Expedição de Pedro Álvares Cabral e a Conquista do Brasil

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Expedição de Pedro Álvares Cabral e a Conquista do Brasil

1. Introdução

Neste capítulo daremos início ao estudo do “descobrimento” do Brasil.

A palavra “descobrimento” não é apropriada, pois antes da chegada dos portugueses à região, que hoje chamamos de Brasil, já era habitada pelos mais variados povos.

Neste sentido, o Brasil não foi descoberto, mas sim conquistado.

Estudaremos a organização da esquadra portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral, bem como um pouco do cotidiano da travessia que levou ao “descobrimento”.

Além disso, iremos problematizar o processo de conquista e o contato cultural, num primeiro momento, entre o elemento português colonizador e o “índio” nativo colonizado.

Índio – o termo nasceu do engano histórico, pois Cristóvão Colombo, ao descobrir a América, achou que havia descoberto a Índia.

A partir daí o termo se popularizou. Com o tempo surgiram outras designações para o nativo americano, são elas: aborígene, ameríndio, autóctone, brasilíndio, gentio, íncola, negro da terra, nativo, bugre, silvícola, entre outras.

2. Expedição de Pedro Álvares Cabral

A expedição de Pedro Álvares Cabral possui o mérito de ter sido a responsável pelo “descobrimento” do Brasil, porém existem alguns historiadores que afirmam que o Brasil já havia sido descoberto há alguns anos antes, tanto por portugueses, quanto por espanhóis.

As Grandes Navegações, Parte 11 - Pedro Alvares Cabral, A descoberta do Brasil

Sobre esse assunto Boris Fausto afirma (2007, p. 30) que:

Desde o século XIX, discute-se se a chegada dos portugueses ao Brasil foi obra do acaso, sendo produzida pelas correntes marítimas, ou se já havia conhecimento anterior do Novo Mundo e Cabral estava incumbido de uma espécie de missão secreta que o levasse a tomar o rumo do ocidente.

Tudo indica que a expedição de Cabral se destinava efetivamente às Índias. Isso elimina a probabilidade de navegantes europeus, sobretudo portugueses, terem frequentado a costa do Brasil antes de 1500.

De qualquer forma, trata-se de uma controvérsia que hoje interessa pouco, pertencendo mais ao campo da curiosidade histórica do que da compreensão dos processos históricos.

Sobre essa polêmica, Eduardo Bueno (1998, p. 32-33) afirma que:

De qualquer modo – o rei Dom João II sabia ou não  da existência do Brasil –, o certo é que, no segundo semestre de 1497, quando navegava em direção à Índia, Vasco da Gama já pressentira a existência dessas mesmas terras.

De fato, no dia 22 de agosto daquele ano, depois de zarpar das ilhas do Cabo Verde, no rumo da Índia, Gama e seus homens avistaram, em pleno mar, aves marinhas voando “muito rijas, como aves que iam para terra”.

Vasco da Gama não pôde desviar sua rota para segui-las, mas a aparição foi registrada no seu diário de bordo.

Naquele momento, os navegadores portugueses estavam interessados na verdadeira Índia – que eles sabiam que ficava a leste, para além do Oceano Atlântico – e não nas terras que Cristóvão Colombo descobria a oeste.

Em junho de 1499, logo que Vasco da Gama chegou a Lisboa com a notícia longamente aguardada de que a Índia poderia ser alcançada por mar, o rei de Portugal, Dom Manoel, tratou de organizar o envio de uma nova expedição para o fabuloso reino das especiarias.

Em sua jornada de ida, essa expedição poderia explorar também a margem ocidental do Atlântico, cuja posse Portugal assegurara desde o Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494.

Como vimos anteriormente, a polêmica gerada acerca do “descobrimento” do Brasil não pode ser considerada como o centro da questão.

Intencional ou não, o achamento do Brasil fez de Portugal uma potência. Devemos considerar este como um marco nas grandes navegações, pois foi a expedição mais poderosa até então organizada por um estado europeu.

Não sabemos se o nascimento do Brasil se deu por acaso, mas não há dúvida de que foi cercado de grande pompa.

A primeira nau de regresso da viagem de Vasco da Gama chegou a Portugal, produzindo grande entusiasmo, em julho de 1499.

