História do Seminário de Olinda e Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE

O conjunto arquitetônico formado pela Igreja de Nossa Senhora da Graça e pelo antigo Seminário encontra-se localizado no ponto mais alto do Sítio Histórico de Olinda, tendo em seu entorno uma exuberante vegetação composta de fruteiras e palmáceas.

De lá se tem uma das mais privilegiadas vistas da cidade, com as torres de igrejas seculares em primeiro plano, e, ao fundo, o Oceano Atlântico, o Porto do Recife, o Rio Beberibe e o Istmo de Olinda.

Em 1550, o donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, construiu uma ermida ( capela ou igreja situada em local afastado) em taipa na colina mais alta de Olinda, com a intenção de doá-la aos religiosos de Santo Agostinho, que não chegaram ao Brasil.

Em seguida, o templo e as terras que o circundavam foram doados aos jesuítas para que dessem início à catequese dos indígenas e à construção, em anexo, do Colégio de Olinda. Diferentemente de outras ordens que construíram conventos, os colégios evidenciavam claramente os propósitos catequistas dos religiosos.

Seminário de Olinda e Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE
Seminário de Olinda e Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE

Em 1560, foi fundado no local o Colégio de Olinda. A exemplo do Colégio da Bahia, este também se destinava à formação da juventude, mas as atividades desta instituição só vieram a ter início em 1568, como escola elementar, sendo acrescentado dois anos mais tarde o curso de latim, e em 1576, o curso de Teologia Moral.

Foi neste local onde se instalou, nos séculos seguintes, o Colégio Arquidiocesano, a primeira Faculdade de Arquitetura e a primeira Escola de Agronomia, abrigando também, ainda hoje, o Seminário da Arquidiocese.

Em 1563, teve início a primeira reforma na igreja, finalizada quatro anos mais tarde, que resultou em sua substituição por uma outra edificação em maiores dimensões.

Fachada da Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE
Fachada da Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE

Uma das ações realizadas pelos religiosos da Companhia de Jesus na área foi a criação de um Jardim Botânico para que as mudas de árvores frutíferas e outras espécies de plantas trazidas pelos portugueses pudessem adaptar-se a essas novas terras.

As primeiras reformas no prédio da nova igreja foram realizadas entre os anos de 1584 e 1592, tendo como inspiração o projeto arquitetônico da Igreja de São Roque, em Lisboa.

O templo passou a ter nave (interior das igrejas, que vai desde a porta fronteira até o altar-mor) única, frontão (arremate superior triangular nos edifícios clássicos, com três partes: a cimalha, a empena e o tímpano) triangular e telhado em duas águas.

Com o incêndio ocorrido em Olinda, em 1631, causado pelos holandeses que invadiram a localidade, a Igreja de Nossa Senhora da Graça e o Colégio de Olinda sofreram grande destruição.

O arquiteto Lúcio Costa, ao estudar um quadro de Franz Post no qual o conjunto encontra-se representado antes do incêndio, demonstrou que o telhado fora destruído, mas que a estrutura de suas paredes com os dois altares laterais em pedra conseguiu ser mantida.

De acordo com historiadores, as riquezas pertencentes à igreja foram enterradas num local fora do alcance dos holandeses, sendo resgatadas, em 1641, pelo padre Francisco de Vilhena após a retirada flamenga da Capitania.

Porém, durante o transporte desses bens para Lisboa, o navio foi atacado por corsários turcos e conduzido para Argel, local de falecimento do religioso, ocasionando na perda definitiva das riquezas – fato que pode explicar a sobriedade do monumento.

As obras de reconstrução do templo e do colégio arruinados foram realizadas em 1661, após a retirada dos holandeses, conforme data inscrita no arco da capela-mor, iniciando-se com a execução da coberta.

É importante ressaltar que, nesse colégio, o Padre Antônio Vieira, aos dezoito anos de idade, já ensinava Retórica.

Seminário e Igreja de Nossa Senhora da Graça de Olinda PE

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Ainda hoje preserva-se a cátedra de onde o religioso discursava para seus alunos.

No dia 03 de setembro de 1759, o Marquês de Pombal, por meio de decreto, baniu a Companhia de Jesus de todo Reino de Portugal, sendo assim fechados os colégios jesuítas de Olinda, Recife, Paraíba, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Belém, bem como as inúmeras residências e missões destinadas a catequizar os indígenas.

O Colégio de Olinda ficou abandonado até 1796, quando, posteriormente, o prédio foi doado a D. José Joaquim da Cunha, por ordem do príncipe regente D. João, para nele funcionar o Seminário Episcopal de Nossa Senhora da Graça ou Seminário de Olinda, como atualmente é conhecido. Seu fundador, o bispo D. Azeredo Coutinho, determinou a reabertura aos 16 de fevereiro de 1800.

Assim sendo, o Seminário de Olinda abriu caminhos para a ascensão do Curso Jurídico nessas terras, recebendo a contribuição de ensino de ilustres, como os padres Antônio Vieira e João Ribeiro.

