Ocupação da Costa Africana, das Ilhas do atlântico e a viagem de Vasco da Gama

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Ocupação da Costa Africana, das Ilhas do atlântico e a A viagem de Vasco da Gama à Índia

Introdução

Neste tópico iremos estudar a ocupação da costa africana, bem como as ilhas do Atlântico, colonizadas pelos portugueses a partir do século XV. Além disso, estudaremos a viagem de Vasco da Gama, viagem esta que levou ao descobrimento de uma rota marítima até as Índias.

Desde o início do século XV os portugueses vinham explorando a costa africana e sua intenção era fundar feitorias que viessem a garantir o comércio com estas regiões desconhecidas.

O principal interesse dos portugueses era a busca de metais preciosos, especiarias e, mais tarde, escravos africanos.

Em decorrência dos avanços dos conhecimentos adquiridos com o prolongamento das expedições que colonizaram a costa africana e ilhas do Atlântico, Portugal pôde chegar até a Índia, região rica em especiarias.

cabo bojador na Africa
cabo bojador na Africa

Foi a partir da expedição de Vasco da Gama que Portugal pôde manter comércio com o oriente.

Além disso, esta expedição provou a viabilidade de uma rota marítima que levasse até o oriente. A partir da expedição de Vasco da Gama muitas outras foram realizadas, incluindo a de Pedro Álvares Cabral que culminou com o “descobrimento” do Brasil em 1500.

A ocupação da Costa Africana, das Ilhas do atlântico

O marco inicial da ocupação da costa africana foi a conquista de Ceuta, localizada no norte da África (atual Marrocos), em 1415.

Essa conquista foi o ponto de partida para a expansão portuguesa.

Foi a partir deste entreposto que os portugueses levaram adiante seu  projeto de ocupação e conquista da costa africana ocidental das Ilhas da Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé.

A partir desta conquista a expansão se estendeu a toda a costa.

A expansão metódica desenvolveu-se ao longo da costa ocidental africana e nas ilhas do Oceano Atlântico.

Fruto do mesmo movimento, o contato com esses dois espaços geográicos resultou em situações tão diversas, que vale a pena separá-las em nossa exposição.

O reconhecimento da costa ocidental africana não se fez da noite para o dia.

Levou 53 anos, da ultrapassagem do Cabo Bojador por Gil Eanes (1434) até a temida passagem do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias (1487).

A partir da entrada no Oceano Índico, foi possível a chegada de Vasco da Gama à Índia, a sonhada e ilusória Índia das especiarias.

Depois, os portugueses alcançaram a China e o Japão, onde sua inluência foi considerável, a ponto de os historiadores japoneses chamarem de “século cristão”, o período compreendido entre 1540 e 1630.

Os portugueses, no processo de colonização da costa, não procuravam penetrar no continente, a intenção dos mesmos era estabelecer diversas feitorias (postos fortiicados e de comércio) com o objetivo de efetuar trocas e comercializar produtos com os nativos.

Não foi realizada pelos portugueses uma colonização efetiva do continente africano, pois geralmente os lusitanos preferiam estabelecer as feitorias.

Estas feitorias geralmente eram mantidas com a intervenção militar.

Sem penetrar profundamente no território africano, os portugueses foram estabelecendo na costa uma série de feitorias, que eram postos fortificados de comércio; isso indica a existência de uma situação em que as trocas eram precárias, exigindo a garantia das armas.

A parte comercial do núcleo era dirigida por um agente chamado feitor.

Cabia a ele fazer compras de mercadorias dos chefes ou mercadores nativos e estocá-las, até que fossem recolhidas pelos navios portugueses para a entrega na Europa.

A opção pela feitoria praticamente tornava desnecessária a colonização do território ocupado pelas populações africanas, bem organizadas a partir do Cabo Verde.

Apesar dos portugueses não penetrarem de forma efetiva na costa africana e não promoverem a colonização deste espaço, eles criaram uma série de procedimentos que garantiam o efetivo controle do comércio realizado nesta região.

Mas se os portugueses não avançavam territorialmente, a Coroa organizou o comércio africano, estabelecendo o monopólio real sobre as transações com ouro, obrigando a cunhagem de moeda em uma Casa de Moeda e criando também, por volta de 1481, a Casa da Mina ou Casa da Guiné, como uma alfândega especial para o comércio africano.

