Independência do Brasil – Rompimento dos laços coloniais no Brasil

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Independência do Brasil – Rompimento dos laços coloniais no Brasil

1. Introdução

Como você já deve ter percebido apresentamos uma leitura de diferentes fatores relacionados com a emancipação da América Portuguesa.

O crescimento e a diversificação da sociedade, a instalação da Corte Portuguesa no Brasil, e os movimentos de contestação constituem-se, assim, num conjunto de acontecimentos que nos ajudam a compreender melhor a maioridade política e econômica do Brasil.

Contudo, veremos neste tópico alguns episódios significativos dos últimos anos do período colonial, afim de complementar nossas aulas sobre o processo de luta contra o domínio de Portugal sobre o Brasil.

Podemos começar dizendo que o “Grito do Ipiranga” representa um gesto simbólico e político do então Príncipe Regente Dom Pedro, que instituiu oficialmente a independência do Brasil.

Este acontecimento que serviu para formalizar a emancipação, apresentou-se também como uma forma da aristocracia brasileira permanecer no poder.

O ato de proclamação da independência do Brasil surge como um acordo entre a elite nacional e o monarca.

Mesmo a data de independência do Brasil pode variar.

Apesar de Dom Pedro ter anunciado a independência no dia 7 de setembro de 1822, os baianos tinham o dia 2 de julho de 1823, como data da libertação do Brasil, quando as tropas portuguesas, lideradas por Madeira de Melo, foram derrotadas pelas forças brasileiras financiadas pelos senhores de engenho e comandadas por Lorde Cochrane.

Portugal, por sua vez, só reconheceu formalmente a independência do Brasil em agosto de 1825, quando o governo brasileiro indenizou a antiga metrópole.

Naquela época foram pagos a Portugal 2 milhões de libras.

Este foi então o primeiro episódio de uma nova dependência: a dívida externa brasileira.

Mas esta é uma outra história. Voltemos, então, ao ano de 1817, quando aconteceu a luta da população nordestina pela libertação do Brasil, que será abordada no próximo item.

2. A Revolução no Nordeste

Como você já sabe, no decorrer do século XVIII houve um crescimento econômico na região sudeste.

A mineração transformou a capitania de Minas e a do Rio de Janeiro. Por outro lado, a antiga região produtora de cana-de-açúcar passou por uma grave crise financeira.

De fato, havia uma desigualdade econômica entre estas duas regiões: sudeste e nordeste.

Além da situação de desigualdade regional na economia produtora, a população teve que pagar, naquela época, pesados impostos: para sustentar os altos gastos da Corte (que não se contentava com as substanciais doações da elite luso-brasileira), e para financiar as campanhas militares do Império Português.

Jurandir Malerba (2000, p. 242) nos mostra um caso pontual de gastos da Corte, mas que teve consequências importantes na economia carioca.

No ano de 1819 assistiu-se na corte ao total estrangulamento do mercado regulador de gêneros comestíveis, criando uma situação mais que embaraçosa para os governantes.

Por conta da carestia, da inflação sobre os preços dos mantimentos, a população do Rio de Janeiro viu-se em meio à maior crise de abastecimento de que se podia ter memória e, irada, solicitou providências rápidas junto ao rei.

Produziu então o marquês de Valada extenso relatório expondo à Sua Majestade os motivos da inflação, particularmente grave no que respeitava às aves do consumo da corte, de que não dava mais conta de suprir a corte portuguesa.

A falta de aves no mercado foi apenas uma das consequências do alto consumo do séquito de nobres e da família real no Brasil.

Porém, este caso nos serve de exemplo ilustrativo da situação em que vivia a população, que teve que pagar impostos elevados, não apenas para saldar os gastos diários da Corte, mas também as obras de infraestrutura do novo Reino.

Por outro lado, no Nordeste alguns fatores específicos – como os gastos para financiar a guerra, pesaram de maneira decisiva para o levante de 1817.

