Areia: A Princesa do Brejo e sua História

Areia: História, Cultura e Tradições do Brejo Paraibano

Areia abriga os primeiros engenhos da Paraíba e tem muita história.

Apelidada de “Princesa do Brejo”, Areia se orgulha de raramente ultrapassar os 25 graus em uma Paraíba em plena estiagem. No inverno, os termômetros frequentemente ficam abaixo dos 10 graus.

Na cidade paraibana de Areia, essa experiência é acompanhada por visitas a engenhos, idas a museus e pela oportunidade de se embrenhar em uma autêntica expedição gastronômica, que inclui restaurantes rurais de beira de estrada e outros mais sofisticados.

A área central do município preserva ruas de paralelepípedo e casinhas coloridas. O conjunto histórico e urbanístico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Areia PB
A cidade de Areia na Paraíba

A essência dos séculos 18 e 19 dá charme aos casarões, onde é costume que os moradores deixem um vaso de flores apoiado na janela.

Para chegar ao município, distante apenas 130 km de João Pessoa, é preciso subir a Serra da Borborema. Se no verão a brisa ajuda a enfrentar as temperaturas altas, no inverno, os visitantes se defendem com calça, bota e casaco.

A serra está no brejo paraibano, o que explica as temperaturas tão serranas. O inverno mais gelado da região registrou 12°C.

Brejo, neste caso, não diz respeito a áreas pantanosas; o nome da região vem de “brejos de altitude”, como são conhecidas as áreas altas do Nordeste onde prevalece um clima mais úmido.

Mapa Turístico da Paraíba
Mapa Turístico da Paraíba

Caminhos do Frio

Caminhos do Frio” acontece em seis cidades serranas do Brejo paraibano: Areia, Bananeiras, Serraria, Pilões, Alagoa Nova e Alagoa Grande.

Em 1625, Areia era conhecida como Sertão dos Bruxaxás, numa alusão à tribo Bruxaxá. Posteriormente, esse povoado foi elevado à condição de vila, com o nome de Vila Real do Brejo de Areia. Areia foi a primeira cidade do Brasil a libertar os escravos dez dias antes da oficialização da Lei Áurea, em 3 de maio de 1888.

O município está a uma altitude superior a 600 metros e apresenta um clima agradável o ano inteiro, sendo um dos mais frios da Paraíba. No inverno, a temperatura chega a 12 ºC. A cidade possui um conjunto arquitetônico peculiar, tanto urbano como rural, formado por igrejas, museus, prédios públicos, fazendas e engenhos que fabricam rapadura, açúcar mascavo e as famosas cachaças.

Mapa das cidades do Brejo Paraíbano
Mapa das cidades do Brejo Paraíbano

Reino do Açúcar

“O açúcar adoçou tantos aspectos da vida brasileira que não se pode separar dele a civilização nacional.” Em poucos lugares do Nordeste brasileiro, a frase do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre faz tanto sentido quanto no Brejo paraibano.

Apenas em Areia, mais de 100 engenhos estavam em atividade entre meados do século 19 e o final da década de 1960. Hoje, os poucos mais de 20 que sobreviveram mantêm a tradição. Areia abriga os primeiros engenhos da Paraíba que contaram com máquinas a vapor, a exemplo do Engenho Vaca Brava, inaugurado em 1860 e considerado o mais antigo da região.

Aurélio Leal, seu proprietário, é especialista em contar histórias da época em que as fazendas eram equipadas com senzalas e os escravos moíam a cana. Ainda hoje, a cachaça produzida no Vaca Brava é armazenada em barris de umburana e de jequitibá.

Areia na Paraíba
Areia na Paraíba

Pontos Turísticos da Cidade de Areia PB

Areia tem uma cultura forte, que parte de filhos que deixaram um legado memorável à história da cidade e do país. A cidade é lembrada como a terra do pintor Pedro Américo, do escritor José Américo de Almeida e do Padre Azevedo, inventor da máquina de escrever, entre tantos outros filhos ilustres.

