.

A mais convencional é estabelecer como ponto inicial o momento em que a esquadra portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral aporta no litoral da atual Porto Seguro, na Bahia: foi em terras nordestinas que se deu o encontro inicial – entre o Velho e o Novo Mundo – que daria origem àquilo que um dia se tornaria a nação brasileira.

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Para decepção dos conquistadores, as terras eram exuberantes, mas pobres nas especiarias e metais nobres que impulsionavam as navegações.

A riqueza, aqui, era outra: o pau-brasil, utilizado na Europa como corante para tecidos.

Capitanias hereditárias
Capitanias hereditárias

Os portugueses só iniciaram o povoamento da colônia trinta anos depois do primeiro desembarque, embora visitassem com freqüência o litoral nordestino em busca da madeira, que atraía também contrabandistas, piratas e aventureiros de outros países.

Em 1534, a ocupação portuguesa começou efetivamente, com a divisão da colônia em grandes lotes de terra, as capitanias hereditárias.

O sistema de capitanias fracassou – prosperaram apenas a de São Vicente, em São Paulo, e a de Pernambuco, também chamada de Nova Lusitânia, onde rapidamente se instalou a agricultura de cana-de-açúcar.

Em 1548, instituiu-se o governo-geral; no ano seguinte, Tomé de Sousa, o primeiro governador, desembarcaria na vila do Pereira – povoado na baía de Todos os Santos, onde hoje se situa o porto da Barra- para fundar o centro administrativo da colônia. Nascia assim Salvador.

Os índios tupinambás, antigos habitantes do Recôncavo, foram apresados para o trabalho na lavoura e convertidos ao ca tolicismo; muitos fugiram para o interior do continente.

Aos poucos, a empresa colonial firmava- se, com a organização da exportação do pau-brasil e a n1ontagem dos primeiros engenhos.

CRONOLOGIA DA HISTÓRIA DO NORDESTE 

A SOCIEDADE DO AÇÚCAR NO NORDESTE

É difícil apontar com precisão o momento em que a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil; na segunda metade do século XVI a indústria açucareira já se encontrava estabelecida no Nordeste – e ela sustentaria , ao lo ngo dos séculos seguintes, a economia da colônia.

Os canaviais espalharam-se pelo litoral nordestino, e Pernambuco e Bahia despontaram como os mais importantes produtores; a fertilidade de suas terras aliava-se à relativa proximidade da Europa e à presença de bons portos (Recife e Salvador).

História do Nordeste - sociedade do açúcar no nordeste
Sociedade do açúcar no nordeste

A produção açucareira tornou-se a mais dinâmica de toda a colônia; baseava-se na grande propriedade, na monocultura e na mão-de-obra escrava – indígena inicialmente e depois africana: Salvador transformou-se no principal centro importador de escravos vindos da Guiné, da Costa da Mina e do golfo do Benim, posição da qual só declinou a partir do século XVIII, quando o açúcar começou a perder espaço para o ouro de Minas Gerais e o centro do tráfico negreiro se deslocou para o Rio de Janeiro.

Não por acaso, o Nordeste é a região que concentra o maior número de negros e a que mais efetivamente preserva as tradições culturais de origem africana.

O núcleo da sociedade do açúcar era o engenho, composto por moendas e fornalhas que se erguiam em meio aos imensos canaviais.

Os senhores e sua familia viviam na chamada casa-grande; os escravos habitavam as senzalas. Essa oposição – ou complementaridade – entre senhor e escravo marcaria toda a sociedade colonial.

AS INVASÕES EUROPÉIAS NO NORDESTE

Ao longo do século XVI, muitas vilas foram fundadas pelos donatários e exploradores portugueses nas terras costeiras situadas ao norte da Bahia.

Em algumas regiões, a ocupação portuguesa se consolidou somente no século seguinte, dificultada tanto pela resistência dos povos indígenas como pelas invasões de outros europeus.

 Invasões das nações européias no território brasileiro no Colonialismo - História do Nordeste
Invasões das nações européias no território brasileiro no Colonialismo

Os franceses exploraram terras hoje pertencentes a Sergipe, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte desde os primeiros anos após a expedição de Cabral.

Em 1612, invadiram o Maranhão e fundaram São Luís; foram vencidos em 1615.