Meses depois, a 9 de março de 1500, partia do Rio Tejo, em Lisboa, uma frota de 13 navios, a mais aparatosa que até então tinha deixado o reino, aparentemente com destino às Índias, sob o comando do fidalgo de pouco mais de trinta anos, Pedro Álvares Cabral.

A frota, após passar as Ilhas de Cabo Verde, tomou rumo oeste, afastando-se da costa africana até avistar o que seria terra brasileira a 21 de abril.

Nessa data, houve apenas uma breve descida à terra e só no dia seguinte a frota ancoraria no litoral da Bahia, em Porto Seguro (BUENO, 2007, p. 30).

A travessia atlântica da frota de Cabral, desde a sua saída de Lisboa, até o avistamento de terra na costa brasileira, durou em torno de 44 dias.

O percurso foi marcado por alguns incidentes, o mais grave deles foi a perda de um navio que não foi mais localizado. Apesar disso, a travessia foi tranquila, afirmando assim a possibilidade do Brasil passar a ser um ponto seguro de escala e aguada para as futuras expedições que almejavam chegar até as Índias.

Para entendermos um pouco do cotidiano a bordo de uma caravela na travessia do Atlântico, iremos introduzir um fragmento do “Livro de Ouro da História do Brasil”, dos historiadores Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio (2001, p. 14-17). Acompanhe na sequência.

Apesar de pequenas – cerca de 20 metros de comprimento –, ágeis, capazes de avançar em zigue-zague contra o vento e dotadas de artilharia pesada, as caravelas eram tidas como os melhores veleiros a navegar em alto-mar.

Mas, mesmo se a embarcação fosse boa, o cotidiano das viagens ultramarinas não era nada fácil.

A precariedade da higiene a bordo começava pelo espaço restrito que era utilizado pelos passageiros: algo em torno de 50 centímetros por pessoa.

Em uma nau de três cobertas, duas eram utilizadas para a carga da Coroa, dos mercadores e dos próprios passageiros.

A terceira era ocupada em sua maior parte pelo armazenamento de água, vinho, madeira e outros artefatos de utilidade.

Nos “castelos” das embarcações encontravam-se as câmaras dos oficiais – capitão, mestre, piloto, feitor, escrivão e dos marinheiros, armazenando-se no mesmo local pólvora, biscoitos, velas, panos, etc.

O banho a bordo era impossível, pois, além de não existir esse hábito de higiene, a água potável era destinada ao consumo e ao cozimento de alimentos.

Nos corpos ou na comida, proliferavam toda a sorte de parasitas como piolhos, pulgas e percevejos. Confinados em cubículos, os passageiros satisfaziam suas necessidades  fisiológicas, vomitavam ou escarravam próximos aos que consumiam as refeições.

Por isso mesmo, costumavam-se embarcar alguns litros de “água de lor”, destinada a disfarçar. Em meio ao constante mau cheiro e associado ao balanço natural, o “enjoamento” era constante.

Para piorar ainda mais a situação, a má higiene a bordo costumava contaminar os alimentos e a água embarcada.

A diarréia, para os quais não se tinha cura, ceifavam, rapidamente, indivíduos já desidratados e desnutridos.

A alimentação durante essas longas viagens sempre foi um problema para a Coroa portuguesa.

A falta habitual de víveres em Portugal impedia que os navios fossem abastecidos com quantidade suficiente de alimentos.

O Armazém Real, encarregado desse fornecimento, com certa frequência simplesmente deixava de fazê-lo.

A fome crônica e a debilidade física colaboravam para a morte de uma parcela importante de marinheiros.

Em Memória de um Soldado na Índia, Francisco Rodrigues Silveira relatava queixoso que eram raros os “soldados que escapam das corrupções das gengivas (o temido escorbuto, doença causada pela falta de vitamina C), febres, diarréia e outra cópia de enfermidades…”.

Além de escassos, os alimentos embarcados encontravam-se estragados antes mesmo de começar a viagem.

Armazenados em porões úmidos, os comestíveis, ao longo da jornada, apodreciam ainda mais rapidamente.

