História e Cronologia dos Azulejos Portugueses

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A arte da azulejaria havia de criar raízes na Península Ibérica por influência dos árabes que, para as terras conquistadas, trouxeram os desconhecidos mosaicos para ornamentar as paredes dos seus palácios, conferindo-lhes brilho e ostentação através de um jogo geométrico complexo.

O estilo fascinou espanhóis e portugueses e, os artesãos da ibéria, meteram mãos à obra: pegaram na técnica mourisca, simplificaram-na e adaptaram os padrões ao gosto ocidental.

Os primeiros exemplares usados em Portugal – os Hispano mouriscos -, vieram nos finais do século XV de Sevilha e serviram para revestir paredes de palácios e igrejas.

Passados cerca de setenta anos, em 1560, começaram a surgir em Lisboa oficinas de olaria que produziam azulejos segundo a técnica de faiança, importada de Itália.

A originalidade da utilização do azulejo português e o diálogo que estabelece com as outras artes vai fazer dele caso único no mundo.

No Museu Nacional do Azulejo encontram-se painéis que testemunham a evolução e a monumentalidade desta peça de cerâmica decorativa que se adapta às necessidades e acompanha os estilos das diferentes épocas.

Museu Nacional do Azulejos em Lisboa

O Retábulo da Nossa Senhora da Vida, dos finais do século XVI, composto por 1384 azulejos que sobreviveram ao grande terramoto, é para a historiadora de arte, Alexandra Curvelo, um exemplo da importância do azulejo em Portugal.

Azulejo - O Retábulo da Nossa Senhora da Vida
Azulejo – O Retábulo da Nossa Senhora da Vida

A nova indústria do azulejo floresce com as encomendas da nobreza e do clero.

Grandes painéis são fabricados à medida para preencher as paredes de igrejas, conventos, palácios, solares e jardins.

A inspiração vem das artes decorativas, dos têxteis, da ourivesaria, das gravuras e das viagens dos portugueses ao oriente.

Surgem grandes composições cenográficas, característica marcante do barroco, com motivos geométricos, temáticas figurativas e vegetalistas de uma fauna e flora exóticas.

É o tempo em que aparece o azulejo de padrão, com destaque para os frontais de altaruma das formas originais da utilização do azulejo, como podemos apreciar neste excerto do programa “Visita Guiada”.

São as classes dirigentes que cultivam primeiro o gosto pelo azulejo, escolhendo a temática mais apropriada à decoração dos edifícios; desde campanhas militares, episódios históricos, a cenas do quotidiano, religiosas, mitológicas e até algumas sátiras.

Aos oleiros cabia satisfazer os pedidos, copiando modelos, adaptando modas e estilos.

Em finais do século XVII a qualidade da produção e execução é maior, há famílias inteiras envolvidas nesta arte de fazer azulejos e, alguns pintores começam a afirmar-se enquanto artistas, passando a assinar as suas obras, dando assim início ao Ciclo dos Mestres.

Na azulejaria portuguesa surgem cena inusitadas, que surpreendem, quer pela originalidade, quer pela audácia do artesão em substituir seres humanos por macacos, onças e galinha, por exemplo, construindo desta forma histórias fantasiosas, irónicas, que despertam o riso.

A preocupação em trazer novos temas para as artes decorativas, assenta muitas vezes num certo improviso associado a esta forma única de querer fazer diferente, que podemos apreciar no painel destacado em baixo, intitulado “A Caça ao Leopardo”.

Azulejo Portugues - A Caça ao Leopardo
Azulejo Portugues – A Caça ao Leopardo

A policromia dos amarelos, dos verdes, dos castanhos arroxeados, irá dar lugar ao azul sobre fundo branco, duas cores herdadas por influência holandesa e da porcelana oriental.

Cronologia dos principais momentos da história da azulejaria portuguesa. Integra exemplos de aplicação in situ de revestimentos parietais de padrão, figurativos e ornamentais, que testemunham o carácter arquitectónico destas aplicações e as distinguem das aplicações conhecidas noutros países europeus.

Estão também presentes as múltiplas influências que o azulejo português incorporou e reinterpretou ao longo destes já mais de cinco séculos de uso.

Esta síntese evidencia ainda as citações contínuas de gosto, técnicas e motivos de épocas anteriores, num diálogo contínuo entre passado e presente que tanto marca a história da azulejaria portuguesa.