Por sua efervescência cultural, foi conhecido como foco de irradiação de idéias liberais, destacando Olinda no panorama intelectual nacional.

Em 1975, o conjunto foi restaurado sob supervisão do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Como particularidade, sob a nave foram encontradas mais de cem sepulturas de personalidades locais ilustres, dentre as quais a de Brites de Albuquerque, esposa de Duarte Coelho.

Arquitetura da Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE

A Igreja de Nossa Senhora da Graça e o antigo Seminário de Olinda são os mais importantes testemunhos da arquitetura jesuítica no Brasil do século XVI.

Esse conjunto, que se caracteriza pela singeleza e despojamento, seguiu um modelo padrão utilizado não só pelos jesuítas, mas por outras ordens religiosas, no qual os edifícios do Colégio e da Igreja eram interligados conformando uma
quadra.

Exterior da Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE
Exterior da Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE

Espacialmente, o conjunto organiza-se do seguinte modo: o corpo da igreja é projetado para frente, destacado do bloco dos alojamentos dos padres, que estão dispostos em torno de um pátio central.

O corpo da igreja, por suas dimensões e pela horizontalidade do bloco do colégio, domina a quadra.

Com volumetria comum a vários templos de Portugal, o exterior do monumento reflete extrema simplicidade.

Na fachada principal vêem-se pilastras laterais, com espessos cunhais (qualquer ângulo externo formado por duas paredes concorrentes – quina) em pedra sobre os quais repousa o frontão triangular sem adornos, à exceção da cruz no topo e de pequenos pináculos (o ponto mais alto de um edifício) nas extremidades.

Interior da Catedral da Sé de Olinda
Interior da Catedral da Sé de Olinda

O acesso à nave dá-se pela única porta de entrada, situada ao centro da fachada principal e abaixo de um óculo (abertura ou janela circular ou oval em empenas ou frontões, que propicia a iluminação e a ventilação internas) , que ilumina a nave.

As divisões intermediárias são discretas e se reduzem a filetes.

Nos primeiros anos após sua construção, a Igreja possuía um campanário (torre onde se encontram os sinos) situado sobre a capela-mor. Hoje, em decorrência de uma reforma realizada pelos jesuítas no século XVII, o mesmo foi deslocado para a parte posterior da capela-mor.

O interior desse templo é igualmente sóbrio, com uma nave única, tendo na cabeceira o arco da capela-morC ladeado por dois arcos menores de capelas menos profundas. A capela-mor conta atualmente apenas com o altar de celebração e, às suas costas, um sacrário e um crucifixo.

Nas capelas laterais há dois altares de cantaria (paredes lavradas e cortadas segundo as regras técnicas de divisão e corte dos materiais) construídos no final do século XVI ou início do século XVII, considerados os monumentos em pedra mais antigos do país.

Pátio interno da Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE
Pátio interno da Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE

Ambos são semelhantes, têm feição rústica, mas de composição renascentista, e são constituídos de uma bancada elementar na base, um segundo nível com dois pares de colunas coríntias (ordem arquitetônica de determinadas colunas) de fuste (tronco da coluna, situado entre a base e o capitel) canelado, ladeando um nicho central com meia-cúpula (abóbada de revolução, formada por um arco que gira em torno de um eixo) trabalhada como uma concha marítima, e um frontão com voluta (ornato em forma de espiral) simples moldurando um monograma central.

Há ainda nas laterais, pequenas capelas de pouca profundidade, uma, à esquerda, e duas, à direita.

O coro (: local situado acima da porta de acesso e no início da nave, para canto ou reza do coral), igualmente simples, é em madeira, sustentado por duas colunas toscanas.

O forro do século XVII é em caibros de madeira aparentes e junto ao mesmo, corre um friso de pedra com desenho geométrico.

Fachada do pátio interno
Fachada do pátio interno

A iluminação natural da nave é proporcionada pelas frestas, tribunas ( espécie de varanda de onde se assiste as cerimônias religiosas) laterais, porta principal e pelo óculo da fachada principal, o que confere singularidade ao ambiente e um efeito místico.

Considerando as dimensões da nave, constata-se que há predominância dos cheios das paredes em relação aos vazios.

O edifício do Colégio dispõe de um pátio internoE. O exterior e o interior do edifício de dois pavimentos são tratados com sobriedade e com espaços bem dimensionados.

Os corredores que delimitam o pátio interno dão acesso aos diversos cômodos. Esses são iluminados por três janelas de cada um dos lados que se abrem para o pátio e por outras quatro janelas localizadas no extremo da circulação que se voltam para o exterior.

As cercaduras (molduras ou frisos de arremate de superfície ornamentada) do edifício são de cantaria e as janelas dispostas alinhadamente são em vidro, decorrentes da reforma que sofreu em provavelmente em finais do século XVIII.

História e Arquitetura do Seminário de Olinda e Igreja de Nossa Senhora da Graça em Olinda PE

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