Areia na Paraíba
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Conhecida como “Terra da Cultura”, Areia sedia o primeiro teatro construído no estado da Paraíba, o Teatro Minerva, edificado em meados do século XIX, além de outros prédios históricos que tornam emblemática a cultura regional.

1. Engenho da Cachaça Triunfo

O Engenho Triunfo é um importante monumento histórico da Paraíba e um passeio pela história da cana-de-açúcar. O engenho, construído em 1850, conta com diversas construções históricas, como a casa grande, a capela e as senzalas. Além disso, o local oferece visitas guiadas e degustações de cachaça, um dos principais produtos fabricados.

Engenho da Cachaça Triunfo em Areias PB
Engenho da Cachaça Triunfo em Areias PB

A Cachaça Triunfo começou em 1994, a partir do sonho de Antônio Augusto. Embora não fosse filho de nenhum Senhor de Engenho nem tivesse os conhecimentos para fabricar cachaça, ele apostou nos sonhos, enfrentou os desafios, aprendeu sobre cachaça e hoje a Triunfo vende mais de 250 mil garrafas por mês e também exporta, gerando 69 empregos diretos e mais de 1.000 indiretos.

Durante a visitação, o turista conhece todo o processo da produção da cachaça Triunfo, faz a degustação do caldo da cana, sucos e sorvetes de cachaça, além de visitar a loja de produtos da marca. O local ainda possui um lago com pedalinhos para passeios com crianças.

Endereço: Sítio Macaíba, S/N, Zona Rural de Areia

2. Engenho Várzea do Coaty

Existindo desde 2008, o Engenho Várzea do Coaty está localizado na zona rural de Areia, no distrito de Santa Maria. É um espaço com história e regionalidade. A Casa Grande é de 1920, com arquitetura inglesa e uma das primeiras casas construídas com cimento. Outra característica peculiar é que o equipamento turístico ainda possui o quarto do caritó, dedicado às moças virgens que não casaram jovens, originando a expressão “ficou para o caritó”, do século XVI.

O piso de ladrilho da Casa Grande é original, assim como as paredes largas, característica das construções da época. A visita é acompanhada por um guia que conta as histórias que envolvem a família e o atrativo.

A Várzea do Coaty abriga ainda um restaurante regional que oferece forró pé-de-serra e pratos diferenciados, como: Gratinado ao Sol da Várzea (carne de sol, creme branco e banana grelhados ao forno), desenvolvido para o projeto Saberes e Sabores. As sobremesas são naturais, com doces caseiros de frutas da época e de leite, produzido a partir dos animais da propriedade. Os alimentos consumidos no restaurante também são oriundos de famílias da região que atuam na agricultura familiar.

Endereço: Distrito de Santa Maria, zona rural de Areia

3. Casa Pedro Américo

O museu existe desde 1943. Nele, o visitante visualiza a obra original única “Cristo Morto” de 1901 e as réplicas do pintor e escritor areiense Pedro Américo: “O grito do Ipiranga” (obra original se encontra no Museu do Ipiranga em São Paulo) e a “Batalha do Havaí” (que retrata a Guerra do Paraguai, obra original está no Museu das Belas Artes, no Rio de Janeiro).

Casa Pedro Américo em Areias PB
Casa Pedro Américo em Areias PB

O Museu abriga ainda os esboços originais feitos pelo artista quando ainda era criança e adolescente, além de fotos de Pedro Américo e seus familiares. O Museu está entre os atrativos mais movimentados de Areia pelo peso histórico que ele representa. O local foi onde nasceu o escritor, em 1843, e teve sua fundação em comemoração ao seu centenário, em 1943.

Pedro Américo seguia as tendências do Romantismo no Brasil, período em que os artistas buscavam valorizar o nacionalismo, retratando fatos históricos importantes e contribuindo para a formação de uma identidade nacional.