No Nordeste, tendo como pano de fundo o declínio das produções de açúcar e algodão, a corte no Rio de Janeiro era tão mal vista como quando estava em Lisboa.

Os impostos criados em 1812, as contribuições – inclusive em pessoal – para as tropas na campanha da Guiana (invadida em fins de 1808 como represália pela ocupação de Portugal e para garantir as fronteiras estabelecidas pelo primeiro Tratado de Utrecht) e o agravamento da situação social, com a seca de 1816, favoreciam a difusão do liberalismo.

Você deve ter reparado que voltamos ao tema do liberalismo.

Apresentamos as ideias liberais nos capítulos anteriores, quando nos referimos aos movimentos de contestação ao regime absolutista e à política mercantilista.

O movimento “antilusitano” ocorrido em Pernambuco, também contou com o apoio da maçonaria.

Dentre as lojas maçônicas pernambucanas destacou- se o Areópago de Itambé (ver sobre esta loja maçônica em “Conspiração dos Suassunas”.

Liberalismo – pode ser resumido como o postulado do livre uso, por cada indivíduo ou membro de uma sociedade, de sua propriedade.

O fato de uns terem apenas uma propriedade: sua força de trabalho, enquanto outros detêm os meios de produção não é desmentido, apenas omitido no ideário liberal.

Nesse sentido, todos os homens são iguais, fato consagrado no princípio fundamental da constituição burguesa: todos são iguais perante a lei, base concreta da igualdade formal entre os membros de uma sociedade.

Em uma extensão dessa, uma segunda ideia propõe o bem comum (o Commonwealth), segundo a qual a organização social baseada na propriedade e na liberdade serve o bem de todos.

Um corolário dessa proposição é que não havendo antagonismo entre classes sociais, a ação pode ser orientada simplesmente pela razão – donde racionalismo.

Esse é o cerne da proposição ideológica, que visa à dominação consentida dos trabalhadores, através da operação de identificar o interesse da classe dominante (a manutenção da ordem social vigente) com o interesse da sociedade como um todo – a nação.

Neste sentido, os fatores que desencadearam a revolução de 1817 já vinham se formando desde a conspiração de 1801 (a dos Suassunas).

Mas foi desencadeada em função dos acontecimentos daquele momento. Em específico, a crise econômica e o descontentamento social.

A combinação de dois fatores econômicos foram decisivos para a mobilização da aristocracia rural: a queda do preço do açúcar e do algodão no mercado internacional e a alta do preço dos escravos.

Entretanto, a revolução de Pernambuco, que estourou em março de 1817, uniu diferentes camadas sociais (militares, proprietários rurais, juízes, artesãos, comerciantes e sacerdotes) descontentes diante dos privilégios concedidos aos portugueses.

Os militares brasileiros, em especíico, estavam insatisfeitos porque os melhores postos de comando eram reservados aos portugueses.

Assim, o sentimento de antilusitanismo se espalhou de Recife para outras cidades: Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Boris Fausto (2007, p. 129) narra o desfecho da revolução da seguinte forma:

Os revolucionários tomaram Recife e implantaram um governo provisório baseado em uma “lei orgânica” que proclamou a república e estabeleceu a igualdade de direitos e a tolerância religiosa, mas não tocou no problema da escravidão.

Foram enviados emissários às outras capitanias em busca de apoio e aos Estados Unidos, Inglaterra e Argentina, em busca também de apoio e reconhecimento.

A revolta avançou pelo sertão, porém, logo em seguida veio o ataque das forças portuguesas, a partir do bloqueio de Recife e do desembarque em Alagoas.

As lutas se desenrolaram no interior, revelando o despreparo e as desavenças entre os revolucionários.

Afinal, as tropas portuguesas ocuparam Recife, em maio de 1817.

Seguiram-se as prisões e execuções dos líderes da rebelião. O movimento durara mais de dois meses e deixou uma profunda marca no Nordeste.

3. A Revolução Liberal do Porto

A revolução liberal do porto foi um acontecimento que se deu em Portugal no ano de 1820.