Da costa ocidental da África, os portugueses levavam pequenas quantidades de ouro em pó, marfim, cujo comércio se achava até então em mãos de mercadores árabes e era feito através do Egito, a variedade de pimenta chamada malagueta e, a partir de 1441, sobretudo escravos.

Estes foram, no começo, encaminhados a Portugal, sendo utilizados em trabalhos domésticos e ocupações urbanas.

Com relação à colonização das Ilhas, o processo foi mais elaborado.

Os portugueses, desde o início enviaram colonos para o seu efetivo povoamento, além de incentivar a criação de carneiros e o cultivo da cana-de-açúcar, do trigo e das vinhas.

Desta forma, desde a primeira metade do século XV, as ilhas se transformaram em importantes colônias avançadas da expansão marítima portuguesa.

Os portugueses, que já anteriormente a tinham conhecido, desembarcaram em Porto Santo em 1419 e na Madeira em 1420.

Alguns anos depois, a colonização foi iniciada. Uma centena de colonos foi ali instalada.

Começou imediatamente o desbravamento das terras.

Os pequenos abrigos dos primeiros colonizadores depressa se transformaram em vilas: o Funchal e o Machico receberam carta de foral em 1451.

No solo dos antigos bosques foi plantado trigo, a cana-de-açúcar e a vinha.

Em 1455 já a exportação para Portugal e para as fortalezas do norte da África era considerável.

O ritmo de desenvolvimento continuou muito intenso até o im do século.

Nas Cortes de 1481 afirmou-se que, no ano anterior, vinte naus estrangeiras tinham saído da ilha carregadas de açúcar e pede-se ao Rei que proíba ali a fixação de estrangeiros, que aluíam em grande número.

A população, antes de 1500, andava já por vinte mil pessoas.

O processo de colonização das ilhas daria experiência aos portugueses.

Mais tarde, com a colonização do Brasil, essa experiência seria útil, pois os portugueses iriam adaptar as estratégias de colonização das ilhas para o processo de povoamento e colonização do Brasil.

A história da ocupação das ilhas do Atlântico é bem diferente do que ocorreu na África.

Nelas os portugueses realizaram experiências signiicativas de plantio em grande escala, empregando trabalho escravo.

Após disputar com os espanhóis e perder para eles a posse das Ilhas Canárias, conseguiram se implantar nas outras ilhas: na Madeira, por volta de 1420, nos Açores, em torno de 1427, nas Ilhas de Cabo Verde, em 1460, e na de São Tomé, em 1471.

Na Ilha da Madeira, dois sistemas agrícolas paralelos competiam pela predominância econômica.

O cultivo tradicional do trigo atraiu um número considerável de modestos camponeses portugueses, que tinham a posse de suas terras.

Ao mesmo tempo, surgiram plantações de cana-de-açúcar, incentivadas por mercadores e agentes comerciais genoveses e judeus, baseadas no trabalho escravo.

A economia açucareira acabou por triunfar, mas seu êxito foi breve.

O rápido declínio deveu-se tanto a fatores internos como à concorrência do açúcar do Brasil e São Tomé.

De fato, nessa ilha situada no Golfo da Guiné, os portugueses implantaram um sistema de grande lavoura da cana-de-açúcar, com muitas semelhanças ao criado no Brasil.

Próxima da costa africana, especialmente das feitorias de São Jorge da Mina e Axim, a ilha contou com um abundante suprimento de escravos.

Nela existiram engenhos que, segundo uma descrição de 1554, chegavam a ter de 150 a 300 cativos.

São Tomé foi sempre um entreposto de escravos vindos do continente para serem distribuídos na América e na Europa, e esta acabou sendo a atividade principal da ilha.

Mapa da Africa de 1593
Mapa da Africa de 1593

Como vimos nos parágrafos anteriores, o ponto de partida para a colonização da costa africana foi a tomada de Ceuta, em 1415.

Porém, muito ainda teria que ser feito para que o caminho marítimo que levasse até as Índias fosse descoberto.

Vimos também que a colonização das ilhas do Atlântico forneceu experiência para que futuramente os portugueses implantassem no Brasil o latifúndio, o trabalho escravo e a monocultura da cana-de-açúcar.