Depois do terramoto de 1755 a reconstrução de Lisboa vai impor outro ritmo na produção de azulejos de padrão, hoje designados pombalinos, usados para decoração dos novos edifícios.

Os azulejos são fabricados em série, combinando técnicas industriais e artesanais.

Nos finais do século XVIII o azulejo deixa de ser exclusivo da nobreza e do clero, a burguesia abastada faz as primeiras encomendas para as suas quintas e palácios.

Os painéis contam, por vezes, a história da família e até da sua ascensão social, como se vê no conjunto intitulado “História do Chapeleiro António Joaquim Carneiro”, exposto no Museu Nacional do Azulejo.

A partir do século XIX, o azulejo ganha mais visibilidade, sai dos palácios e das igrejas para as fachadas dos edifícios, numa estreita relação com a arquitetura.

A paisagem urbana ilumina-se com a luz refletida nas superfícies vidradas.

A produção azulejar é intensa, são criadas novas fábricas em Lisboa, Porto e Aveiro. Mais tarde, já em pleno século XX, o azulejo entra nas estações de caminho de ferro e metro, alguns conjuntos são assinados por artistas consagrados.

A tradição fez-se ainda mais popular, apresentando-se como solução decorativa para cozinhas e casas-de-banho, numa prova de resistência, inovação e renovação desta pequena peça de cerâmica.

AZULEJO é a palavra portuguesa que designa uma placa cerâmica quadrada com uma das faces decoradas e vidradas.

A sua utilização é comum a outros países como Espanha, Itália, Holanda, Turquia, Irão ou Marrocos, mas em Portugal assume especial importância no contexto universal da criação artística:

  1. Pela longevidade do seu uso, sem interrupção durante cinco séculos.
  2. Pelo modo de aplicação, como elemento que estrutura as arquitecturas, através de grandes revestimentos no interior dos edifícios e em fachadas exteriores.
  3. Pelo modo como foi entendido ao longo dos séculos, não só como arte decorativa mas como suporte de renovação do gosto e de registo de imaginário.

Azulejo em Portugal – suporte de tolerância entre o exotismo e a sensualidade

Azulejo em Portugal - suporte de tolerância entre o exotismo e a sensualidade
Azulejo em Portugal – suporte de tolerância entre o exotismo e a sensualidade

O AZULEJO é um elemento identificativo da Cultura Portuguesa, revelando algumas das suas matrizes profundas:

  1. A capacidade de diálogo com outros Povos, evidente pelo gosto por Exotismos em que aos temas de uma cultura europeia se misturam, por exemplo, os das culturas árabes e indianas.
  2. Um expedito sentido prático, revelado no uso de um material convencionalmente pobre, o azulejo, como meio de qualificação estética dos espaços interiores dos edifícios e dos espaços urbanos.
  3. Uma específica sensibilidade que em Portugal se orienta mais para valores de Sensualidade do que de Conceito, manifesta logo pela preferência de um material colorido, reflector de luz, pela expressão imediaata da pintura, e a escolha das próprias imagens mais centrada na descrição do real.

História e Cronologia dos Azulejos Portugueses

  1. Período de 1490 a 1550
  2. Período de 1500 a 1560
  3. Período de 1575 a 1600
  4. Período de 1580 a 1630
  5. Período de 1600 a 1700
  6. Período de 1610 a 1680
  7. Período de 1675 a 1700
  8. Período de 1700 a 1725
  9. Período de 1725 a 1750
  10. Período de 1740 a 1790
  11. Período de 1770 a 1820
  12. Período de 1780 a 1830
  13. Período de 1840 a 1900
  14. Período de 1890 a 1920
  15. Período de 1900 a 1940
  16. Período de 1950 a 1970
  17. Período de 1970 a 2013

1. Período de 1490 a 1550

Azulejo hispano-mourisco

Azulejo hispano-mourisco - Cintra e Laura Castro Caldas
Azulejo hispano-mourisco – Cintra e Laura Castro Caldas

Importação dos principais centros produtores de azulejo na Península Ibérica: Sevilha, Manises, Valência, Málaga e Toledo.

Azulejos de padrão com motivos geométricos e de laçarias, e, mais tarde, também com motivos vegetalistas, aplicados já com um sentido arquitetónico.