A Revolução Liberal do Porto

Mas apesar da imensa distância que separa a Península Ibérica e o Novo Continente, as repercussões daquele movimento foram definitivas para o último ato da independência do Brasil.

E, mais uma vez, as ideias liberais serviram de pano de fundo desta revolução.

De fato, o descontentamento dos portugueses teve início com a vinda da Corte ao Brasil.

A ausência do rei e do aparato administrativo da monarquia gerou um estado de incerteza política em Portugal.

Por sua vez, o vazio deixado por D. João foi preenchido por um “conselho de regência” liderado pelo marechal inglês Willian Carr Beresford (ele liderou a expulsão dos franceses de Portugal).

O marechal inglês, ao impedir que militares lusitanos assumissem os altos postos militares, gerou uma grande insatisfação dentro do exército.

Os privilégios comerciais concedidos à Inglaterra, com a abertura dos portos brasileiros, foi outro motivo de descontentamento entre os portugueses.

Os revoltosos tinham como objetivos: limitar a influência inglesa no comando da nação, e retomar a relação colonialista com o Brasil, reinstalando o Pacto Colonial.

Porém os tempos eram outros, dificilmente a elite brasileira aceitaria tal acordo, você não acha?

Lembre-se das signiicativas mudanças que ocorreram no Brasil desde a chegada da família real.

Você concordaria que em 1820 o Brasil era menos uma colônia e mais um império?

Pacto Colonial – foi um sistema que perdurou no Brasil até 1808, ele determinava as relações políticas e econômicas entre a colônia e a metrópole.

Abaixo estão os principais pontos deste sistema:

  • A colônia só poderia comercializar com a metrópole.
  • A colônia deveria fornecer mercadorias por um preço estipulado pela metrópole.
  • A colônia tinha que produzir aquilo que a metrópole.
  • A colônia deveria consumir os produtos manufaturados produzidos na metrópole.

Além das reivindicações dos revolucionários portugueses anteriormente citados, era exigido o retorno imediato da Corte para Portugal.

Desejava-se restabelecer a monarquia, porém, sob a condição do rei estar subordinado a uma carta constitucional.

Os revolucionários formaram a “Junta Provisória do Governo Supremo do Reino”, um grupo heterogêneo de representantes do clero, da nobreza e do exército.

No Brasil, por sua vez, iniciaram as disputas entre dois grupos: os que defendiam o retorno de Dom João VI, a “facção portuguesa”, que era “formada por altas patentes militares, burocratas e comerciantes interessados em subordinar o Brasil à Metrópole, se possível de acordo com os padrões do sistema colonial”.

O outro grupo, que ficou sendo chamado de “partido brasileiro”, era constituído por grandes proprietários rurais das capitanias próximas à capital, burocratas e membros do judiciário nascidos no Brasil.

Acrescentem-se a eles os portugueses cujos interesses tinham passado a vincular-se aos da Colônia: comerciantes ajustados às novas circunstâncias do livre comércio e investidores em terras e propriedades urbanas, muitas vezes ligados por laços de casamento à gente da Colônia.

Os interesses da elite portuguesa em relação ao Brasil icaram claros no episódio da Revolução do Porto. Ali se formaram grupos opostos, que eram favoráveis ou contrários à partida do rei.

A corte que acompanhou a família real foi criando raízes no território brasileiro e formando um poderoso grupo contrário ao retorno de D. João VI.

A tensa relação entre essa elite e a que permaneceu em Portugal culminou em 1820. Nesse ano teve início a Revolução do Porto.

Tratava-se de um movimento liberal, voltado para a convocação de uma assembleia constituinte, mas que exigia o retorno imediato do rei à metrópole.

O monarca continuava, mesmo após as revoluções Industrial e Francesa, sendo uma referência simbólica e real do poder, tanto em Portugal quanto no Brasil.