Nos próximos parágrafos iremos estudar as diversas etapas que levaram a conquista da costa africana, bem como a descoberta do caminho marítimo até as Índias.

Entre os anos de 1421 e 1434, mais de 15 expedições portuguesas fracassaram diante do objetivo de ultrapassar o Cabo Bojador, na costa oeste da África.

Obstáculo muito mais simbólico do que técnico, pois o cabo forçava os navegadores a se afastarem da costa, o que na época era aterrorizante para os navegadores, pois os mesmos tinham temores de que as águas oceânicas eram habitadas por seres diabólicos.

O principal motivo para as diculdades na passagem do Cabo Bojador era o temor dos marinheiros portugueses de arriscarem-se no oceano; perto da costa, as correntezas, recifes e bancos de areia tornavam a passagem do cabo muito difícil, se não impossível, para os meios então disponíveis.

E no mar aberto, a superstição de que o oceano levava ao fim do mundo tirava a coragem dos mais ousados.

A superação dessa barreira mais psicológica que física, em 1434, foi o primeiro grande feito dos descobridores portugueses – porque, a partir dali, os obstáculos eram difíceis de transpor, mas todos os acreditavam transponíveis.

Após a superação do Cabo Bojador, as expedições portuguesas progrediram ano após ano em seu objetivo de conquistar a costa da África.

Dezenas de expedições foram organizadas e em 1444 o navegador Gil Eanes trouxe da África o primeiro carregamento de escravos, cerca de 200.

Esse carregamento trouxe otimismo aos portugueses, pois essa carga propiciava um bom lucro aos cofres da Coroa.

Além disso, a partir desse sucesso comercial a opinião pública portuguesa se mostrou favorável aos esforços de colonizar a costa africana.

Depois de 1445, os portugueses chegaram a regiões mais ricas da costa africana, e a partir daí seu comércio prosperou.

Doze anos mais tarde, um capitão veneziano a serviço de Dom Henrique descobriu o Arquipélago de Cabo Verde e navegou quase 100 quilômetros para o interior do continente através dos rios Senegal e Gâmbia.

O Rei de Portugal, Dom João II usufruiu da estrutura montada por seus antecessores.

O mesmo construiu fortiicações para proteger o comércio português na costa da África, além disso, ele financiou expedições terrestres ao interior do continente.

O avanço naval em direção ao sul foi mantido por Diogo Cão que atingiu a foz do Rio Congo entre 1480 e 1484.

O otimismo em Portugal era crescente, pois segundo os relatos de Covilhã, os navios portugueses poderiam atingir a costa oriental da África com facilidade, pois existiam víveres em abundância em toda a costa.

Para tanto, era necessário superar um grande desafio, ultrapassar o Cabo das Tormentas que mais tarde será chamado de Cabo da Boa Esperança.

Para entendermos com mais clareza o processo histórico que levou à ultrapassagem do Cabo da Boa Esperança pela expedição de Bartolomeu Dias, em 1488, apresentaremos um fragmento do livro “Os Descobrimentos – Origens da Supremacia Europeia”, do historiador Paulo Migliacci. Vamos a ele.

Assim, para abrir a almejada rota marítima, D. João II preparou cuidadosamente uma grande expedição destinada a contornar a África e atingir os mares da Índia.

O projeto, sob o comando de Bartolomeu Dias, envolvia três navios, duas caravelas e um navio de abastecimento.

Bartolomeu Dias transportava seis africanos capturados nas expedições anteriores dos portugueses à África e que deveriam ser desembarcados na costa a intervalos regulares para fazer contato com os navios das regiões inexploradas e iniciar relações comerciais.

Depois de desembarcar o último destes mensageiros, os navios de Bartalomeu Dias enfrentaram uma tempestade que os levou para longe da costa, rumo ao sul, em mar aberto.

Ao terminar a tempestade, Bartalomeu Dias ordenou que seus navios tomassem rumo leste, em busca da costa africana.

Após velejar 700 quilômetros sem encontrar terra, Bartalomeu Dias determinou uma rota para o norte, e com outros 250 quilômetros de viagem, encontrou terras nas proximidades da atual Cidade do Cabo, na África do Sul.

