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A grande variedade de gemas (pedras preciosas), disponíveis na natureza, representam um presente divino para nós. Suas cores e estruturas cristalinas nos encantam há milhares de anos.
E nós, profissionais da joalheria, lhes damos formas e facetas que realçam seu brilho e valor, quando aplicadas de maneira criativa, em uma joia.
Apesar de serem uma fonte de encanto e fascínio, as gemas verdadeiras são difíceis de se identificar, pois as produções de imitações e as opções sintéticas crescem de forma rápida, provocando confusão entre o que é verdadeiro e falso.
Hoje, o grande problema é como identiicar uma predras preciosa ou gema de uma predra sintética.
Provavelmente as primeiras pedras preciosas foram encontradas nos leitos dos rios.
Com a evolução das civilizações e o grande interesse por elas, desenvolveram-se técnicas especíicas para buscar essas gemas na natureza.
A extração e comercialização de pedras preciosas já era feita há milhares de anos.
Com o passar dos séculos, o termo pedra preciosa adquiriu o signiicado de mineral natural desejável por sua beleza, valioso por sua raridade e muito duradouro por sua resistência.
Esse processo fez com que essas gemas naturais tivessem seus preços crescentes. Quanto mais rara, mais cara.
Com essa grande valorização e raridade surgiram as imitações e as gemas sintéticas.
Hoje, é difícil identiicar as pedras naturais, pois as sintéticas e as imitações foram aperfeiçoadas em seus processos de produção.
Logo depois das primeiras falsiicações surgiu a gemologia – uma ciência proveniente da cristalograia que deine parâmetros concretos para avaliação e classiicação das gemas.
Os gemólogos utilizam equipamentos e ferramentas dentro desses padrões e seguem rotinas internacionais de avaliação.
Desta forma, quando se pretende comprar uma gema muito valiosa, o melhor caminho é contratar os serviços de um gemólogo.
Pedras Preciosas e Semipreciosas
A distinção entre pedras preciosas e semipreciosas nunca teve validade científica. Atualmente todas as pedras, tanto minerais como rochas, apreciadas por sua beleza, durabilidade e raridade, devem ser denominadas de gemas.
Para entender como ocorreu esta modificação é necessário conhecer um pouco sobre o histórico das gemas. A denominação pedra preciosa era utilizada apaenaspara o diamante, a esmeralda, o rubi e a safira, conhecidas como gemas cardinais, pois estas possuíam uso eclesiástico, devocional ou cerimonial; as demais gemas eram denominadas de semipreciosas.
Porém este termo é discutível e confuso, e desvaloriza gemas como a opala, a água-marinha, o crisoberilo, a ametista ou a alexandrita, entre outras pedras brasileiras de grande beleza. Assim, a distinção entre pedras preciosas e semipreciosas deve ser evitada, usando-se o termo gema.
As principais Gemas Brasileiras
Entre as diversas gemas brasileiras as turmalinas e os diversos tipos de berilos têm grande destaque.
1. Berilos
O mineral berilo é um silicato de berílio e alumínio que tem hábito prismático ou colunar, com base hexagonal, dureza de 7,5-8, peso específico de 2,63-2,80. Possui brilho vítreo e pode ser transparente ou translúcido, com clivagem fraca.
O berilo puro é incolor, mas pode ser matizado por impurezas; com as seguintes cores: o berilo verde é denominado esmeralda (presença de ferro férrico ou cromo), o berilo azul, de água-marinha (devido ao cromo e vanádio), o berilo rosa (devido ao manganês e ferro) é a morganita, o berilo amarelo brilhante e límpido ou o amarelo-esverdeado (devido ao manganês, ferro e titânio) é denominado heliodoro, o berilo incolor é a goshenita.
O raro berilo vermelho é conhecido como esmeralda vermelha ou bixbita.
2. Turmalinas
Os minerais do grupo da turmalina são silicatos de boro e alumínio, com composição variável devido as substituições que podem ocorrer na sua estrutura. Os elementos que comumente participam das substituições são o Fe, o Mg, o Na, o Ca e o Li. As turmalinas exibem hábito prismático, variando de cristais longos e delgados, a colunares grossos, com seção basal triangular, com dureza 7-7,5, peso específico entre 2.9-3.2.
São transparentes a opacas, com brilho vítreo e exibem estrias verticais bem marcadas que ajudam a identificá-las.
As turmalinas são divididas em função da sua cor: dravita: castanha; schorlita: preta; elbaíta: verde; rubelita: rosa; indicolita: azul escuro; acroíta: incolor, entre outras.