Por outro lado, a classe burguesa de ambos os países (comerciantes, banqueiros, proissionais liberais etc.) se organizou para aprovar uma constituição (documento que regularia, em forma de leis, a política governamental do reino).

Portanto, ao mesmo tempo em que certas práticas continuavam como antes – como, por exemplo, a adoração ao rei – outras mudavam em função da burguesia, que buscava maneiras legítimas de exercer o poder dentro do regime monárquico.

A “facção portuguesa” saiu vencedora. O rei retornou para Portugal em abril de 1821, após treze anos de permanência no Brasil.

O seu regresso foi acompanhado por cerca de 4 mil pessoas.

Por sua vez, seu filho, Pedro (de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Seraim de Bragança e Bourbon), futuro Dom Pedro I, ficou no Brasil.

No decorrer de 1821 se seguiram debates acalorados na Corte portuguesa.

Discutia-se, de maneira geral, o destino do Brasil. Nestes debates, a Corte buscou formas de reassumir o controle sobre a Colônia.

Pretendia-se extinguir as capitanias hereditárias e instituir governos provinciais que passariam a ficar subordinados diretamente a Lisboa.

O objetivo era retirar do Rio de Janeiro os poderes antes concedidos. De fato, pensava-se em maneiras de recolonizar o Brasil.

4. Resistências no Brasil 

Apesar das manobras da Corte portuguesa, haviam políticos em Portugal que defendiam a emancipação brasileira. Entre eles destacou-se José Bonifácio de Andrada, descendente de uma família de ricos comerciantes da cidade de Santos.

Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, entre 1858 e 1861, por S. A. Sisson
Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, entre 1858 e 1861, por S. A. Sisson

Sua formação se deu na Universidade de Coimbra, onde se graduou em Direito, Filosoia e Ciências Naturais. No Brasil se tornou o principal ministro no governo de D. Pedro.

José Bonifácio direcionou sua administração no sentido de fazer do Brasil uma nação ativa e independente: ele queria acabar com o tráfico de escravos e libertá-los; pretendia que os libertos e os índios fossem integrados à nação brasileira; ele queria confiscar as propriedades dos portugueses que não tivessem optado pelo Brasil; rever as doações de terra feita no período colonial recuperando para a Coroa todos os latifúndios improdutivos; queria mudar a capital para o Centro-Oeste propiciando o desenvolvimento do interior.

José Bonifácio se recusou a contrair empréstimos internacionais para não gerar dívidas a serem pagas pelas futuras gerações; propôs a criação de uma Marinha de Guerra capaz de proteger a imensa costa brasileira e de manter sob o controle da metrópole as demais províncias.

Foi um homem de uma notável visão e o destino de nosso país seria outro se suas ideias tivessem prosperado. Mas os projetos arrojados de José Bonifácio contrariavam interesses poderosos.

Ele conseguira desagradar aos ricos comerciantes portugueses, aos traficantes de escravos e aos grandes senhores de terras. E brigava também com os radicais, aqueles que queriam estabelecer no Brasil uma democracia.

Podemos perceber que o pensamento de José Bonifácio oscilava entre as ideias progressivas, no campo social, e as ideias conservadoras, no campo político.

Ao mesmo tempo em que defendia a abolição da escravidão, agia na defesa da monarquia representativa (onde seria formada uma assembleia constituída por deputados eleitos indiretamente, pelos grupos dominantes da população).

José Bonifácio liderou o movimento de criação da Assembleia Constituinte e Legislativa do Brasil. Esta proposta se deu, entretanto, após o famoso “Dia do Fico”.

No dia 9 de janeiro de 1822 foi solenizada a decisão de Dom Pedro I em permanecer no Brasil, em desacordo com as determinações da Corte portuguesa, que pedia seu retorno à Europa. Esta data ficou conhecida como o “Dia do Fico”.

O registro do senado da Câmara do Rio de Janeiro revela que, formalizada a permanência, o presidente do Senado da Câmara levantou das janelas do palácio uma série de vivas repetidos pelo povo: “Viva a religião, Viva a Constituição, Vivam as Cortes, Viva o Rei Constitucional, Viva a União de Portugal e Brasil”.