Horário de funcionamento: das 8h às 18h – todos os dias, com taxa de visitação meia e inteira.

Endereço: Rua Pedro Américo, 66

4. Praça Ministro José Américo de Almeida

Praça construída em 1980 em homenagem ao escritor, político e ministro José Américo de Almeida, autor de obras como: A bagaceira e responsável por trazer à Paraíba a Primeira Instituição de Ensino Superior do estado.

Escola e Praça Ministro José Américo de Almeida em Areias PB
Escola e Praça Ministro José Américo de Almeida em Areias PB

5. Casarão José Rufino de Almeida

Construído em 1818 pelo português Francisco Jorge Torres, entrar no casarão é uma viagem no tempo. O prédio foi o primeiro sobrado construído na Vila Real de Areia e é reconhecido como a única senzala urbana da Paraíba.

O prédio preserva a estrutura original das paredes e arquitetura, e mesmo com a restauração, com réplicas do assoalho e alguns outros espaços como varandas, o casarão não perde seu encanto. No térreo, funcionava o comércio de vários produtos, desde seda até fumo de rolo. No primeiro andar, morava a família do português, e na área de trás da casa, está localizada a senzala com 12 cubículos medindo 2m40 x 2m40 cada, onde abrigava entre 8 e 12 negros homens e mulheres.

No centro dele, havia um pelourinho, onde os negros eram penalizados com torturas como forma de servir de exemplo para os demais. No casarão, é possível ver, abaixo do telhado, a formação das eiras, beiras e tribeiras. Essa arquitetura representava à sociedade o nível econômico da família; quanto mais eiras a família tivesse, mais rica seria, daí vem a expressão “fulano não tem eira e nem beira”.

Atualmente, o Casarão é o maior ponto de visitação na arte histórica de Areia. O espaço homenageia homens e mulheres que contribuíram para o desenvolvimento econômico, político, religioso, social e cultural da Paraíba. Os cubículos (6 unidades na área térrea e outros 6 no 1º andar) hoje servem como bibliotecas, abrigando livros que abordam a história da Paraíba e do Brasil.

Endereço: Praça Pedro Américo e Praça João Pessoa

6. Teatro Minerva – Primeiro Teatro da Paraíba

Erguido por mãos escravas e com uma arquitetura que reflete a época de ouro da região, o Teatro Minerva é uma visita obrigatória em um roteiro pelos monumentos históricos da cidade. Inaugurado em 1859, todo em estilo barroco, a edificação chama a atenção pela riqueza dos detalhes em madeira, tornando-se uma relíquia arquitetônica.

Teatro Minerva em Areias PB
Teatro Minerva em Areias PB

Impossível não se encantar com a atmosfera que permeia o prédio e promove uma volta ao tempo em que grandes companhias europeias se apresentavam em seu palco para a satisfação dos senhores de engenho.

Teatro Minerva em Areia PB construído em 1859, em estilo barroco
Teatro Minerva em Areia PB construído em 1859, em estilo barroco

7. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída com apenas uma torre central, permite uma viagem no tempo e testemunha o foco original da cidade que cresceu junto com a exploração da cana-de-açúcar. No local onde está a catedral existia originalmente apenas um casarão de palha que, após sucessivas reformas, se transformou numa valiosa representação da qualidade colonial que faz do Brejo um laboratório para estudantes e amantes da arquitetura.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Areias PB
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Areias PB

Quem gosta de arte barroca não pode deixar de visitar a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Areia, na Paraíba, vizinha a Bananeiras. O seu teto é todo pintado, uma verdadeira e legítima referência da arte barroca paraibana do século XIX. Além das imagens sacras e dos pisos de ladrilhos antigos, que complementam a atmosfera de arte e cultura.

O teto da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Areia PB
O teto da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Areia PB

8. Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Tão importante quanto a matriz é a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, uma das mais antigas do estado, construída pelos escravos e que revela um estilo próprio. De suas janelas, descortina-se uma Areia de praças bem-ornamentadas e ruas de pedra bruta.

