Este post também está disponível em: Português English
Conheça a história do Pantanal Matogrossense e sua transformação ao longo dos séculos, desde a ocupação por fazendas de gado até a ascensão do ecoturismo.
Distante dos pólos industriais, o Pantanal Matogrossense se manteve quase intocado durante séculos, até que seus espaços fossem ocupados por fazendas de gado.
Hoje, o ecoturismo emerge no Pantanal como fator de desenvolvimento econômico da região.
A História do Pantanal Matogrossense começa com os primeiros aventureiros europeus que, ainda na primeira metade do século XVI, percorreram a porção oeste dos atuais estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, perto do Paraguai e da Bolívia, pouco se interessaram pelo lugar.
O Pantanal Matogrossense desnorteava os conquistadores com seus labirintos de rios e suas vastas planícies alagadas, habitadas por diferentes povos indígenas: xaraiés (xarayés), orejones, guaxaparatos
Os mais numerosos, no entanto, eram os guaicurus e os paiaguás.
Os índios guaicurus, exímios cavaleiros, dominavam toda a parte sul do Pantanal, área entre a serra da Bodoquena e Porto Murtinho.
Os índios paiaguás, canoeiros, ocupavam os territórios às margens dos rios Paraguai, Miranda, Negro e Taquari.
Também eram canoeiros os índios guatós, que viviam dispersos em pequenos grupos.
Esse encontro inicial entre europeus e nativos ocorreu em 1543, quando a expedição comandada pelo espanhol Álvaro Nunes Cabeza de Vaca passou pelo Pantanal.
O Tratado de Tordesilhas garantia então à Espanha a posse de todas as terras ao longo desse meridiano.
Surpreendido pelo volume das águas, Cabeza de Vaca chamou a região de Mar dos Xaraiés; os espanhóis, contudo, estavam à procura de metais preciosos e, indiferentes, seguiram viagem.
O Pantanal somente despertaria o interesse dos colonos europeus dois séculos depois, quando a corrida pelo ouro arrastou bandeirantes paulistas ao Centro-Oeste.
A resistência indígena foi persistente e violenta; ainda assim, após séculos de confrontos, sua dizimação foi quase completa.
Os cadiuéus (kadiwéus), remanescentes dos guaicurus, vivem hoje em uma reserva próxima à serra da Bodoquena; os terenas pouco guardam de suas tradições e se deslocaram para a zona urbana.
Dos guatós, resta um número reduzido de indivíduos nos confins da serra do Amolar, próximo ao Parque Nacional do Pantanal.
HISTÓRIA DO PANTANAL MATOGROSSENSE
História do Pantanal Matogrossense, as expedições, a ocupação, a expansão territorial e o desenvolvimento econômico.
1. DESCOBERTA DO OURO
No ano de 1709, terminou na região das Minas Gerais a Guerra dos Emboadas, travada entre bandeirantes paulistas – que exigiam o monopólio da exploração das reservas auríferas que haviam descoberto – e exploradores portugueses e de outras regiões que haviam acorrido às lavras mineiras.
Vencidos, os paulistas passaram a buscar outras rotas, rumando em direção ao Centro-Oeste.
Em 1718, o bandeirante Pascoal Moreira Cabral encontrou ouro na região do córrego da Prainha, afluente do caudaloso rio Cuiabá; em 1727, Rodrigo César de Meneses, capitão-general da capitania de São Paulo, ergueu uma vila no local e a batizou com o mesmo nome do grande rio.
Apesar de pertencerem oficialmente à Espanha, as terras foram ocupadas por mineradores luso-brasileiros, que conviveram pacificamente com a população de alguns núcleos de ocupação espanhola comandados por jesuítas.
Para fortalecer sua presença na região, Portugal criou em 1748 a capitania de Mato Grosso, em uma área de cerca de 210 mil quilômetros quadrados.
Em 1750, o Tratado de Madri estabeleceu as fronteiras da região e oficializou a possessão de tais territórios pela Coroa portuguesa, que ordenou na sequência a construção de núcleos militares para proteger a nova capitania.
Um desses núcleos militares, o Forte Coimbra, erguido em 1775 nas proximidades de Corumbá, resiste até hoje.
Entre as várias vilas que surgiram naquela época, estão Miranda, Vila Maria do Paraguai e São Pedro Del Rei.