Técnicas da corda seca e, na transição dos séculos, de aresta.

Tradição islâmica
Azulejo islâmico
Azulejo islâmico

As primeiras utilizações conhecidas do azulejo em Portugal como revestimento monumental das paredes foram realizadas com azulejos hispano-mouriscos, importados de Sevilha cerca de 1503.

A presença árabe na Península Ibérica fez-se sentir pela permanência de uma prática da Cerâmica, sendo Sevilha o grande centro produtor de azulejos ainda nas técnicas arcaicas de corda-seca e aresta, até meados do século XVI.

A evolução dos motivos passou das laçarias e encadeados geométricos mouriscos para temas vegetais e animalistas europeus, entre o gótico e o puro gosto Renascença.

Contudo permanece em Portugal, mais do que os motivos em si, um gosto mourisco pelo excesso em revestimentos decorativos totais dos espaços, espécie de horror ao vazio.

2. Período de 1500 a 1560

Azulejo de importação [azulejo renascentista e maneirista]

Azulejos, já segundo a técnica da majólica, de Sevilha, com Francisco Niculoso (1504), e da Flandres (1558)
Azulejos, já segundo a técnica da majólica, de Sevilha, com Francisco Niculoso (1504), e da Flandres (1558)

Importação de azulejos, já segundo a técnica da majólica, de Sevilha, com Francisco Niculoso (1504), e da Flandres (1558), onde se tinham instalado artistas italianos.

Representam histórias clássicas, brutescos, ferroneries, entre outros motivos. Registam-se encomendas específicas com heráldica portuguesa, por exemplo, para o Paço Ducal de Vila Viçosa.

A influência da Itália e da Flandres

O desenvolvimento da Cerâmica em Itália com a possibilidade de se pintar directamente sobre o azulejo, em técnica de majólica, permitiu alargar a realização de composições com diversas figurações, historiadas e decorativas.

Ceramistas italianos fixaram-se na região da Flandres e divulgaram os motivos decorativos maneiristas e os temas da Antiguidade Clássica.

Para Portugal fizeram-se encomendas na Flandres e a fixação de ceramistas flamengos em Lisboa propiciou o início de uma produção portuguesa a partir da segunda metade do século XVI.

Modelos de circulação internacional, oriundos de uma estética maneirista da Flandres, são utilizados agora por pintores de azulejo que realizam composições monumentais, feitas com saber erudito de Mestres em desenho e pintura, como Francisco e Marçal de Matos.

Séculos XVII · XVIII – As obras encomendadas na Holanda
Azulejos Holandeses - Dance lesson (1707) - Willem vand der Kloet (1666-1747)
Azulejos Holandeses – Dance lesson (1707) – Willem vand der Kloet (1666-1747)

A partir do último quartel do século XVII e durante quase cinquenta anos, importaram-se dos Países Baixos conjuntos monumentais de azulejos.

Concebidos por pintores qualificados como Willem van der Kloet e Jan van Oort, a superioridade técnica dos azulejos holandeses bem como a sua pintura a azul, citando a porcelana da China, foram do agrado do público português.

Para este sucesso contribuiu o esforço de aproximação ao nosso gosto, na realização de conjuntos monumentais.

Estas importações obrigaram à reacção das oficinas nacionais, que chamam a si pintores com formação na pintura académica, respondendo assim a uma clientela agora mais exigente, e perante os novos azulejos portugueses assistiu-se ao abandono natural das importações, datando a última grande encomenda de 1715.

Para além dos grandes painéis figurativos, chegaram-nos também dos Países Baixos azulejos comuns, chamados de ?figura avulsa”, cada um representando uma cena autónoma, produção intimista própria ao gosto holandês, mas aplicados em Portugal de acordo com a nossa tradição, com molduras pintadas no azulejo.

Século XVII  – Azulejos de repetição
Século XVII - Azulejos de repetição
Exemplo de tapete de azulejos, com padrão parras e uma barra em todo o contorno, do século XVII

Fixado em Portugal o gosto por revestimentos cerâmicos monumentais em igrejas e palácios, era dispendiosa a encomenda de grandes composições únicas, adequadas a cada espaço, optando-se, de modo mais frequente, por azulejos de repetição.

Entre finais do século XVI e inícios do XVII realizaram-se composições de enxaquetados, azulejos de cor lisa que, na sua alternância, iam criando malhas decorativas nas paredes.