Igreja do Rosário em Areia PB
Igreja do Rosário em Areia PB

Embora não se tenham dados concretos, sabe-se que a Igreja do Rosário é uma das mais antigas da Paraíba. Sua construção foi iniciada em meados do século XVIII e concluída no século XIX, no ano de 1886, com a chegada de uma verba de quatro contos de réis concedida pelo Governo da Província da Paraíba. Ainda em 1886, foi celebrada a primeira festa religiosa na Igreja do Rosário.

Em 1873, o Pe. Antônio José Borges, autorizado pelo Vigário Odilon Benvindo, instalou a Irmandade existente até os dias de hoje. Em 1952, a Irmandade do Rosário teve suas atividades paralisadas, tendo sido reiniciadas em 1989. Os escravos foram os responsáveis pela mão-de-obra utilizada na construção e na história de Areia.

9. Espaço da Arte

O Espaço da Arte é onde uma associação reúne as peças de 10 artesãos da cidade de Areia, que trabalham com diversos materiais, como: tecido, cerâmica, madeira, linhas (crochê e tricô) e ofertam peças bem elaboradas, como conjuntos de cozinha, pinturas em tela, além de cachaças, rapaduras, mel e licores produzidos em Areia.

Endereço: Rua Pedro Américo, S/N

História da cidade de Areia na Paraíba

No processo de povoamento do interior da Paraíba, Areia se originou de um ponto estratégico de parada e abrigo dos tropeiros que vinham do sertão em direção ao litoral para a comercialização de seus produtos. A partir do final do século XVII e início do século XVIII, surgiu o povoado inicialmente denominado Sertão do Buxaxá (“terra onde canta a cigarra”). Buxaxás eram os índios que, primitivamente, habitavam a região.

Por essa época, no local onde hoje se ergue a cidade, um português construiu um albergue à margem do cruzamento de estradas muito frequentadas pelos viajantes e tropeiros que, procedentes do alto sertão paraibano ou de Pernambuco, seguiam para outras vilas da região. O colono recebeu a alcunha de Buxaxá devido à amizade que fez com os nativos. O movimento pelo local atraiu habitantes, formando-se ali, em pouco tempo, uma próspera povoação, que passou a chamar-se Brejo de Areia, em virtude de correr nas imediações o riacho de nome Areia.

O distrito foi criado com a denominação de Brejo d`Areia, em 1813, subordinado à Vila de Monte-Mor. O município surgiu desmembrado da Vila de Monte-Mor (atual Mamanguape), em 1815, e o povoado foi elevado à categoria de vila, em 1815. Em 1846, passou à condição de cidade e sede municipal com o nome de Areia, que é lembrada também pela participação de seus habitantes em importantes movimentos políticos do século XIX.

A população aderiu ao movimento libertador de Pernambuco e participou das revoluções Confederação do Equador (1817) e Revolução Praieira (1848). Durante a Confederação, partiram de Areia (que foi sede temporária da Província) as tropas do sargento-mor Félix Antônio Ferreira de Albuquerque, que combateram as forças legais. A esses homens se incorporaram os remanescentes dos batalhões de Pais de Carvalho e marcharam até o Ceará, onde foram aniquilados. Em fevereiro de 1849, travou-se, em Areia, o último combate da Revolução Praieira.

Os rebeldes, depois do malogrado ataque ao Recife, invadiram a Paraíba e se refugiaram em Areia, onde receberam auxílio do juiz municipal Maximiano Lopes Machado e do coronel Joaquim dos Santos Leal. Entrincheiraram-se na cidade e sustentaram seis horas de combate, que terminou em fuga e dispersão pelo interior.

Na cidade, a campanha abolicionista foi das mais intensas, destacando-se a Mocidade Emancipadora Areiense, à frente da qual se encontrava Manuel da Silva. Os areienses libertaram o último escravo em 3 de maio de 1888, dez dias antes da proclamação da Lei Áurea.

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