A riqueza do ouro, porém, foi breve – no começo do século XIX, a produção das lavras já declinava. A história do Pantanal tomaria novo rumo.
2. PECUÁRIA PANTANEIRA
A pecuária pantaneira, parte essencial da história e da cultura pantaneiras, era considerada atividade secundária durante o ciclo do ouro na Baixada Cuiabana, mas adquiriu força quando a exploração das lavras auríferas entrou em decadência.
A expansão foi rápida: as pastagens da planície facilitaram a adaptação dos animais e os latifúndios logo se consolidaram e prosperaram.
Ao longo do século XIX, os rebanhos cresceram, e multiplicaram-se os curtumes em que a carne era salgada para que pudesse ser exportada.
Foi o início da produção intensiva de carne bovina, que tinha como principal via de escoamento o rio Paraguai, através da navegação da bacia do Prata.
Várias comunidades se formaram em torno desses curtumes, ao longo do principal curso d’água regional.
O gigantesco labirinto de águas interiores, entretanto, permaneceu preservado, distante, ocupado por poucos homens e muitos bois.
3. EXPEDIÇÃO LANGSDORFF
As dificuldades de acesso e o isolamento do Pantanal do restante do território brasileiro concorreram para que o antigo Mar dos Xaraiés mantivesse ao longo do tempo sua aura de mundo perdido e selvagem – e, como tal, atraísse o interesse de cientistas, aventureiros e cronistas, sobretudo durante o século XIX.
Entre as expedições que percorreram a região destaca-se a organizada pelo barão Georg Heinrich von Langsdorff, cônsul russo no Brasil.
A Expedição Langsdorff viajava em direção à Amazônia e passou pelos sertões brasileiros entre os anos de 1821 e 1829.
O desenhista oficial Hercule Florence foi o responsável pelos cadernos de viagem – publicados sob o nome de Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas – onde registrou a sociedade e a natureza pantaneiras da época.
A comitiva se hospedou na Fazenda Jacobina, nas proximidades da cidade de Cáceres já perto da fronteira boliviana – uma propriedade típica dos grandes latifúndios desenvolvidos no século XIX, com total autonomia, lavoura, muito gado e até milícia própria para garantir a lei nos domínios dos coronéis da pecuária.
Acompanhando Langsdorff estavam Ludwig Riedel (botânico), Nestor Rubtsov (astrônomo), o médico e zoólogo Cristian Hasse, além de escravos, guias e remadores, somando 39 pessoas na expedição.
Juntamente com os cientistas, fizeram parte da expedição o artista alemão Johan Mauritz Rugendas (João Mauricio Rugendas) e os franceses Aimé-Adrien Taunay (Aimé Adriano Taunay) e Hercule Florence (Hércules Florence).
Os registros de Hercule Florence (Hércules Florence), ao lado dos trabalhos do artista alemão Rugendas (1802 – 1858) e do desenhista francês Adrien Taunay (1803 – 1828), constituem a única documentação completa dessa viagem.
4. GUERRA DO PARAGUAI
Desde os primeiros anos do século XIX, Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina debatiam-se em conflitos fronteiriços.
O presidente paraguaio, Francisco Solano López, apoiou o presidente do Uruguai, Atanásio Aguirre, quando este resistiu a uma intervenção do Brasil, que exigia o pagamento de indenização a fazendeiros gaúchos supostamente prejudicados por uruguaios.
Tropas brasileiras invadiram Montevidéu e derrubaram Aguirre; Francisco Solano López, presidente paraguaio, revidou e invadiu as cidades de Corumbá e Cáceres, fazendo com que os fazendeiros se deslocassem para Cuiabá.
Foi o início, em 1864, do mais sangrento conflito da América Latina: a Guerra do Paraguai, que dizimou cerca de dois terços da população paraguaia.
Brasil, Argentina e Uruguai uniram-se na chama da Tríplice Aliança, financiada pela Inglaterra.
Seguiram-se cinco anos de lutas, travadas em terra e nos rios Paraná e Paraguai, em que o Paraguai foi arrasado pela superioridade naval aliada, sobretudo brasileira.
Entre as batalhas, as mais conhecidas foram a Naval de Riachuelo, a Retirada de Laguna e a Tomada do Forte Coimbra.