Em um primeiro momento o ato de Dom Pedro não visou à independência do Brasil, pois o príncipe acatou as orientações da chamada “elite coimbrã” (grupo formado na Universidade de Coimbra, que desejava imprimir reformas políticas no Brasil, e evitar, assim, sua separação definitiva de Portugal.

Este grupo tinha um ideal grandioso: construir um império português que integrasse Brasil e Portugal.

Porém, os planos desta elite ilustrada não vingaram. As tropas portuguesas deixaram o Rio de Janeiro após tentar embarcar o príncipe a Portugal.

Houve resistência e, com apoio da população, Dom Pedro recusou-se a ocupar seu lugar ao lado de D. João. Não houve outra alternativa para o exército português senão deixar o Brasil, e levar consigo as notícias dos últimos acontecimentos.

D. Pedro I e a família real portuguesa
D. Pedro I e a família real portuguesa

5. Grito do Ipiranga – Viva o Rei, Viva o Brasil

Menos de um ano após o “Dia do Fico”, foi formalizada a independência do Brasil.

Grito do Ipiranga
Grito do Ipiranga

O episódio entrou para os anais da História como o “Grito do Ipiranga”, quando o então príncipe Dom Pedro, de apenas 24 anos de idade, teria, às margens do riacho do Ipiranga, anunciado a independência do Brasil.

Porém, só em dezembro de 1822, ele foi nomeado rei, em uma cerimônia religiosa, mas fundamentalmente política.

A cerimônia de coroação de Dom Pedro teve uma importante função política e cultural no reino que nascia. 

A coroação de D. Pedro I aconteceu em 1º de dezembro de 1822, no Rio de Janeiro, depois das várias aclamações, das adesões das Câmaras, do início da guerra de Independência.

Ela recuperava astutamente essa data, pois os portugueses comemoram nesse dia o fim do jugo espanhol.

Era uma maneira de o Brasil explicar a Portugal que não voltaria a ser colônia, a se submeter a seu mando, da mesma forma como Portugal se tornara independente da Espanha.

A introdução da coroação diferenciava a monarquia brasileira da lusa, sendo um rito completamente novo para a dinastia bragantina.

Esse rito transcende o reconhecimento dos homens, dado que o soberano recebe, na Igreja, uma tarefa prescrita por Deus, assim como um bispo.

Tal gesto reforça a união mística entre o povo e o soberano, justamente porque estava inscrito, desde sempre, nos planos divinos – como comentou frei Sampaio no sermão da coroação na capela real.

Não se pode deixar de aventar a hipótese de que um monarca coroado tivesse maior apelo junto às camadas negras, africanas, libertas, que reverenciavam a festa e o império do Divino Espírito Santo e os reis de Congo – facilitando assim sua recepção.

Esta passagem do livro “A independência do Brasil” de Iara Souza, nos coloca diante de um importante ritual simbólico: a coroação do rei.

Hoje, em nossa sociedade presenciamos e/ou participamos de uma série de rituais: batizado, baile de debutante, casamento, sepultamento etc.

Estes rituais servem para marcar um momento de passagem, de transformação em nossas vidas, mas, podem assumir também a função de legitimar o poder de uma liderança.

No regime presidencialista de nosso país, por exemplo, o candidato eleito se torna presidente, oficialmente, após receber a faixa presidencial do chefe da nação que o antecedeu.

Portanto, as festas também podem se apresentar enquanto ritual de legitimação, ou seja, como um evento de promoção de determinada personalidade.

Apesar de D. Pedro ter proclamado a independência em 1822, a emancipação do Brasil se deu, de fato, em um intervalo de tempo mais longo.

Podemos dizer, com fins didáticos, que a independência do Brasil se deu entre a chegada da Corte e a sua proclamação (1808 – 1822).