Apesar de serem baratos os azulejos, a sua aplicação era complexa e lenta, factor que tornava o processo dispendioso, levando ao seu gradual abandono.

Azulejos de padrão, produzidos em grande quantidade e de fácil aplicação, vieram então a ser utilizados primeiro em módulos de repetição com 232 azulejos, depois em módulos maiores que atingiram 12312 azulejos, geradores de fortes ritmos em diagonal.

Em qualquer destas utilizações de azulejos enxaquetados e de padrão, era essencial o uso de cercaduras e barras para uma eficaz integração nos contornos das arquiteturas.

3. Período de 1575 a 1600

Primeira produção portuguesa

Primeira produção portuguesa de azulejos - Lisboa, Igreja de São Roque, capela de São Roque
Primeira produção portuguesa de azulejos – Lisboa, Igreja de São Roque, capela de São Roque

Início da produção portuguesa, com as mesmas características do ciclo anterior e segundo a técnica da majólica, da qual a capela de São Roque, na igreja jesuítica com a mesma invocação, é um dos melhores exemplos, assinado e datado: Francisco de Matos, 1584.

Primeira produção portuguesa de azulejos - Lisboa, Palácio Marquês da Fronteira
Primeira produção portuguesa de azulejos – Lisboa, Palácio Marquês da Fronteira

4. Período de 1580 a 1630

Azulejo enxaquetado

Revestimentos com esquemas geométricos, articulados com os espaços onde se inserem, através de azulejos de uma só cor (azul e verde) conjugados com outros brancos, cortados e adaptados à arquitectura.

Azulejo hispano-mourisco - Cintra e Laura Castro Caldas
Azulejo enxaquetado

Revestimentos com esquemas geométricos, articulados com os espaços onde se inserem, através de azulejos de uma só cor (azul e verde) conjugados com outros brancos, cortados e adaptados à arquitectura.

Azulejo enxaquetado
Azulejo enxaquetado

5. Período de 1600 a 1700

Azulejo de padrão

Revestimentos integrais com azulejos de padrão, policromos, representando motivos geométricos, entrelaçados, vegetalistas, florais, etc., delimitados por barras, cercaduras ou frisos, recordando tapeçarias.

Como tal, estes revestimentos passaram a ser conhecidos como “tapete”.

Existiam também frontais de altar, simulando tecidos de inspiração oriental, com representações exóticas e composições de brutesco.

Azulejo de padrão - Santarém, Igreja de Marvila
Azulejo de padrão – Santarém, Igreja de Marvila

Revestimentos integrais com azulejos de padrão, policromos, representando motivos geométricos, entrelaçados, vegetalistas, florais, etc., delimitados por barras, cercaduras ou frisos, recordando tapeçarias.

Como tal, estes revestimentos passaram a ser conhecidos como “tapete”. Existiam também frontais de altar, simulando tecidos de inspiração oriental, com representações exóticas e composições de brutesco.

Azulejo de padrão - Coimbra, Capela da Universidade
Azulejo de padrão – Coimbra, Capela da Universidade

Revestimentos integrais com azulejos de padrão, policromos, representando motivos geométricos, entrelaçados, vegetalistas, florais, etc., delimitados por barras, cercaduras ou frisos, recordando tapeçarias.

Como tal, estes revestimentos passaram a ser conhecidos como “tapete”. Existiam também frontais de altar, simulando tecidos de inspiração oriental, com representações exóticas e composições de brutesco.

Azulejo de padrão - Castelo de Vide, Igreja de Nossa Senhora da Alegria
Azulejo de padrão – Castelo de Vide, Igreja de Nossa Senhora da Alegria

6. Período de 1610 a 1680

Policromia intensa

Integração de cenas figurativas, policromas e de desenho sumário, nas largas superfícies preenchidas por azulejos de padrão.

Estas representações acabariam por se autonomizar e, na segunda metade do século, identificam-se revestimentos figurativos ou de brutescos e ampla folhagem, executados numa policromia intensa.

As representações inspiravam-se em gravuras.

Azulejos de Policromia intensa - Lisboa, Ermida de Santo Amaro
Azulejos de Policromia intensa – Lisboa, Ermida de Santo Amaro

Integração de cenas figurativas, policromas e de desenho sumário, nas largas superfícies preenchidas por azulejos de padrão.