Ocorrem variedades bicolores, a mais conhecida é a turmalina melancia, cujas cores são rosa no interior do cristal e verde na parte externa. Há um tipo de turmalina muito valiosa, a turmalina Paraíba, de um azul-claro intenso (chamado no comércio de azul neon, azul fluorescente ou azul elétrico).
Gemas sintéticas
As gemas sintéticas são aquelas produzida em laboratório e que possuem uma correspondente na natureza. Estes materiais têm a mesma composição química, estrutura cristalina, propriedades físicas e ópticas de suas equivalentesnaturais.
O Gemological Institute of America (GIA – Instituto Gemológico da América), a maior e mais respeitada instituição de pesquisa e estudo de gemas, descreve em seu site que uma gema sintética é aquela produzida em laboratório, mas que compartilha todas as características químicas, ópticas e físicas de um mineral natural correspondente, embora em alguns casos, como por exemplo, na turquesa sintética e opala sintética, compostos adicionais podem estar presentes.
Gemas artificiais
As gemas artificiais são aquelas produzidas em laboratório e que não possuem uma equivalência na natureza, como por exemplo, a zircônia cúbica, utilizada como uma imitação do diamante (JUCHEM; BRUM, 2010).
Shah (2012) difere as gemas artificiais das sintéticas, expondo que as artificiais são as gemas que não possuem correspondentes entre as pedras naturais, são feitas totalmente pelo homem; já as pedras sintéticas são materiais cristalizados ou recristalizados, cujo método de fabricação é total ou parcialmente causado pelo homem, mas que possuem a mesma composição física e química e propriedades ópticas das pedras naturais.
O Gemological Institute of America (GIA – Instituto Gemológico da América) cita como principais gemas artificiais a zircônia cúbica (óxido de zircônio), a granada de ítrio-alumínio (YAG), a granada de gálio gadolínio (GGG), a fabulita (titanato de estrôncio), e a moissanite(carboneto de silício), quase todas estas gemas sintéticas simulam o diamante.
Imitação de gemas
As imitações são simulacros das gemas naturais, imitando sua cor e a aparência. As imitações são diferentes das gemas sintéticas, podendo ser distinguidas das naturais e sintéticas pelas propriedades físicas e pela composição química totalmente diferentes. As imitações são feitas principalmente de vidro, pasta ou strass, faiança, porcelana e plásticos, elas são moldadas e não são lapidadas.
E quando o gemólogo não está por perto?
Existem muitos lugares onde se comercializa gemas. Cidades como Governador Valadares e Teóilo Otoni, em Minas Gerais, no Brasil, são polos de comercialização de gemas.
Todavia, as gemas também são comercializadas em eventos e feiras especíicas do mercado joalheiro, assim como, em lojas especializadas.
Conhecendo a integridade do seu fornecedor fica mais fácil de comprar gemas certiicadas, no entanto, em outras situações é necessário, pelo menos, alguns conhecimentos básicos para não comprar vidro no lugar de gema.
Hoje, os designers de joias, autores de joias e ourives precisam conhecer os princípios da gemologia para apresentarem um trabalho coniável a seus clientes.
Faz poucos anos presenciei um joalheiro famoso comprar vidro no lugar de ônix.
Os resultados poderiam ser desastrosos se o vidro não tivesse sido identiicado antes de ser cravado na joia.
Mesmo sem um valor tão alto, o simples fato de a peça ser vendida como ônix e ter em seu lugar o vidro poderia abalar a credibilidade desse joalheiro.
Para o proissional experiente é mais fácil identiicar a gema sem fazer uma análise mais detalhada, mesmo assim, as falsiicações alcançaram níveis de qualidade preocupantes, pois seu valor é ininitamente menor.
Para evitar situações constrangedoras ou mesmo prejuízo proissional e inanceiro, na ausência de um gemólogo, podemos usar alguns recursos gemológicos para identiicar gemas.
É importante salientar que qualquer análise gemológica que não seja completa tem margem de erro.
Três instrumentos simples e não tão caros podem ser utilizados na identiicação de gemas: a lupa de 10X, o filtro chelsea e uma lanterna.
As visitas em eventos, dentro e fora do Brasil, podem trazer muitas oportunidades na compra de gemas. Outra situação é a visita em áreas de garimpo, que é bastante comum. Nessa situação é muito importante saber avaliar as gemas e pagar um preço justo por elas.
Este artigo tem como objetivo esclarecer o uso de dois instrumentos básicos que podem ajudar muito. Mas, aconselhamos você a conhecer um pouco mais sobre gemologia ou contratar um gemólogo.