Temos, então, a independência como um processo, que envolveu diversos personagens, nacionais e estrangeiros. Aliás, devemos lembrar que uma nação só se faz “independente” na relação com outros países, contrapondo-se ou aliando-se a eles.

5.1. Quadro “Independência ou Morte” de Pedro Américo, realizado em 1888

O quadro “Independência ou Morte” de Pedro Américo, realizado em 1888, mais conhecido como “O Grito do Ipiranga” mostra D. Pedro I ao centro erguendo sua espada às margens do rio Ipiranga e decretando a Independência do Brasil (7 de Setembro de 1822), à direita os cavaleiros da comitiva e à esquerda tropeiros vendo a cena curiosamente.

A obra foi encomendada pelo Imperador D. Pedro II para exaltar D. Pedro I e rememorar o nascimento da nação e do Império Brasileiro e relacionar o declínio da monarquia brasileira com a Proclamação da República, e para investir na construção do Museu do Ipiranga em São Paulo, o Museu Paulista onde se encontra, hoje, o quadro.

Dom Pedro I, imperador do Brasil (1824), de Henrique José da SilvaA imagem retrata D. Pedro I, imperador do Brasil, pela visão do pintor português Henrique José da Silva, no ano de 1824. No Rio de Janeiro, a imagem contempla ao fundo a baía de Guanabara, e como plano de fundo o outeiro, a igreja de N. Senhora da Glória e o Pão de Açúcar.
Dom Pedro I, imperador do Brasil (1824), de Henrique José da Silva. A imagem retrata D. Pedro I, imperador do Brasil, pela visão do pintor português Henrique José da Silva, no ano de 1824. No Rio de Janeiro, a imagem contempla ao fundo a baía de Guanabara, e como plano de fundo o outeiro, a igreja de N. Senhora da Glória e o Pão de Açúcar.

A imagem simboliza a proclamação da Independência do Brasil, consagrou o 7 de Setembro, mas não relata com exatidão o momento em que D. Pedro I voltava de São Paulo, recebeu a carta oriunda de Portugal e declarou Independência do Brasil.

A cena foi produzida pela imaginação de Pedro Américo, uma vez que seria impossível fazer uma real relação entre o quadro e o ocorrido devido a grande diferença de tempo (quadro foi feito em 1888 e a Independência ocorreu em 1822) e à falta de relatos.

Existem contradições significativas: não era apropriado fazer longas viagens a cavalo, mas sim com mulas; os trajes usados pelo príncipe e pela comitiva eram galantes demais para a viagem; a comitiva não era tão numerosa e não existem registros em documentos de que o príncipe tenha pronunciado a frase “Independência ou Morte!”.

A pintura retrata o episódio de maneira grandiosa, não imitando a realidade, mas recriando a beleza ideal, enaltecendo o Império e o nacionalismo do Brasil que, a pouco tempo, havia proclamado Independência.

Dom Pedro I e Dona Leopoldina, 1826, por Armand Pallière. Dona Leopoldina (retratada abaixo pelo pintor Joseph Kreutzinger, aproximadamente em 1817), ou Maria Leopoldina, como também passou a assinar como princesa do Brasil, acreditava fielmente que sua vinda ao Brasil e seu casamento com D. Pedro era uma missão conduzida por Deus em sua vida.
Dom Pedro I e Dona Leopoldina, 1826, por Armand Pallière. Dona Leopoldina (retratada abaixo pelo pintor Joseph Kreutzinger, aproximadamente em 1817), ou Maria Leopoldina, como também passou a assinar como princesa do Brasil, acreditava fielmente que sua vinda ao Brasil e seu casamento com D. Pedro era uma missão conduzida por Deus em sua vida.
Maria Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo, 1817, por Joseph Kreutzinger
Maria Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo, 1817, por Joseph Kreutzinger

6. Açăo das sociedades secretas

O estudo das sociedades existentes no Brasil, a partir de fins do século XVIII, requer uma análise de seu verdadeiro papel em nossos movimentos políticos.