Seis anos mais tarde, o governo português estimulou a vinda de colonos açorianos para o povoamento da região e criou o estado do Maranhão, que incluía o chamado Grão-Pará e se reportava diretamente a Lisboa. Maranhão e Pará desligaram-se em 1774.

Atraídos pelo açúcar, os holandeses também invadiram o território português, com o apoio de uma empresa, a Companhia das Índias Ocidentais.

Em 1624, atacaram Salvador, mas foram rapidamente vencidos; em 1630, voltariam à carga em Pernambuco. Após terem conquistado Recife, os holandeses invadiram Filipéia, atual João Pessoa (1637) , Fortaleza (1640) e São Luís (1641-44).

O BRASIL HOLANDÊS – HISTÓRIA DO NORDESTE

Os sete anos que se seguiram à invasão de Pernambuco pelos holandeses foram marcados pelas guerras de resistência; em 1637, com a capitulação portuguesa, desembarcou em Recife o conde Maurício de Nassau, governador da possessão holandesa.

Maurício de Nassau - johan maurits 1604-1679 by pieter nason - História do Nordeste
Maurício de Nassau

O período em que Pernambuco permaneceu sob ocupação holandesa passou para o imaginário popular como uma espécie de idade de ouro, um tempo fabuloso e quase nútico.

Nassau estabeleceu uma política de tolerância religiosa – duas sinagogas funcionavam em Recife – e de conciliação com os portugueses que viviam no local; promoveu a vinda de cientistas que legaram importantes estudos sobre topografia e doenças tropicais, e de artistas como Frans Post, Albert Eckhout e Zacharias Wagener, que registraram a natureza americana e cenas da vida colonial.

A queda no preço internacional do açúcar e divergências com a Companhia das Índias Ocidentais forçaram Nassau a voltar à Europa em 1644 e, no ano seguinte, os holandeses foram definitivamente expulsos da colônia portuguesa – levando mudas de cana, que plantaram nas suas colônias das Antilhas. Portugal retomou Pernambuco, mas perdeu para sempre o monopólio da produção do açúcar.

ALÉM DO AÇÚCAR – HISTÓRIA DO NORDESTE

A empresa açucareira foi o eixo econômico do Nordeste durante os primeiros séculos do Brasil colônia. Entretanto, outros produtos cultivados na região desempenharam papéis importantes na sociedade colonial.

O fumo, cuja cultura era predominante no Recôncavo Baiano, foi muito usado como moeda de troca na costa da África por traficantes de escravos; as variedades mais finas eram exportadas para a Europa.

A pecuária surgiu à sombra dos engenhos, porém acabou por adentrar o território.

A criação de gado impulsionou a ocupação do vasto e plano sertão nordestino – inclusive o do Piauí, único estado cujo povoamento se deu do interior para o litoral, por vaqueiros vindos da Bahia – e resultou no que muitos chamam de “sociedade do couro”.

A produção de algodão, presente desde o início da colonização, tomou vulto no fim do século XVIII , quando a exportação do açúcar começou a declinar e teve lugar a Revolução Industrial inglesa; quando a Guerra de Secessão interrompeu a produção norte- americana, a produção brasileira foi impulsionada, particularmente no Maranhão.

TEMPOS DE GUERRA – HISTÓRIA DO NORDESTE

No século XVIII , os lucros do açúcar caíram, abatidos pela concorrência da produção antilhana.

A descoberta de ouro em Minas Gerais gradualmente deslocava o eixo econômico para o Sudeste. Várias revoltas refletiram a situação de instabilidade do Nordeste.

Em 1684, no Maranhão, a Revolta dos Beckman foi um dos primeiros protestos dos colonos que discordavam da política da Coroa, sobretudo com relação aos entraves à escravidão indígena e à forma de comércio imposta pela Companhia de Comércio do Maranhão, órgão que monopolizava o comércio da região.