Localizara-se a extremidade meridional da África. A rota para a Índia estava praticamente aberta.

Ele acompanhou a costa, que se dobrava rumo nordeste, por mais de 500 quilômetros, abrindo uma rota para o Índico.

Bartolomeu Dias queria prosseguir, mas seus comandados recusaram-se.

Localizando o navio de abastecimento no retorno pela África, as duas caravelas de Dias encaminharam-se a Portugal, onde chegaram em dezembro de 1488, dezesseis meses e meio depois da partida.

No porto de Lisboa, Cristóvão Colombo assistiu à chegada das caravelas.

Quando soube das notícias que traziam, concluiu que seria inútil tentar de novo o patrocínio do soberano português para sua viagem às Índias pela rota do oeste, já que o caminho do leste estava aberto aos portugueses.

Entre o retorno de Dias, 1488, e a expedição de Vasco da Gama, a primeira a chegar à  Índia, em 1498, decorreram nove anos.

Os motivos da demora foram, inicialmente, a doença de Dom João e as controvérsias quanto à sucessão, seguida mais tarde pela morte do rei e finalmente, pela ascensão de seu filho Dom Manuel, o Venturoso, 1495.

Nesse meio tempo, houve ainda o envolvimento de Portugal numa disputa diplomática com os espanhóis sobre os territórios descobertos por Cristóvão Colombo, resolvida em 1494, pelo Tratado de Tordesilhas.

Mas talvez o verdadeiro motivo do atraso dos portugueses tenha sido a realização de   expedições (tão secretas que nem sequer temos registros delas) para traçar as melhores rotas de navegação pelo Atlântico Sul.

Isso pode ser deduzido pelo trajeto que Vasco da Gama viria a percorrer, não acompanhando a rota da costa africana utilizada pelos navios de comércio portugueses, mas penetrando profundamente no Atlântico para aproveitar os ventos favoráveis à navegação rumo ao leste, que prevalecem próximos às costas sul-americanas.

Mapa do Mundo de 1584
Mapa do Mundo de 1584

Descoberta do caminho marítimo até as Índia – A Viagem de Vasco da Gama

Após dois anos de preparativos, finalmente a expedição de Vasco da Gama rumo às Índias deixava Portugal.

Esta expedição foi uma das mais importantes para Portugal, pois abriria uma rota comercial sem precedentes na história do comércio europeu com o oriente.

Além disso, ela irá contribuir signiicativamente para a solidez do império português.

NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS – SÉCULO XV-XVI
NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS – SÉCULO XV-XVI

Outro fator que agrega importância a esta expedição é o fato de que após a sua realização será organizada uma segunda expedição comandada por Pedro Álvares Cabral que culminará na “descoberta” do Brasil.

Acerca da expedição de Vasco da Gama, Paulo Migliacci (1997, p. 44) afirma que:

Depois de dois anos de preparativos, a expedição de Vasco da Gama, com dois barcos de velas quadradas, uma caravela de velas latinas e um navio de abastecimento, partiu com 170 tripulantes e provisões para três anos.

Saindo de Lisboa em junho de 1497, os navios fizeram uma parada de reabastecimento nas Ilhas de Cabo Verde e adentraram o Atlântico, chegando à costa sul africana 93 dias mais tarde.

Dali, depois de encontrar o caminho rumo ao norte e de perder algum tempo negociando sua passagem junto aos sultões mulçumanos das cidades costeiras de Moçambique e da Tanzânia, Vasco da Gama levou sua expedição a Calicute.

A expedição chefiada por Vasco da Gama pode ser considerada como a conclusão do esforço português relacionado à navegação na costa africana. Esforço este que tem origem desde a época de Henrique, o Navegador.

A expedição representa o acúmulo de conhecimentos marítimos relacionados aos esforços anteriores, sendo um dos principais frutos da Escola de Sagres.

Vasco da Gama recorreu à experiência dos navegadores anteriores, seguindo à risca os conselhos de Bartolomeu Dias.

Vasco daGama pôde se beneficiar dos ventos favoráveis e alcançar o mais rapidamente possível o Cabo da Boa Esperança.