Em 1870, Solano López foi capturado e morto.
Com a vitória na Guerra do Paraguai, o Brasil ampliou seu território, incorporando 47 mil quilômetros de terras paraguaias, boa parte dos quais integra o Pantanal mato-grossense — entre outras consequências, a incorporação dessa área aprofundou e ampliou a influência da cultura platina sobre o Pantanal.
As fazendas e as cidades pantaneiras sofreram com o embate: várias delas foram destruídas e o gado restante dispersou-se pela planície, tornando-se selvagem e arisco.
Com o final do conflito, as propriedades rurais foram novamente divididas e a da navegação do rio Paraguai até o estuário do Prata foi reaberta.
5. PRESERVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
No século XX, o Mato Grosso emergiu como uma economia próspera apoiada na pecuária, e desde então vem rompendo lentamente o seu isolamento do restante do Brasil e do mundo.
Em 1905, teve início a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, entre a cidade de Bauru, em São Paulo, e Corumbá.
O Marco da conexão do Mato Grosso aos centros industriais no Sudeste, a estrada foi privatizada em 1996 e passou a se chamar Ferrovia Novoeste SA.
Outro momento fundamental da integração do Pantanal deu-se em 1913, quando a Expedição Científica Roosevelt-Rondon realizou o reconhecimento zoogeógrafo das terras do extremo oeste brasileiro, com o apoio do Museu Americano de História Natural.
A comissão Rondon, após passar pelos confins da jurisdição de Cáceres, seguiu pelo rio Paraguai.
Tinha como objetivo, além da dar continuidade à secular tradição das expedições científicas, expandir a rede telegráfica nacional e explorar um vasto território até então desconhecido.
Na década de 1930, o antropólogo Claude Lévi-Strauss debruçou-se sobre a diversidade etnográfica do mundo pantaneiro: foi a partir de sua estada nas aldeias dos bororos e cadiuéus que o estudioso estabeleceu os fundamentos da antropologia no século XX.
Apesar dos movimentos de integração, o Pantanal manteve-se quase intacto até as décadas de 1960 e 1970, quando o impacto da invasão de couteiros – em busca do cobiçado couro de jacaré – e da pesca predatória se tornou evidente.
No final dos anos 1970, o governo federal começou a intervir nas questões ambientais.
Em 1977, para facilitar sua administração, o estado do Mato Grosso foi dividido em dois: Mato Grosso (MT), com capital em Cuiabá, e Mato Grosso do Sul (MS), cuja capital é Campo Grande. Ao longo do século, intensificou-se a chegada de imigrantes à região, vindos notadamente do Sul e do Sudeste em busca de terras para a pecuária e o cultivo de soja.
Em princípios do século XXI, a construção do gasoduto Brasil-Bolívia promete oferecer energia para a instalação de indústrias pesadas no entorno da planície do Pantanal — um processo já em andamento e cuja intensificação desperta a apreensão dos ambientalistas.
O universo pantaneiro, embora frágil, permanece como uma vastidão de incertas fronteiras, ainda repleto de mistérios e descobertas. Cada vez mais valorizado pelo seu potencial em recursos naturais, foi declarado, em 2000, Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, tornando-se um dos destinos mais procurados por ecoturistas de todo o mundo.
Agora a planície alagada se prepara para um novo desafio: o de abrir-se para o turismo organizado, que cada vez mais se firma como eixo de preservação e sustentabilidade econômica.
História do Pantanal Matogrossense, as expedições, a ocupação, a expansão territorial e o desenvolvimento econômico.
Veja as seguintes publicações sobre o pantanal
- Observação de Mamíferos e Répteis no Pantanal
- Pescar no Pantanal – Melhores lugares, iscas, modalidades e épocas
- Espécies de peixes mais encontrados no Pantanal
- Observações de Aves no Pantanal Matogrossense
- Espécies de aves mais comuns no Pantanal Matogrossense
- Flora do Pantanal Matogrossense
- Fauna do Pantanal Matogrossense
- Pantanal Matogrossense – Geografia, Clima, Solo e Rios
- História do Pantanal Matogrossense – Descoberta e Desenvolvimento Econômico
- Região do Pantanal Sul
- Região do Pantanal Norte
- Por que ir ao Pantanal Matogrossense?