Armazém na cidade do Recife. Os senhores de engenho passaram a confrontar os comerciantes portugueses, chamados de mascates, após a ascensão de D. João V. Gravura de Johann Moritz Rugendas, 1630. Domínio público. In: Viagem Pitoresca Através do Brasil
Armazém na cidade do Recife. Os senhores de engenho passaram a confrontar os comerciantes portugueses, chamados de mascates, após a ascensão de D. João V. Gravura de Johann Moritz Rugendas, 1630. Domínio público. In: Viagem Pitoresca Através do Brasil

Entre 1710 e 1712, a crise do açúcar resultou na chamada Guerra dos Mascates, conflito entre a endividada aristocracia rural, representada pelos senhores de terra de Olinda, e os comerciantes – mascates – de Recife, a maior parte de origem portuguesa.

Na segunda metade do século XVIII, começaram a circular na colônia os ideais liberais e republicanos que resultariam na independência norte- americana e na Revolução Francesa.

Em 1798 deflagrou-se na Bahia a Conjuração dos Alfaiates, movimento que contou com a participação de setores populares: pela primeira vez, reivindicações sociais somavam-se a anseios de independência.

Em 1817, a Revolução Pernambucana estendeu-se de Recife até o Rio Grande do Norte, adentrando pelos sertões e congregando grupos de interesses distintos, como proprietários rurais, comerciantes, militares, juízes e padres sob a bandeira da república e da independência do Nordeste.

As revoltas sociais sucederam-se após a proclamação da Independência. A própria independência, aliás, não foi pacífica na Bahia, onde só se consolidou em 1823, com a derrota das tropas portuguesas que ainda resistiam no Recôncavo.

Ainda hoje, o ponto alto do calendário cívico no estado é o Dois de Julho, dia da vitória , e não o Sete de Setembro celebrado no restante do país. Em 1824, dom Pedro I dissolveu a Assembléia Constituinte e decretou a primeira Constituição brasileira, medidas que reacenderam em Pernambuco o fervor republicano de 1817.

A província uniu-se à Paraíba, ao Rio Grande do Norte e ao Ceará na chamada Confederação do Equador, derrotada após quatro meses de luta.

Ao longo do século XIX, outros movin<entos eclodiram em todo o país, refletindo a instabilidade política do Brasil e as insatisfações dos diversos segmentos da sociedade.

No Nordeste, a Guerra dos Cabanas, em Pernambuco (1832-35), reuniu pequenos proprietários rurais, índios e escravos num movimento de fundo religioso que pedia a volta do imperador (Dom Pedro I retornara a Portugal em 1830, abdicando do trono em favor de seu filho, de cinco anos; vários regentes estiveram à frente do país até 1840, quando foi declarada a maioridade de Pedro II).

Em Salvador, comerciantes e funcionários de classe média reuniram-se no movimento republicano da Sabinada (1837-38) , violentamente reprimido.

No Maranhão, a Balaiada (1838-41) congregou pequenos proprietários de terra e mestiços; a Revolução Praieira, em Pernambuco (1848) opôs os dois partidos que dominariam a política imperial – o Liberal (composto principalmente pela classe média urbana) e o Conservador (formado sobretudo por grandes proprietários de terra).

É importante lembrar, ainda, as rebeliões de escravos que agitaram o Recôncavo Baiano durante aquele século. Dessas, a de maior vulto foi a Revolta dos Malês (muçulmanos), que ocorreu em Salvador em 1835 e que prenunciou a situação insustentável para a qual rumava a ordem escravista.

O movimento abolicionista disseminou-se pelo Nordeste; entre seus nomes mais notáveis figuram os baianos Rui Barbosa, Luís Gama e Castro Alves, o pernambucano Joaquim Nabuco, o potiguar Aimino Manso e Francisco do Nascimento, do Ceará- estado que aboliu a escravidão em 1884, quatro anos antes da promulgação da Lei Áurea.

CORONELISMO E CANGAÇO

Na Primeira República, cristalizou-se no país o coronelismo, prática política apoiada no poder dos grandes latifundiários – os coronéis, denominação herdada da Guarda Nacional, milícia civil criada durante o Império para garantir a ordem interna.

Secundados por seus guarda-costas, os jagunços, os coronéis do interior do Nordeste impunham sua vontade pela força; numa complexa rede de favores e compromissos, trocavam proteção, cargos públicos, escolas, remédios por votos aos representantes de seu interesse.