A Maçonaria e a Independência do Brasil

Com efeito, a própria existência da maioria dessas sociedades só é conhecida através de sua ação política.

Algumas desenvolveram-se com maior ou menor rapidez em resultado dos princípios que encarnavam, da organização que assumiram e da projeção que chegariam a alcançar seus membros.

Contudo, o modelo de sociedade secreta que adquiriu lugar decisivo em nossa história é fornecido pela Maçonaria.

É extremamente difícil, sendo impossível, determinar hoje como funcionavam tais sociedades ou se tinham outros objetivos além dos que se especificavam em seus programas.

A Maçonaria, a Jardineira e Beneficiência tinham como objetivo o melhoramento da espécie humana e sua conservação e nenhum envolvimento com negócios, religião e política.

Porém o Apostolado é todo puramente político; porque o seu fim é constituir o Império do Brasil de um modo que eu direi. […] Segundo A Sentinela de Liberdade, de Pernambuco, número 47, é um clube de corrompidos ou estúpidos aristocratas, propagadores da malvada fé da monarquia absolutista, despotismo e tirania atroz, dirigida a conservar um ramo da dinastia de Bragança, absoluto e arbitrário, a fim de sermos açoitados com ferros e ossos dos nossos antepassados, que por fracos tanto sofrem.

Segundo ainda o próprio Frei Caneca, esta sociedade funcionava também no Rio de Janeiro.

Enquanto as demais sociedades, secretas ou não, funcionavam dentro do próprio país, com âmbitos regionais apenas, a Maçonaria desenvolvia-se por toda a colônia, vinda do reino, diretamente ou não, e sobretudo das Universidades francesas e inglesas.

Este caráter internacional concedia-lhe, sobretudo no Brasil, força e prestígio.

Sua origem é praticamente ignorada, pois os próprios maçons que tratam do problema não concordam entre si.

De todas essas discussões, o que podemos saber de mais provável é estar ela originariamente ligada às velhas confrarias de pedreiros, donde a denominação adotada.

Essas confrarias tinham ritos de iniciação e segredos de construção que naturalmente permaneciam ao círculo dos iniciados.

Deixando de lado o problema da origem que não nos diz respeito diretamente, vamo-nos ao fato inegável do grande desenvolvimento que a Maçonaria passa a ter, no século XVIII, e à importante ação que exerceu em fins desse mesmo século e princípios do XIX em todo o mundo.

Entre os princípios considerados sagrados para os maçons, existe toda uma filosoia liberal individualista tomada à Ilustração do século XVIII ou resultante de uma convergência na mesma direção.

 Segundo o Syllabus Maçônico, a liberdade de pensamento e o racionalismo são os princípios fundamentais da sociedade.

A Maçonaria aceita para seus adeptos membros de qualquer religião, e sua concepção de “Grande Arquiteto do Universo” não apresenta ligação com a crença em Deus nas diferentes religiões.

Com ideais liberal-democráticos – o lema das revoluções liberal-democráticas: liberdade, igualdade, fraternidade, é de inspiração maçônica – a Maçonaria vai manter uma posição política caracterizada pelo combate aos poderes absolutos. É nesta posição que encontramos explicação para a grande difusão da Maçonaria.

A difusão e o consequente desenvolvimento de Lojas com fins políticos, na França e em outros países absolutistas, é uma resposta ao status quo.

Com efeito, os princípios ideológicos maçônicos, correspondentes à ideologia liberal individualista, vão deinir os interesses da burguesia em ascensão.

Eis por que a Maçonaria é adotada e aceita por todos os que não querem passar por reacionários em ins do século XVIII e princípio do XIX.

A Maçonaria organizada ideologicamente, desta forma, assume então uma posição revolucionária definida contra os poderes absolutistas.

Aliada dos movimentos liberais, a sociedade secreta também procurará marcar sua presença efetiva nos grandes acontecimentos políticos, que poderão trazer alguma transformação capaz de atingir as monarquias absolutas.