Estas representações acabariam por se autonomizar e, na segunda metade do século, identificam-se revestimentos figurativos ou de brutescos e ampla folhagem, executados numa policromia intensa.

As representações inspiravam-se em gravuras.

Azulejos de Policromia intensa - Carcavelos, Igreja Matriz
Azulejos de Policromia intensa – Carcavelos, Igreja Matriz

7. Período de 1675 a 1700

Período de transição

Aos primeiros exemplares ainda de contorno a manganés, impõe-se a pintura executada a azul e branco.

Os revestimentos encontram-se aplicados no interior de igrejas e palácios, em programas iconográficos complexos e organizados em níveis de leitura.

Conhecem-se alguns nomes de pintores merecendo especial referência Gabriel del Barco.

Azulejos do Período de transição - Lisboa, Palácio Marquês da Fronteira
Azulejos do Período de transição – Lisboa, Palácio Marquês da Fronteira

Aos primeiros exemplares ainda de contorno a manganés, impõe-se a pintura executada a azul e branco.

Os revestimentos encontram-se aplicados no interior de igrejas e palácios, em programas iconográficos complexos e organizados em níveis de leitura. Conhecem-se alguns nomes de pintores merecendo especial referência Gabriel del Barco.

Azulejos do Período de transição - Lisboa, Palácio de Santos, capela
Azulejos do Período de transição – Lisboa, Palácio de Santos, capela

Aos primeiros exemplares ainda de contorno a manganés, impõe-se a pintura executada a azul e branco.

Os revestimentos encontram-se aplicados no interior de igrejas e palácios, em programas iconográficos complexos e organizados em níveis de leitura.

Conhecem-se alguns nomes de pintores merecendo especial referência Gabriel del Barco.

Azulejos do Período de transição - Arraiolos, Igreja do antigo Convento dos Lóios, Pousada de Arraiolos
Azulejos do Período de transição – Arraiolos, Igreja do antigo Convento dos Lóios, Pousada de Arraiolos

8. Período de 1700 a 1725

Ciclo dos Mestres

Pintura de grande erudição, a azul e branco, executada por mestres que eram também pintores de óleo e de tectos.

Azulejaria de autor, assinada pelos mais importantes pintores, cada qual revelando distintas formas de entender a pintura sobre azulejo: António de Oliveira Bernardes, Manuel dos Santos, António Pereira, Mestre P.M.P..

Azulejos do Ciclo dos Mestres - Serra d’Ossa, Igreja do antigo convento, 1714, atribuído ao Mestre P.M.P.
Azulejos do Ciclo dos Mestres – Serra d’Ossa, Igreja do antigo convento, 1714, atribuído ao Mestre P.M.P.
Azulejos do Ciclo dos Mestres - Sintra, Palácio Nacional de Sintra, Sala dos Brasões
Azulejos do Ciclo dos Mestres – Sintra, Palácio Nacional de Sintra, Sala dos Brasões
Azulejos do Ciclo dos Mestres - Évora, Universidade
Azulejos do Ciclo dos Mestres – Évora, Universidade

Século XVIII – O Ciclo dos Mestres

Évora - Igreja da Misericórdia - Azulejos elaborados em 1715 na oficina de António Oliveira Bernardes, em Lisboa
Évora – Igreja da Misericórdia – Azulejos elaborados em 1715 na oficina de António Oliveira Bernardes, em Lisboa

No início de setecentos, o pintor de azulejo volta a assumir o estatuto de artista assinando, com frequência, os seus painéis.

O percursor desta situação foi o espanhol Gabriel del Barco, activo em Portugal em finais do século XVII, introduzindo um gosto por envolvimento decorativo mais exuberante, e uma pintura liberta do contorno rigoroso do desenho.

Estas inovações abriram caminho a outros artistas, dando início a um período áureo da azulejaria portuguesa — o Ciclo dos Mestres — reacção às importações holandesas, tendo os pintores aplicado às suas obras uma original espontaniedade na utilização mais livre e pictórica das gravuras, e na criatividade das composições de azulejos ajustadas aos espaços arquitectónicos.

António Pereira, Manuel dos Santos e o monogramista PMP, são os pintores mais importantes, devendo-se, no entanto, destacar António de Oliveira Bernardes e o seu filho Policarpo de Oliveira Bernardes.