O “rol dos mantimentos” costumava incluir biscoitos, carne salgada, peixe seco (principalmente bacalhau salgado), banha, lentilhas, arroz, favas, cebolas, alho, sal, azeite, vinagre, açúcar, mel, passas, trigo, vinho e água.

Nem todos os passageiros tinham acesso aos víveres, controlados rigorosamente por um despenseiro ou pelo próprio capitão.

Oficiais mais graduados ficavam com os produtos que estivessem em melhores condições, muitas vezes vendendo-os numa espécie de mercado negro a outros viajantes famintos.

Grumetes e marinheiros pobres eram obrigados a consumir “biscoito todo podre de baratas, e com bolor muito fedorento”, entre outros alimentos em adiantado estado de decomposição.

Mel e passas eram oferecidos aos doentes da tripulação nobre.

Febres altas e delírios, que costumavam atingir muitos dos tripulantes, decorriam da ingestão de carnes excessivamente salgadas e podres, regadas a vinho avinagrado.

Quando ocorriam calmarias, sob o calor tórrido dos trópicos, os marinheiros famintos ingeriam de tudo: sola de sapatos, couro dos baús, papéis, biscoitos repletos de larvas de insetos, ratos, animais mortos e até mesmo carne humana.

Matavam a sede com a própria urina.

Muitos, contudo, preferiam suicidar-se a morrer de sede.

Na realidade, a dramática situação dos navegadores não diferia muito daquela enfrentada pelos camponeses em terra firme.

Um trabalhador que cavasse de sol a sol, sete dias por semana, não ganhava mais do que dois tostões por dia.

A quantia mal lhe permitia comprar um alqueire de pão.

O que dizer do sustento de famílias inteiras, sem alimentos ou vestimentas? 

Um grande número de camponeses pobres preferia fugir da fome enfrentando os riscos do mar, mesmo conhecendo as privações a que seriam submetidos na Carreira da Índia.

O sonho com o império das especiarias era um alento e uma possibilidade num quadro de miséria e desesperança.

Neste texto pode-se constatar que as viagens não eram nada confortáveis, praticamente faltava de tudo, apesar disso muitas pessoas preferiam enfrentar as privações das viagens a ficarem em terra vivendo uma vida miserável como camponeses.

Escorbuto – era uma doença comum entre os marinheiros que realizavam as travessias marítimas em direção às Índias ou ao Novo Mundo. Este “mal” era originado pela falta de vitamina C, em decorrência da má alimentação a bordo das naus.

Além disso, o texto informa como era o cotidiano em uma caravela, essa realidade praticamente perdurou até o século XIX, quando se inseriu na dieta dos marinheiros frutas cítricas, o que veio a fornecer vitamina, pois a maior causa do escorbuto era justamente a falta desta vitamina.

Com o consumo das frutas, a incidência do escorbuto diminuiu bastante.

É necessário entender que o Brasil, num primeiro momento, não se transformou em um importante entreposto comercial para os portugueses, pois o que importava naquela época era solidificar as relações comerciais com a Índia. Esta tarefa era árdua em virtude de Portugal ser um país de escassos recursos populacionais.

Pedro Álvares Cabral seguiu a rota de Vasco da Gama e, por acidente ou propositadamente (é concebível que os portugueses tivessem informações sobre a presença de terras nas proximidades), localizou a costa brasileira, atracando em Porto Seguro no ano de 1500.

De lá, com 11 navios (um se separara no Atlântico e não foi mais localizado e um segundo foi enviado a Portugal com a notícia da descoberta do Brasil), os portugueses partiram para a Índia.

Apesar da perda de quatro navios na travessia do Atlântico (um deles comandado por Bartolomeu Dias, o primeiro homem a contornar a África), Pedro Álvares Cabral chegou a Calicute, levando presentes ricos para o samorim hindu, que reclamara por Vasco da Gama não havê-lo presenteado adequadamente.

Os mercadores mulçumanos, que dominavam o comércio da região, procuraram impedir que os portugueses obtivessem as mercadorias que desejavam e, quando Pedro Álvares Cabral capturou um navio muçulmano de transporte de especiarias, os mercadores protestaram atacando seu posto de comércio e matando os que lá se encontravam.

Pedro Ávares Cabral reagiu capturando outros dez navios muçulmanos e partiu para Cochin e Cananor, onde completou o carregamento de seus barcos.