Um bom curso de gemologia pode ajudar muito nessas situações.
Examinando uma pedra preciosa ou gema
Preço
Um dos aspectos mais importantes e, que deve ser avaliado em primeiro lugar, é o valor da gema. Como em qualquer outro tipo de comercialização os preços das gemas variam de comerciante e localidade.
Pesquise muito antes de comprar. O próprio mercado estabelece os níveis de preço. Quando receber uma oferta de preço muito abaixo do mercado – desconfie, ninguém faz milagre.
O preço é o primeiro fator que pode estabelecer a legitimidade de uma gema.
Usando a lupa
As lupas de ourives são um recurso importante para avaliar o que existe dentro de uma gema. Aqui estamos indicando uma lupa com ampliação de 10 X, no entanto existem lupas com mais ampliação.
As gemas naturais sempre terão minúsculos defeitos internos, padrões irregulares e marcas de formação. Desconfie se uma gema estiver totalmente livre dessas irregularidades.
Nas esmeraldas, por exemplo, veriique a existência de bolhas. As naturais não tem bolhas de ar.
Sempre que fizer esse tipo de análise, a lupa deve estar rente aos olhos e a gema distanciada até obtenção de foco. Sempre que possível faça essa análise com a gema iluminada.
Usando o filtro chelsea
Esse filtro de chelsa foi criado no início do século 20, na Inglaterra, usado inicialmente na Universidade de Chelsea.
Sua função inicial era separar as esmeraldas dos berilos verdes.
Como no grupo dos berilos, o filtro chelsea permitia essa separação, estão incluídas:
- esmeraldas
- água-marinha
- berilo precioso
- crisoberilo
- espinélio
- topázio
- algumas delas tem tonalidades verdes
Naquela época, somente os berilos coloridos por cromo eram considerados esmeraldas e os coloridos por vanádio eram considerados outro tipo de berilo.
Como as esmeraldas tinham um valor alto era importante separá-las dos outros tipos de berilo por meio de um teste simples e preciso – o filtro chelsea.
Naquela época, o berilo colorido por cromo (esmeralda) apresentava uma tonalidade avermelhada quando analisado com o iltro chelsea, o que não ocorria com o berilo colorido por vanádio.
Com o tempo percebeu-se que aquele pequeno instrumento podia separar muitas outras gemas naturais das imitações.
Todavia, é importante lembrar que o filtro chelsea é uma ferramenta adicional e não deve ser usado como ferramenta de diagnóstico, pois este requer análise gemológica mais completa. Ele serve bem para as situações citadas.
Como o filtro de chelsa funciona
Como seu próprio nome diz, é um filtro de luz.
Filtro de chelsa permite que somente certas cores, amarelo-verde e vermelho sejam transmitidas, isto é, vistas (filtra as outras).
Gemas que não transmitem as cores amarelo-verde ou vermelho serão vistas como uma imagem escura.
Vista por meio do filtro chelsea uma esmeralda verdadeira aparecerá amarelada ou avermelhada.
Vista por meio do filtro chelsea, uma esmeralda falsa aparecerá acinzentada.
Olhando uma esmeralda sintética com o iltro chelsea ela parecerá verdadeira porque na sua composição também há cromo e ela tem todas as características físico-químicas da natural.
Todavia, nas sintéticas o brilho do vermelho é mais intenso. Gemólogos mais experientes reconhecem a sintética porque ela contém uma quantidade maior de cromo deixando-a muito mais luminosa.
Na dúvida, serão necessários mais testes gemológicos para essa avaliação.
Espinélio azul sintético
Ás vezes o filtro chelsea permite avaliar rapidamente se uma gema é sintética ou natural como é o caso do espinélio azul.
Não há nenhuma outra gema azul com índice de refração 1.72 que apresente a reação de cor vermelha sob observação do filtro chelsea, só o espinélio azul sintético.
A razão para essa reação é a presença de cobalto no espinélio azul sintético.
Na produção do espinélio sintético, podem ser usados dois processos diferentes, todavia a presença do cobalto é detectada, nos dois casos, pela reação vermelha. Reconhecendo a camada de cobalto.
No topázio sintético, por exemplo, o cobalto produz uma cor viva e contribui para que ele seja uma das gemas mais apreciadas, até que ela seja usada em uma joia e o cobalto comece a descascar.
O cobalto contribui para que o topázio verde, por exemplo, seja comercializado por diferentes nomes, como é o caso do topázio verde caribenho, etc.
Como o topázio natural não é produzido pela natureza nessa cor, qualquer topázio verde é uma gema revestida por cobalto.