Exímio na composição, António de Oliveira Bernardes foi o Mestre por excelência na modelação das figuras e tratamento dos espaços envolventes, e com a sua grande capacidade técnica e artística, o principal responsável pelas mais sofisticadas criações da azulejaria figurativa portuguesa deste período.

9. Período de 1725 a 1750

Grande Produção Joanina

Grande produção, devido ao crescente número de encomendas, executada por pintores formados pela geração anterior dos Mestres.

Maior encenação, bem visível nas guarnições cada vez mais complexas e recortadas.

Pertencem a este ciclo pintores como Policarpo de Oliveira Bernardes, Teotónio dos Santos, Valentim de Almeida ou Nicolau de Freitas.

Azulejos de Grande Produção Joanina - Almancil, Igreja de São Lourenço
Azulejos de Grande Produção Joanina – Almancil, Igreja de São Lourenço
Azulejos de Grande Produção Joanina - Loures, São Julião do Tojal, Palácio da Mitra
Azulejos de Grande Produção Joanina – Loures, São Julião do Tojal, Palácio da Mitra
Azulejos de Grande Produção Joanina - Lisboa, atual Hospital de São José
Azulejos de Grande Produção Joanina – Lisboa, atual Hospital de São José

Século XVIII – A Grande Produção Joanina

Grande Produção Joanina
Grande Produção Joanina

No segundo quartel do século XVIII assistiu-se a um aumento sem precedentes do fabrico de azulejos, o que se ficou, também, a dever a grandes encomendas chegadas do Brasil.

É o período da Grande Produção, em parte coincidente com o reinado de D. João V (1706-1750), a que correspondeu o uso dos maiores ciclos de painéis historiados jamais executados em Portugal.

O aumento da produção conduziu à repetição das figurações, ao recurso a motivos seriados como albarradas e à simplificação da pintura das cenas, ganhando as molduras grande importância cenográfica.

Num prolongamento do Ciclo dos Mestres, evidenciam-se, ainda, pela qualidade da obra, alguns pintores como Nicolau de Freitas, Teotónio dos Santos ou Valentim de Almeida.

A par dos temas religiosos encomendados pela Igreja, utilizam-se agora para os palácios mais cenas bucólicas, mitológicas, de caça e guerreiras, ou relacionadas com um dia a dia cortesão, bem patente nas chamadas figuras de convite colocadas nas entradas.

10. Período de 1740 a 1790

Azulejo rococó

Introdução da linguagem rococó, principalmente nos concheados e folhagem assimétrica das guarnições que, ao mesmo tempo, regressavam também à cor.

As áreas de figuração continuam a ser pintadas a azul e, mais raramente, a manganês. Para além das cenas do quotidiano registam-se muitos exemplos de chinoiserie.

Azulejo rococó - Coimbra, Universidade de Coimbra, Colégio de São Jerónimo
Azulejo rococó – Coimbra, Universidade de Coimbra, Colégio de São Jerónimo
Azulejo rococó - Oeiras, Palácio dos Condes de Oeiras, Escadaria Sul de acesso ao Patamar Inferior do Jardim
Azulejo rococó – Oeiras, Palácio dos Condes de Oeiras, Escadaria Sul de acesso ao Patamar Inferior do Jardim

Século XVIII – O Rocócó

Em meados do século dão-se mudanças no gosto da sociedade portuguesa com a adopção de uma gramática decorativa influenciada pelo estilo Regência francês, mas sobretudo pelo Rocócó, através de gravuras provenientes da Europa central.

A preferência por formas orgânicas cujo exemplo típico é o concheado irregular, verifica-se em composições delicadas onde os efeitos decorativos são alcançados pelo emprego de dois tons contrastantes de azul, e depois pelo uso de várias cores.

Os painéis figurativos da época mostram, maioritariamente, cenas galantes e bucólicas, vindas de gravuras de Watteau.

O Terramoto que destruiu Lisboa em 1755 obrigou à reconstrução da cidade sendo para esse efeito recuperada a padronagem como meio capaz de animar uma Arquitectura que, pela urgência da reedificação, se tornara muito depurada e funcional.

Este tipo de azulejo ficou conhecido como pombalino, designação proveniente do nome do ministro do rei D. José I (r. 1750-1777), responsável pela reconstrução de Lisboa, o Marquês de Pombal.