As freqüentes rivalidades entre famílias eram resolvidas com violência. Uma rixa com coronéis resultou no assassinato do governador da Paraíba, João Pessoa, fato que se tornaria estopim da Revolução de 1930, que levaria ao poder Getúlio Vargas.

Se os jagunços agiam a serviço dos coronéis, os cangaceiros eram bandoleiros independentes que, durante décadas – dos primeiros anos do século XX aos anos 1940 -, espalharam o terror pelos sertões nordestinos, invadindo e saqueando casas e cidades.

Sua vida nômade e de desafio à autoridade, porém, cotúeria-lhes uma aura romântica. Lampião, o mais famoso deles, ainda hoje é visto como um mito. Após anos de fugas espeta culares, ele, sua companheira e seus homens foram emboscados e mortos em 1938 em Angicos, Sergipe, por tropas do governo.

Corisco, seu sucessor e o último dos cangaceiros, foi capturado e morto dois anos depois.

A GUERRA DE CANUDOS – HISTÓRIA DO NORDESTE

“Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” Assim Euclides da Cunha descreveu, em Os sertões, o desfecho da Guerra de Canudos.

Guerra de Canudos - História do Nordeste
Guerra de Canudos

O conflito – conseqüência do que a princípio parecia ser um modesto movimento religioso entre lavradores e pequenos proprietários do interior da Bahia – deu-se entre 1896 e 1897 e abalou a recém nascida República brasileira.

Proveniente do Ceará, o beato Antônio Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro, perambulou durante anos pelo sertão em pregação religiosa, amealhando seguidores.

Em 1893, fixou-se às margens do rio Vaza-Barris, onde se formou o chamado arraial de Canudos, cuja população cresceu rapidamente. Boatos de que os fiéis de Conselheiro invadiriam Juazeiro para cobrar uma dívida determinaram o primeiro ataque das tropas do governo ao povoado – que, surpreendentemente, saiu vitorioso.

Duas expedições do governo federal, ainda que bastante armadas, também fracassaram.

A incrível resistência de Canudos, apontada como reduto de monarquistas e fanáticos, humilhava o Exército brasileiro e tornou-se assunto nacional.

Por fim, em agosto de 1897, após mais de três meses de luta, uma tropa de 8 mil homens destruiu o povoado. Os moradores capturados com vida, como os que se entregaram, foram executados.

NOVOS CAMINHOS – HISTÓRIA DO NORDESTE

O engenho açucareiro foi a bênção e a maldição do Nordeste: por um lado, garantiu sua consolidação econômica e presidiu a gênese de sua rica cultura; por outro, sua estrutura fundiária determinou as graves distorções sociais que se prolongaram durante sua história.

Marcada pela miséria e por condições naturais muito árduas – amplas áreas assoladas regularmente por longos períodos de seca-, a região passou por um contínuo fluxo migratório ao longo de todo o século passado.

A exploração da borracha na Amazônia atraiu muitos nordestinos, sobretudo nas grandes secas de 1877 e 1915; nas décadas seguintes, eles se deslocaram para os centros do Sudeste, à procura de vagas na indústria, e para o Centro-Oeste, em virtude da construção de Brasília.

O movimento ainda perdura. O Nordeste, que foi a região mais populosa do país na década de 1870, abriga hoje cerca de 30% da população brasileira.

Em 1959, o governo brasileiro criou um órgão de planejatnento econômico regional, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), como parte de um esforço de reorganização da ordem social e de modernização das relações de trabalho no campo.

Nessa época, a região ainda não incluía os estados da Bahia e Sergipe.

No presente, a despeito dos desequilíbrios internos acentuados, o Nordeste conta com importantes centros industriais, como o pólo petroquímica de Camaçari, na Bahia, o pólo têxtil de Fortaleza, no Ceará, e a indústria ferrífera de Carajás, que ocupa grande parte do Maranhão.

No vale do São Francisco, Petrolina implantou uma bem-sucedida fruticultura irrigada. A população já não é maciçamente rural, e as cidades, sobretudo as capitais costeiras, ganham contornos de metrópole.

A cultura nordestina – manifestada na literatura, na música, nas artes, no cinema – segue exercendo imensa influência no país. Oscilando entre a pobreza e a exuberância, o arcaico e o moderno, a região Nordeste enfrenta seus desafios e escreve sua história.

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