Se você tem uma pedra verde desconhecida, poderá identiicá-la facilmente com o filtro chelsea, pois nenhuma outra gema verde mostrará esse tipo de reação forte observado com o filtro chelsea. Separando tanzanita natural de imitação.
A tanzanita é uma gema tricróica. A terceira cor se apresenta em um marrom dourado para um tom avermelhado-marrom.
Na imagem a seguir podemos ver três tipos de tanzanita: a 1 é uma tanzanita natural, a 2 é uma imitação de polissilicato e a 3 uma sintética. A 2 e a 3 são as imitações mais frequentes da tanzanita.
Quando vistas sobre o filtro chelsea a reação das três é muito diferente.
Observe que a 3 tem uma reação inerte. A reação vermelha luminosa da polissilicato (gema 2) ocorre devido aos agentes acrescentados para obter essa reação de imitação, mas você pode ver que o vermelho é muito mais luminoso que a reação da tanzanita natural (gema 1).
O mesmo princípio de luminosidade ocorre com as alexandritas. Uma alexandrita sintética terá um efeito de grande luminosidade quando vista pelo filtro chelsea, enquanto a natural terá menos luminosidade.
Isso ocorre pela grande quantidade de cromo adicionadas no processo de laboratório das gemas sintéticas.
As imagens utilizadas neste artigo tem caráter meramente ilustrativo e podem diferenciar muito em tonalidades na observação com o filtro chelsea.
O importante é conhecer os princípios da análise feita com esse filtro.
Aconselhamos que você faça um curso de gemologia para entender muito mais sobre a identiicação de gemas.
Gemologia um estudo quase obrigatório
Nosso assunto deste mês na seção “gemas” é a Turmalina, uma das gemas de grande preferência dos designers de joias e dos consumidores.
Mas, pensando um pouco mais naqueles que ainda estão começando, estudando ou se aperfeiçoando no estudo do design de joias resolvermos abrir esta seção com algumas informações sobre gemologia.
Você verá que a gemologia é um estudo quase que obrigatório para o designer de joias.
Antes de falar sobre gemologia vamos entender o que é gema.
Até poucas décadas o nome “pedra preciosa” era usado para designar o diamante, o rubi, a saira e a esmeralda, consideradas pedras valiosas por serem as mais usadas na produção das joias.
Hoje, sabemos que existem outros minerais, como a ametista com pedras, que podem valer mais que uma esmeralda.
Existe a kunzita spodumena (pedra cor de rosa) que pode valer mais do que diamantes.
Alguns materiais orgânicos como a pérola e o âmbar também tem sido usados em adornos pessoais e agregado valor a essas joias.
Com tanta abrangência e valorização de substâncias no mercado joalheiro, como é possível determinar o valor desses elementos e compará-los? Como saber se um rubi é verdadeiro ou é uma imitação? Frente a essas necessidades nasceu a Gemologia.
A Gemologia é uma especialidade da geologia que estuda os aspectos físicos e químicos do materiais de valores gemológicos, sejam eles de origem orgânica ou inorgânica, que são usados como adorno pessoal ou decoração de ambiente.
Para que uma material tenha valor gemológico é necessário que tenha simultaneamente beleza, raridade, tradição, moda e durabilidade.
As gemas são substâncias que apresentam valores estéticos como a cor, a forma (lapidação) e a durabilidade considerando-se suas características e propriedades físicas e químicas.
A Gemologia também se dedica a distinguir as gemas obtidas por síntese, suas imitações, bem como descobrir os diversos tipos de tratamento usados para melhorar sua aparência e valor. Estuda também a origem, a composição e propriedades óticas.
Também estuda a lapidação (cortes de facetas) adequada a cada tipo de pedra que realça sua beleza.
O estudo dessa ciência é sem dúvida indispensável para os joalherios, designers de joias, comerciantes de gemas, ourives entre outros proissionais do setor.
O especialista em gemologia é o gemólogo. Caso você queira aprender gemologia veja o site de alguns cursos.
www.abgm.com.br
gemologia.ibgm.com.br/escola/
www.joia-e-arte.com.br/Cursos/cursoigemologia
Para os interessados numa formação acadêmica, a Universidade Federal do Espirito Santo. UFES tem o curso de graduação em gemologia
www.gemologia.ufes.br.
O Brasil carece de proissionais com formação cientíica nessa área.
Um bom guia para o estudo da gemologia é o livro “Gemas do Mundo”.
É importante saber que para uma análise gemológica precisa são necessários equipamentos e instrumentos adequados, mas os conhecimentos gemológicos podem ajudar muito na identiicação de gemas.