A par dos temas religiosos nas igrejas, tiveram grande divulgação pequenos painéis de devoção ou registos, colocados nas fachadas dos edifícios como protecção contra as grandes catástrofes.

11. Período de 1770 a 1820

Padrão pombalino e D. Maria

Regresso à azulejaria de padrão, incorporando motivos que imitam gradeamentos (e mais tarde têxteis ou papel de parede), com rosetas e florões, e organizando-se em complexas simulações de luz.

Os registos de santos, que protegiam os edifícios contra os fenómenos naturais, são também uma constante nesta época.

 

Azulejos de Padrão pombalino e D. Maria
Azulejos de Padrão pombalino e D. Maria

Regresso à azulejaria de padrão, incorporando motivos que imitam gradeamentos (e mais tarde têxteis ou papel de parede), com rosetas e florões, e organizando-se em complexas simulações de luz.

Os registos de santos, que protegiam os edifícios contra os fenómenos naturais, são também uma constante nesta época.

Azulejos de Padrão pombalino e D. Maria
Azulejos de Padrão pombalino e D. Maria

12. Período de 1780 a 1830

Azulejo neoclássico

Corrente com expressão ao nível decorativo.

Os revestimentos foram objecto de uma redução de escala, sendo empregues em silhares articulados com a pintura das paredes, cuja temática reflectia a função do espaço que integravam.

Início da produção fabril, com especial destaque para a Real Fábrica de Louça, ao Rato (Lisboa).

Azulejo neoclássico - Queluz, Palácio Nacional de Queluz, Corredor das Mangas
Azulejo neoclássico – Queluz, Palácio Nacional de Queluz, Corredor das Mangas

Corrente com expressão ao nível decorativo.

Os revestimentos foram objecto de uma redução de escala, sendo empregues em silhares articulados com a pintura das paredes, cuja temática reflectia a função do espaço que integravam. Início da produção fabril, com especial destaque para a Real Fábrica de Louça, ao Rato (Lisboa).

Azulejo neoclássico - Lisboa, Quinta dos Azulejos
Azulejo neoclássico – Lisboa, Quinta dos Azulejos

Séculos XVIII – XIX – O Neoclássico

No final do século XVIII e com origem, em grande parte, na Real Fábrica de Louça do Rato, de Lisboa, a azulejaria assimila o neoclassicismo, estilo internacional divulgado através das gravuras de Robert e James Adam, e associado no azulejo português com paisagens executadas por Jean Pillement.

Os painéis cerâmicos são agora silhares baixos e articulam-se com a pintura a fresco, de que citam os fundos brancos, desadornados, dotando-se de uma leveza e de uma profusa variedade de temas e composições que tornam esta produção uma das mais surpreendentes.

Os painéis são preenchidos com ornatos leves, de requintada policromia e sem expressão de volume, marcando-se os centros com medalhões monocromáticos de execução caligráfica, correspondendo ao gosto da nova burguesia que surge também como importante encomendante de azulejos.

Estes narram histórias de ascensões sociais, representam figuras elegantes da época, enquanto a Igreja não abandona os tradicionais ciclos religiosos e a nobreza os temas anteriormente preferidos.

13. Período de 1840 a 1900

Azulejo de fachada

Revestimento total de fachadas, conferindo aos edifícios cor e brilho, e alterando, assim, a imagem urbana. Recurso a azulejos de padrão fabricados em diversas unidades industriais. Houve ainda fachadas de cariz figurativo, destinadas a espaços específicos, como as de Luís Ferreira, conhecido como Ferreira das Tabuletas (1807-?).

Azulejo de fachada - Lisboa, fachada no Largo Rafael Bordalo Pinheiro
Azulejo de fachada – Lisboa, fachada no Largo Rafael Bordalo Pinheiro
Azulejo de fachada - Lisboa, fachada com revestimento de azulejos de padrão, pormenor
Azulejo de fachada – Lisboa, fachada com revestimento de azulejos de padrão, pormenor
Azulejo de fachada - Lisboa, fachada com revestimento de azulejos de padrão, pormenor
Azulejo de fachada – Lisboa, fachada com revestimento de azulejos de padrão, pormenor
Azulejo de fachada - Ovar, fachada de edifício
Azulejo de fachada – Ovar, fachada de edifício

Século XIX – As fachadas de azulejo

Com a afirmação definitiva de uma burguesia ligada ao comércio e à indústria, (re)nascida do caos económico em que Portugal ficou mergulhado após as invasões francesas (1807-1811) e a guerra civil entre absolutistas e liberais (1832-1834), existe um novo uso do azulejo.