MAPA DAS NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS – SÉCULO XV-XVI
MAPA DAS NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS – SÉCULO XV-XVI

Navegar nesta região era muito difícil, pois não existiam mapas e cartas de navegações coniáveis que permitissem a localização da esquadra.

Neste sentido, foi necessário que Vasco da Gama contratasse um piloto mulçumano para guiar a sua frota até Calicute.

“Conta-se que o piloto que Vasco da Gama contratou para guiá-lo a Calicute era Ibn Majid, o mais brilhante dos navegadores árabes, e que gozava da fama de ser o homem que mais conhecia o Mar Vermelho e o Oceano Índico”. (MIGLIACCI, p. 45).

Os portugueses atingiram as Índias depois de um esforço de 70 anos, este esforço tinha a intenção de abrir o oriente ao comércio europeu, destruindo assim os diversos monopólios comerciais que predominavam na época.

Os feitos de Vasco da Gama podem ser considerados superiores aos feitos de Cristóvão Colombo, pois Portugal não fez as descobertas ao acaso como Colombo.

Os portugueses foram extremamente criteriosos e cientíicos nas suas expedições.

O interesse de Portugal ao aportar na Índia era de garantir a rota das especiarias, pois as mesmas possuíam grande valor comercial.

Mas qual o significado da palavra especiaria?

A palavra é de origem latina e signiica especia, termo utilizado pelos médicos para designar substância.

“O termo ganhou depois o sentido de substância muito ativa, muito cara, utilizada para vários ins, como condimento – isto é, tempero de comida –, remédio ou perfumaria”. (FAUSTO, 2007, p. 26).

Especiaria se associa à ideia de produto caro, durante algum tempo o açúcar foi considerado uma especiaria, porém com sua produção em larga escala ele perdeu este status.

São consideradas especiarias a noz-moscada, o gengibre, a canela, o cravo e, especialmente a pimenta que permitia a conservação dos alimentos, principalmente da carne.

Nas palavras de Boris Fausto (2007, p. 28), as especiarias eram importantes, pois:

O alto valor das especiarias se explica pelos limites das técnicas de conservação existentes na época e também por hábitos alimentares.

A Europa Ocidental da Idade Média foi “uma civilização carnívora”.

Grandes quantidades de gado eram abatidas no início do verão, quando as forragens acabavam no campo.

A carne era armazenada e precariamente conservada pelo sal, pela defumação ou simplesmente pelo sol.

Esses processos, usados também para conservar o peixe, deixavam os alimentos intragáveis, e a pimenta servia para disfarçar o que tinham de desagradável.

Os condimentos representavam também um gosto alimentar da época, como o café, que bem mais tarde passou a ser consumido em grande escala em todo o mundo.

Havia mesmo uma espécie de hierarquia em seu consumo: na base, os de cheiro acre, como o alho e a cebola; no alto, os condimentos mais inos, com odores aromáticos, suaves, lembrando o perfume das lores.

Segundo o relato anterior, podemos imaginar a importância das especiarias na sociedade europeia dos séculos XV, XVI e XVII.

Em função desta importância, os portugueses investiram muitos recursos, materiais e humanos no processo de abertura de uma rota com o oriente.

A expedição de Vasco da Gama fez contato com Calicute, na Índia, porém ela não foi bem recebida pelos governantes locais.

“Gama voltou a Lisboa em 1499, com dois dos quatro navios e 55 dos 170 homens, sem ter obtido a amizade do Samorim (rajá, governante local), que significaria a permissão de instalar um posto comercial na cidade”. (MIGLIACCI, 1997, p. 45).

Para entendermos melhor a questão da negação da população indiana, bem como dos comerciantes muçulmanos frente aos desejos dos portugueses em constituírem parcerias e feitorias comerciais em território indiano, introduziremos na discussão um fragmento do livro “Os Grandes Exploradores – de Cristóvão Colombo à Conquista do Continente Africano” (2009, p. 94-95).

Dificuldades nas Índias

Nos portos da costa oriental da África, os habitantes, muçulmanos, e particularmente os comerciantes árabes, cientes dos objetivos da missão e das consequências que podem resultar para eles, manifestam para com os portugueses uma franca hostilidade.