Voltou a Lisboa em julho de 1501; a carga dos seis navios que trouxe ao porto mais do que compensou os custos da expedição (MIGLIACCI, 1997, p. 46).

A expedição de Pedro Álvares Cabral foi um sucesso sob todos os aspectos, pois a mesma tomou posse do Brasil e estabeleceu uma base sólida de comércio com a Índia.

No próximo item, iremos estudar o processo de conquista do Brasil após a “descoberta”.

3. Conquista do Brasil

Quando os portugueses “descobriram” oficialmente o Brasil em 22 de abril de 1500, ele era habitado por uma infinidade de povos, distribuídos por praticamente todo o território que hoje forma o Brasil contemporâneo. Podemos dividir esses povos ameríndios em dois grandes grupos, são eles: os tupis-guaranis e os tapuias.

Índio Tupi, 1643Albert Eckhout
Índio Tupi, 1643 Albert Eckhout

O primeiro grupo denominado tupis-guaranis habitava praticamente toda a costa brasileira, desde o Ceará até a Lagoa dos Patos, no atual Rio Grande do Sul.

Segundo Boris Fausto (2007, p. 37):

Os Tupis, também denominados tupinambás, dominavam a faixa litorânea, do Norte até Ananeia, no sul do atual estado de São Paulo; os guaranis localizavam-se na bacia Paraná-Paraguai e no trecho do litoral entre Cananeia e o extremo sul do que viria a ser o Brasil.

Apesar dessa localização geográfica diversa dos tupis e dos guaranis, falamos em conjunto tupi-guarani, dada a semelhança de cultura e de língua.

O segundo grupo, denominado tapuias, habitava áreas onde a presença tupi-guarani era interrompida, citamos o exemplo dos Goitacases, localizados na foz do Rio Paraíba, dos Aimorés no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo, pelos Tremembés ixados entre o Ceará e o Maranhão.

Índio Tapuia, Albert Eckhout
Índio Tapuia, Albert Eckhout

Essas populações eram chamadas tapuias, uma palavra genérica usada pelos tupis-guaranis para designar índios que falavam outra língua” (FAUSTO, 2007, p. 38).

Os tupis-guaranis eram mais numerosos que os tapuias, entretanto os tapuias eram mais aguerridos que os primeiros.

Ambos os grupos possuem grande importância no contexto do Brasil pré-colombiano, pois desenvolveram experiências culturais únicas na pré-história do continente americano.

A classificação relacionada nos parágrafos anteriores deriva de estudos da antropologia contemporânea, que procurou organizar os povos indígenas brasileiros segundo suas afinidades culturais e a língua.

Ambos os grupos praticavam a caça, a pesca, a coleta de frutas e raízes e a agricultura. Sua experiência relacionada ao domínio da natureza será aproveitada pelos portugueses no processo futuro de colonização do Brasil.

Segundo Boris Fausto (2007, p. 38), “[…] os cálculos oscilam entre números tão variados como 2 milhões para todo o território e cerca de 5 milhões só para a Amazônia brasileira”. Desta forma, é difícil estabelecer o número da população nativa na época do “descobrimento”. Esta questão será aprofundada no próximo item.

Para aprofundarmos o estudo dos povos indígenas brasileiros introduziremos um fragmento do livro “História do Brasil: um olhar crítico”, do historiador Gilberto Cotrim (1999, p.13-15),  que aborda a cultura tupi.

Apresentaremos a seguir características básicas das sociedades tupis.

Essa caracterização é baseada nos registros deixados por missionários e viajantes europeus dos séculos XVI e XVII.

Entretanto, apesar da aparente semelhança, qualquer tentativa de síntese etnográica desses povos oferece problemas em razão da diversidade das sociedades que integram a família linguística dos tupis.

Para descrever a diversidade cultural das sociedades indígenas os europeus reduziram-nas a duas categorias genéricas: tupi-guarani e tapuia.

Como tapuia eram classiicados os grupos pouco conhecidos pelos europeus, percebidos como a antítese das sociedades tupis e guaranis, isto é, grupos que falavam línguas diferentes dos tupis e dos guaranis (jês, aruaques etc.).