Na segunda metade do século XIX o azulejo de padrão, de menor custo, cobre milhares de fachadas, produzido por fábricas de Lisboa — Viúva Lamego, Sacavém, Constância, Roseira — do Porto e Gaia — Massarelos, Devezas.

Utilizando técnicas semi-industriais ou industriais, permitindo uma maior rapidez e rigor de produção, as fachadas com azulejo de padrão e cercaduras delimitando as portas e janelas, são elementos fundamentais, através da cor e variações de luz, da identidade urbana em Portugal.

Concentrando-se principalmente as unidades fabris no Porto e Lisboa, definiram-se duas sensibilidades.

No norte é característico o recurso a relevos pronunciados, num gosto pelo volume e pelo contraste de luz e sombra; no sul mantêm-se as padronagens lisas de memória antiga, transpondo-as dos espaços interiores, para uma quase ostensiva aplicação exterior nas fachadas.

14. Período de 1890 a 1920

Arte Nova

O início do seculo XX pauta-se pela persistência das fachadas em azulejo dos séculos XIX, mas também pelo aparecimento de revestimentos parciais ou, mais raramente, integrais Arte Nova, concebidos especificamente para determinada fachada.

Azulejos de Arte Nova, Lisboa, fachada Arte Nova, Av. Almirante Reis
Azulejos de Arte Nova, Lisboa, fachada Arte Nova, Av. Almirante Reis
Azulejos de Arte Nova - Aveiro, fachada Arte Nova
Azulejos de Arte Nova – Aveiro, fachada Arte Nova
Azulejos de Arte Nova - Mealhada, fachada Arte Nova
Azulejos de Arte Nova – Mealhada, fachada Arte Nova

15. Período de 1900 a 1940

Azulejo historicista

Valores historicistas veiculados por uma azulejaria de carácter revivalista, destacando-se autores como Jorge Colaço (1868-1842) ou Leopoldo Battistini (1865-1936).

Citação da pintura azul e branca barroca, em representações de cenas da história nacional e regional, bem como de costumes populares. Incorporação, por vezes, de elementos Art Déco, sobretudo nos emolduramentos.

Azulejo historicista - Porto, Estação São Bento
Azulejo historicista – Porto, Estação São Bento
Azulejo historicista - Porto, Capela das Almas
Azulejo historicista – Porto, Capela das Almas

16. Período de 1950 a 1970

Azulejo Moderno

Maior articulação entre artistas e arquitectos, por influência do Movimento Moderno Internacional, recepcionado em Portugal por via brasileira. Azulejo aplicado nas novas construções e equipamentos urbanos, como o Metropolitano de Lisboa (inaugurado em 1959), que teve a colaboração de Maria Keil, ou no conjunto habitacional da Av. Infante Santo (1955-1960).

Azulejos Moderno - Lisboa, Estação Parque do Metropolitano de Lisboa
Azulejos Moderno – Lisboa, Estação Parque do Metropolitano de Lisboa
Azulejos Moderno - Lisboa, Avenida Infante Santo, Painel “Lisboa Ribeirinha” de Rolando Sá Nogueira, 1959
Azulejos Moderno – Lisboa, Avenida Infante Santo, Painel “Lisboa Ribeirinha” de Rolando Sá Nogueira, 1959

17. Período de 1970 a 2013

A contemporaneidade

Grande diversidade formal, de soluções de aplicação e dos suportes. Destaca-se o papel dos grandes eventos culturais, que permitiram a regeneração urbana das cidades. Novos modos de articulação do azulejo e dos seus suportes. Revestimento de estruturas pré-existentes ou o azulejo usado como obras de arte pública com autonomia.

Azulejos contemporaneidadeLisboa, Av. Infante Santo, Viaduto, Eduardo Nery, 2001
Azulejos contemporaneidadeLisboa, Av. Infante Santo, Viaduto, Eduardo Nery, 2001

História e Cronologia dos Azulejos Portugueses

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