Ocorre o mesmo na Índia, onde a existência de Estados fortemente estruturados e dotados de poderosos meios de ação para dificultar o explorador, combinada com a má vontade dos exploradores e dos comerciantes árabes, que fazem de tudo para afastar Vasco da Gama e impedi-lo de conseguir seda e especiarias, quase fazem a empresa malograr.

A decepção do enviado de João II é muito maior do que os portugueses tinham julgado até então, ou seja, que os muçulmanos só mantinham uma fração da rota que conduzia para as especiarias e não todos os Estados da Índia.

Ora, Vasco da Gama é forçado a constatar isso: o espaço controlado pelo Islã é muito mais considerável do que a opinião comum admitia: regiões inteiras da Índia estão nas mãos dos muçulmanos.

Vasco da Gama descobre também aos poucos, para sua grande inconveniência, que as práticas comerciais a que os portugueses se habituaram nas costas africanas, isto é, a troca de quinquilharias por objetos de valor, não tem eficácia no território indiano.

Os mercadores indianos só demonstram desprezo pelas imitações de vidro, tão apreciadas pelos africanos.

O investimento será, portanto, mais pesado do que o previsto, caso os portugueses cheguem a ter acesso às mercadorias que cobiçavam.

Mais pesado relativamente, porque o chefe da expedição tem uma boa surpresa ao constatar que, no total, as especiarias oferecidas no local estão com um preço irrisório com relação ao seu valor no Ocidente. Após muitas dificuldades, os portugueses conseguem negociar.

Pimenta, canela, gengibre e cravo são  embarcados nos três maiores navios, em grande quantidade, pois ocupam pouco espaço.

Vasco da Gama carrega igualmente muitas pedras, compradas a preço bastante elevado, contudo, pois os indianos têm conhecimento preciso do valor desses bens. 

O regresso se realiza em condições penosas. Vasco da Gama não tem nenhum conhecimento do regime das monções.

Ele embarca nas piores condições: leva três meses para chegar à África.

A frota se dispersa. Perde dois dos quatro navios. A tripulação, esgotada, é acometida pelo escorbuto.

Os sobreviventes chegam a Lisboa em agosto de 1499; os custos da expedição são cobertos sessenta vezes pela venda das especiarias.

A missão trouxe a prova de que a Índia podia ser alcançada pela África e as especiarias entregues ao Ocidente sem a intermediação dos mercadores muçulmanos.

Apesar de todas as diiculdades enfrentadas pela expedição de Vasco da Gama junto aos mercadores muçulmanos que dominavam parte signiicativa do comércio indiano, o caminho para o comércio e, acima de tudo, dos lucros, parecia se abrir aos ambiciosos portugueses.

Caberia ao Rei de Portugal organizar uma nova expedição, ainda maior, para fortalecer o contado com Calicute.

O comandante desta expedição seria Pedro Álvares Cabral, que, além de impor o comércio com as Índias pela força, seria famoso por ter “descoberto” o Brasil.

Neste capítulo você estudou que:

  • A ocupação da costa africana e das ilhas do Atlântico foi fruto de uma vasta pesquisa que envolveu praticamente toda a sociedade portuguesa.
  • A viagem de Vasco da Gama foi a descoberta do caminho marítimo até as Índias.

Veja os seguintes Períodos da História do Brasil Colonial:

  1. Independência do Brasil – Rompimento dos laços coloniais no Brasil
  2. Império Português no Brasil – Família Real Portuguesa no Brasil
  3. Transferência da corte portuguesa para o Brasil
  4. Fundação da cidade de São Paulo e os Bandeirantes
  5. Periodo de Transição entre o Brasil Colônia e Brasil Império
  6. Engenho Colonial Açucareiro no Brasil
  7. Monocultura, Trabalho Escravo e Latifúndio no Brasil Colônia
  8. Instalação do Governo Geral no Brasil e a Fundação de Salvador
  9. A Expansão Marítima Portuguesa e a Conquista do Brasil
  10. Ocupação da Costa Africana, das Ilhas do atlântico e a viagem de Vasco da Gama
  11. Expedição de Pedro Álvares Cabral e a Conquista do Brasil
  12. Período Pré-Colonial no Brasil – Os Anos Esquecidos
  13. Instalação da Colônia Portuguesa no Brasil
  14. Períodos da História do Brasil Colonial
  15. Períodos Históricos do Brasil
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