Os tupis-guaranis praticavam uma agricultura de subsistência, cujo objetivo era produzir alimentos para satisfazer as necessidades de sobrevivência do grupo. Não havia a preocupação de acumular excedentes.

Cultivavam a mandioca, o milho, a batata-doce, o feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o algodão, as pimentas, o abacaxi, o mamão, a erva-mate, o guaraná e muitas outras plantas. Na preparação do solo, os homens abriam clareiras na mata, derrubando árvores com machados de pedra e limpando o terreno com queimadas. As mulheres dedicavam-se ao plantio.

Mesmo sendo agricultores, os tupis-guaranis não constituíam povoados fixos e permanentes: a mobilidade espacial ainda era uma característica cultural desses povos. O deslocamento de uma aldeia era motivado por razões diversas: o desgaste do solo, a diminuição de reservas de caça, disputas internas entre facções, ou a morte de um chefe.

A identidade de cada aldeia associava-se ao líder da comunidade, responsável pela mobilização de parentes e seguidores e pela organização da vida material. Entretanto, a liderança indígena geralmente não implicava privilégios econômicos ou sociais.

Apesar de certa unidade linguística e cultural, os índios do tronco tupi-guarani não formavam uma única sociedade. Ao contrário, constituíam, frequentemente, grupos rivais que receberam várias denominações como: tupinambás, tupiniquins, guaranis, caetés, potiguares etc.

Os tupis-guaranis viviam em permanente guerra contra seus adversários, fossem eles tribos da sua própria matriz cultural ou tribos de outras matrizes, como os jês, os aruaques,  etc.

A guerra, o cativeiro e o sacrifício dos prisioneiros constituíam uma das bases das relações entre as aldeias tupis-guaranis no Brasil pré-colonial.

Eram elementos fundamentais nas relações intertribais e, depois, nas relações euroindígenas. A compreensão dessa dinâmica de conflitos forneceu aos europeus uma das chaves para o controle sobre a população nativa.

Em inúmeros setores da expressão cultural do país (música, artes plásticas, literatura, dança, religião, técnicas de trabalho etc.), encontramos a marcante presença das sociedades indígenas.

Vejamos alguns exemplos que ilustram essa presença cultural no cotidiano da vida brasileira:

  • Alimentos: batata, milho, mandioca, batata-doce, mel de abelha, tomate, feijão, amendoim, abacaxi, mamão, goiaba, jabuticaba, maracujá.
  • Espécies vegetais utilizadas na economia mundial: borracha, cacau, palmito, tabaco, erva-mate.
  • Plantas medicinais: jaborandi, copaíba,q uinino, folha de coca,
  • Plantas manufatureiras: algodão, piaçaba (vassouras), babaçu (fabricação de óleos).
  • Vocabulário: Curitiba, Piauí, caju, mandioca, jacaré, sabiá, Tietê, tatu, abacaxi, entre muitas.
  • Técnicas: trabalhos de cerâmica, preparo de farinha de mandioca e de milho.

Para tanto, é importante salientar que o contato com os portugueses representou uma verdadeira catástrofe no cotidiano das populações nativas.

Os conquistadores introduziram novos hábitos e costumes, além de professarem uma nova religião que mais tarde iria predominar entre as populações nativas.

O cristianismo seria uma das principais bandeiras dos portugueses, sendo os jesuítas os principais representantes.

Cabanas indígenas
Cabanas indígenas

No próximo item iremos estudar, com mais propriedade, a questão da conquista portuguesa do Brasil e suas consequências para as nações indígenas.

4. Chegada dos Portugueses no Brasil

Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 - Oscar Pereira da Silva
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 – Oscar Pereira da Silva

Temos que entender que o processo de povoamento e colonização do Brasil não foi um “conto de fadas”, mas sim um processo histórico doloroso, principalmente para os povos nativos, processo este repleto de rupturas.

Pero Vaz de Caminha (2002, p. 94), escrivão da esquadra de Cabral, relata em sua famosa carta ao rei de Portugal que os habitantes das terras “recém-descobertas” possuíam as seguintes características:

A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.

Andam nus, sem cobertura alguma.

Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.

Ambos traziam os beiços de baixo furados e metido neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento de uma mão travessa, da grossura de um fuso de algodão, agudos na ponta como furador.