Assim, não apenas irá transformar seus membros revolucionários, mas tentará atrair pessoas capacitadas a exercer poderes políticos.

Desse modo, em nosso país, D. Pedro I torna-se maçom, não tanto porque faça seus os ideais maçônicos, mas porque à Maçonaria interessa fazê-lo maçom.

Quanto à data da penetração da Maçonaria em território brasileiro, nada pode ser dito com precisão, pois não há consenso nem mesmo entre historiadores maçons. Encontramos diferentes notícias a respeito de sua presença desde 1788, mas não se conhece documento que a confirme.

É certo, entretanto, que a Maçonaria deve ter-se introduzido juntamente com as ideias iluministas adquiridas por estudantes brasileiros na Europa, os quais muitas vezes, ao terminarem o curso da Universidade de Coimbra, iam completar seus estudos na França e na Inglaterra.

A Universidade de Montpellier, considerada um dos focos maçônicos da época, foi das mais frequentadas por estudantes brasileiros.

Por ela passaram José Joaquim da Maia, Álvares Maciel, Domingos Vidal Barbosa e outros.

Na Europa do século XVIII, a Maçonaria desenvolve-se e adquire prestígio graças à ascensão da burguesia e à difusão das ideias iluministas, ao passo que no Brasil a inexistência de uma burguesia como classe impede um processo semelhante.

O que a Maçonaria vai atingir no Brasil não é, pois, a classe que lhe é mais acessível no Velho Continente.

Aqui os privilegiados são os filhos dos senhores; os filhos daqueles aristocratas da terra que vão estudar em universidades europeias.

Só estes, por conseguinte, terão oportunidade de conhecer a filosoia da ilustração; só estes podem fazer entrar no Brasil os livros de Voltaire, Rousseau, Montesquieu e de outros, e, dada a relação existente entre Maçonaria e ilustração, só estes poderão ser iniciados na Maçonaria.

Não nos esqueçamos também do objetivo libertador que a sociedade adquiriu nas colônias americanas.

Era interessante, pois, que esses colonos, indo à Europa a ilustrar-se, conhecessem também as sociedades secretas, não só porque, de certa forma, isso lhes concedia prestígio e os colocava em dia com as transformações sociopolíticas correntes, mas também porque os tornava interessados na libertação de sua terra.

7. Neste capítulo você viu que:

  • O período entre a chegada da Corte e a proclamação da independência do Brasil representa um espaço de transição entre a Colônia e o Império brasileiro.
  • A independência do Brasil foi o resultado de um processo político, econômico e cultural.
  • A reação pernambucana diante das desigualdades econômicas entre as regiões do nordeste e sudeste resultou em um importante movimento antilusitano.
  • A Revolução Liberal do Porto resultou na volta de Dom João VI a Portugal (1821), e a proclamação da independência do Brasil.

Veja os seguintes Períodos da História do Brasil Colonial:

Veja os seguintes Períodos da História do Brasil Colonial:

  1. Independência do Brasil – Rompimento dos laços coloniais no Brasil
  2. Império Português no Brasil – Família Real Portuguesa no Brasil
  3. Transferência da corte portuguesa para o Brasil
  4. Fundação da cidade de São Paulo e os Bandeirantes
  5. Periodo de Transição entre o Brasil Colônia e Brasil Império
  6. Engenho Colonial Açucareiro no Brasil
  7. Monocultura, Trabalho Escravo e Latifúndio no Brasil Colônia
  8. Instalação do Governo Geral no Brasil e a Fundação de Salvador
  9. A Expansão Marítima Portuguesa e a Conquista do Brasil
  10. Ocupação da Costa Africana, das Ilhas do atlântico e a viagem de Vasco da Gama
  11. Expedição de Pedro Álvares Cabral e a Conquista do Brasil
  12. Período Pré-Colonial no Brasil – Os Anos Esquecidos
  13. Instalação da Colônia Portuguesa no Brasil
  14. Períodos da História do Brasil Colonial
  15. Períodos Históricos do Brasil
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