Metem-nos pela parte do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.

Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, de boa grandura e raspados até por cima das orelhas.

E um deles trazia por baixo da solapa, de a fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, muito basta e muito serrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas.

E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera (mas não era) de maneira que a cabeleira ficava muito redonda e muito basta, e muito igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.

Em seu relato Caminha apenas descreve os índios, ele não menciona nenhum conflito ocorrido entre europeus e nativos, sabemos que os primeiros anos da colonização foram relativamente pacíficos, apesar disso os conflitos não demorariam a ocorrer.

Gilberto Freyre afirma que os portugueses, ao desembarcarem no Brasil, encontraram uma população nativa vivendo ainda na pré-história, com hábitos simples e uma forte ligação com a natureza.

Freyre elabora uma discussão muito interessante, ao comparar os nativos com os colonizadores portugueses recém-chegados.

O historiador tece uma análise do encontro entre os nativos e os colonizadores, afirmando que os primeiros viviam ainda na adolescência da civilização, sendo que os portugueses já se encontravam na fase adulta.

De modo que não é o encontro de uma cultura exuberante de maturidade com outra já adolescente, que aqui se veriica; a colonização europeia vem surpreender nesta parte da América quase que bandos de crianças grandes; uma cultura verde e incipiente; ainda na primeira dentição; sem os ossos nem o desenvolvimento nem a resistência das grandes semicivilizações americanas (FREYRE, 2003, p. 158).

Assim, os primeiros contatos foram pacíficos e de bom entendimento. Apesar disso, os portugueses sempre desenvolveram uma postura arrogante, indicando a sua cultura e religião como superiores às dos nativos.

Segundo Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio (2001, p. 30):

Inicialmente, os portugueses não afetaram a vida dos indígenas e a autonomia do sistema tribal.

Enfurnados em apenas três ou quatro feitorias dispersas ao longo do litoral, dependiam dos segundos, seus “aliados”, para a sua alimentação e proteção.

O escambo de produtos como pau-brasil, farinha, papagaios e escravos – vítimas de guerras intertribais – por enxadas, facas, foices, espelhos e quinquilharias dava regularidade aos entendimentos.

Mas a partir de 1534, aproximadamente, tais relações começaram a alterar-se.

Se antes os brancos estavam submissos à vontade dos nativos, o panorama começava a mudar. O estilo de vida e as instituições sociais europeias, como o regime das donatárias, entranhavam-se na nova terra.

Em relação ao indígena, a ideia inicial desenvolvida pelos colonizadores foi de simpatia.

Segundo Nelson Werneck Sodré (1976, p. 56), os primeiros contatos “[…] simples, cordiais sem nenhum entrave e sem nenhuma preocupação, de parte a parte, tudo correu da melhor maneira, e começaram a aparecer os elogios desmedidos, a louvação continuada, uma repetição curiosa de qualidades”.

Um aspecto cultural interessante e que fez parte, inicialmente com estranhamento e, em seguida, com a efetiva participação do português, está relacionado diretamente à sexualidade tanto do colonizador quanto do nativo.

Pois como nos ensina Gilberto Freyre:

O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne.

Muitos clérigos, dos outros, deixaram-se contaminar pela devassidão.

As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses.

Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho (FREYRE, 2003, p. 161).

A seguir, uma adaptação do livro “Casa Grande e senzala”, do historiador Gilberto Freyre (2001, p. 2), que demonstra, em forma de quadrinho, um pouco da história do relacionamento cultural entre portugueses e nativos.

O português colonizador exercia um verdadeiro fascínio sobre os nativos, pois sua base tecnológica era muito superior. Neste contexto, europeus e índios conviveram de forma pacífica nas primeiras décadas da colonização do Brasil.

Portugueses relacionamento com índias
Portugueses relacionamento com índias

Apesar disso, o processo de conquista empreendido pelos portugueses iria se intensificar no momento da decisão de se iniciar o processo de colonização propriamente dito.

Isso irá acontecer a partir de 1530 com a chegada da expedição de Martim Afonso de Sousa.

Era natural que as relações entre índios e brancos fossem mais harmoniosas nos anos iniciais da colonização, pois no dizer de Nelson Werneck Sodré (1976, p. 57):

No período inicial da vida brasileira, quando a costa era apenas policiada, ou nela se instalaram umas poucas feitorias, não surgiram motivos de atrito entre povoadores primitivos e novos povoadores.

Estes não vinham disputar a terra, apropriar-se dela, plantar e colher.

Eram poucos, desinteressados das coisas da terra nova, voltados para o oceano e dele esperando, quando não a liberdade, com o retorno, pelo menos as utilidades, a retomada de contato com gente sua igual, que lhes falava a língua e lhes entendia os desejos.

O branco das feitorias acomodava-se à vida que os índios levavam, valia-se de sua experiência, vivia com os índios.

Com a intensiicação do processo de colonização e conquista, essa realidade tenderia a mudar, pois os portugueses passariam a ver os índios como mão de obra a ser escravizada, além disso, eles iriam cobiçar as terras ocupadas pelas populações nativas.

Estes aspectos tenderiam a tensionar as relações entre índios e portugueses, dando início a sérios conflitos.

Nas palavras de Sodré (1976, p. 57-58):

Numa segunda fase, e quando ocorreu o estabelecimento definitivo dos povoadores, quando se tratou, a rigor, de colonizar – o que não aconteceu em toda a costa e nem em todo o tempo – as relações foram subvertidas.

O índio apresentou-se como mão de obra, e mão de obra ao pé da obra, com imensas e insubstituíveis vantagens portanto.

Aí, como era inevitável, a luta abriu-se e assumiu as proporções de destruição sistemática.

Com a introdução da monocultura, o processo de conquista dos povos nativos e da própria terra em si irá tomar proporções inéditas. As consequências deste processo será o extermínio das tribos, a cultura indígena não irá suportar a estrutura de produção que se estabelecia.

Ao substituir o escambo pela agricultura, os portugueses começavam a virar o jogo.

O indígena passou a ser, simultaneamente, o grande obstáculo para a ocupação da terra e a força de trabalho necessária para colonizá-la.

Submetê-los, sujeitá-los, escravizá-los, negociá-los passou a ser a grande preocupação (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2001, p. 31).

As populações indígenas litorâneas serão forçadas a migrarem para o interior, perdendo parte signiicativa de sua população. Começa assim o martírio do índio brasileiro que passou de aliado a inimigo em poucas décadas.

As populações indígenas litorâneas serão forçadas a migrarem para o interior, perdendo parte signiicativa de sua população. Começa assim o martírio do índio brasileiro que passou de aliado a inimigo em poucas décadas.

4. Neste capítulo vimos que:

  • A expedição de Pedro Álvares Cabral, além de oficializar o “descobrimento” do Brasil, construiu bases sólidas de comércio com o oriente.
  • O descobrimento do Brasil foi casual ou intencional.
  • O Brasil foi conquistado e não descoberto, pois aqui já viviam povos muito diferentes dos portugueses.
  • Num primeiro momento, a relação com os nativos foi relativamente pacíica, porém isto mudaria com a intensificação do processo de povoamento e colonização.

Veja os seguintes Períodos da História do Brasil Colonial:

  1. Independência do Brasil – Rompimento dos laços coloniais no Brasil
  2. Império Português no Brasil – Família Real Portuguesa no Brasil
  3. Transferência da corte portuguesa para o Brasil
  4. Fundação da cidade de São Paulo e os Bandeirantes
  5. Periodo de Transição entre o Brasil Colônia e Brasil Império
  6. Engenho Colonial Açucareiro no Brasil
  7. Monocultura, Trabalho Escravo e Latifúndio no Brasil Colônia
  8. Instalação do Governo Geral no Brasil e a Fundação de Salvador
  9. A Expansão Marítima Portuguesa e a Conquista do Brasil
  10. Ocupação da Costa Africana, das Ilhas do atlântico e a viagem de Vasco da Gama
  11. Expedição de Pedro Álvares Cabral e a Conquista do Brasil
  12. Período Pré-Colonial no Brasil – Os Anos Esquecidos
  13. Instalação da Colônia Portuguesa no Brasil
  14. Períodos da História do Brasil Colonial
  15. Períodos Históricos do Brasil

 

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