História e Cronologia do Carnaval de Salvador da Bahia

O Carnaval de Salvador é uma celebração popular que une tradição, música e inovação, sendo um dos maiores e mais animados do mundo.

Sua trajetória envolve influências históricas diversas e a criação do trio elétrico, que revolucionou a festa. A seguir, destacamos:

  1. Introdução – A Origem e Evolução do Carnaval
  2. História, Origem e Cronologia do Carnaval
  3. Cronologia do Carnaval de Salvador da Bahia
  4. Cronologia do Trio Elétrico em Salvador da Bahia
  5. Axé Music
  6. Carnaval de Salvador – Ano, Música, Bloco e Cantor
Carnaval de Salvador BA 1939
Carnaval de Salvador BA 1939

1. Introdução – A Origem e Evolução do Carnaval

Existem diversas versões sobre a origem da palavra “carnaval”. No dialeto milanês, Carnevale significa “o tempo em que se tira o uso da carne“, fazendo referência ao período que antecede a Quarta-Feira de Cinzas. Historicamente, o carnaval corresponde ao momento anterior ao início da quaresma, marcado por celebrações intensas antes do recolhimento espiritual proposto pela tradição cristã.

1. O Carnaval no Contexto Brasileiro

No Brasil, o carnaval consolidou-se como a maior manifestação de cultura popular, sendo frequentemente associado, em importância simbólica, ao futebol. Trata-se de uma expressão cultural híbrida, que reúne elementos de folguedo, festa e espetáculo teatral, incorporando dimensões de arte e folclore.

Originalmente concebido como uma festa popular de rua, o carnaval, nas principais capitais brasileiras, passou progressivamente a ser realizado em espaços fechados, como sambódromos e clubes sociais, em função de sua crescente organização institucional e comercialização.

2. Registros Históricos no Brasil Colonial

Embora a oficialização do carnaval em Salvador date de 1884, registros históricos apontam a existência de festejos carnavalescos já nos séculos XVI e XVII, incluindo relatos durante a invasão holandesa de 1624. Entre esses registros, destaca-se o testemunho de Padre Anchieta, que menciona práticas festivas ligadas à tradição do carnaval promovidas pelos jesuítas, responsáveis por introduzir essa cultura entre as populações indígenas como parte do processo de catequese. A utilização de música e de aspectos lúdicos era compreendida pelos religiosos como ferramentas pedagógicas eficazes para a evangelização.

Adicionalmente, há o relato de um soldado presente na invasão holandesa, em 1624, que descreve a realização de um carnaval mesmo em meio ao conflito, promovido em quatro navios, o que evidencia a resiliência e a força simbólica da festividade.

3. Influência Europeia e Catolicismo

O carnaval realizado no Brasil colonial espelhava-se nas festas da Europa, especialmente naquelas promovidas em Portugal e Espanha, e mantinha forte vínculo com os preceitos da Igreja Católica. Conforme estabelecido pela tradição cristã, o carnaval seria um período de liberdade e extravasamento, antecedendo o recolhimento espiritual da quaresma.

4. Popularização na Bahia e Integração Cultural

A partir dos séculos XVIII e XIX, o carnaval passou a adquirir um caráter mais popular, ganhando as ruas de Salvador, sobretudo a Rua Chile, no centro da cidade.

Nesse contexto, a presença de um número significativo de pessoas escravizadas contribuiu para a incorporação de danças afro-brasileiras e de elementos rituais de matriz africana, os quais foram sendo integrados ao chamado carnaval de rua.

Essas manifestações também se fundiram com práticas do entrudo, uma brincadeira popular portuguesa marcada pelo uso de água, farinha e outros elementos, posteriormente assimilada pela tradição carnavalesca brasileira.


Vídeo sobre História e Cronologia do Carnaval de Salvador da Bahia

História do Carnaval no Brasil
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2. História, Origem e Cronologia do Carnaval

  1. Origem do Carnaval
  2. O Entrudo: o Carnaval em Portugal
  3. O Entrudo no Brasil
  4. O Surgimento do Carnaval de Rua e de Salão
  5. Máscaras, Bailes e Subvenções
  6. O Bando Anunciador e os Primeiros Clubes
  7. Os Bailes no Teatro São João
  8. Carnaval de Rua em Salvador
  9. Primeiras Regras e Organização
  10. O Carnaval no Rio de Janeiro

1. Origem do Carnaval

A origem do Carnaval remonta a manifestações populares anteriores à era Cristã, com início na Itália, nas chamadas Saturnálias, festas em homenagem ao deus Saturno.

Nessas festividades, também eram reverenciados Baco e Momo, figuras da mitologia greco-romana.

As celebrações envolviam uma inversão temporária da ordem social, com escravos e cidadãos livres misturando-se em público.

Com a expansão do Império Romano, as festas tornaram-se mais frequentes e exuberantes, chegando a incluir verdadeiros bacanais.

Com a consolidação da Igreja Católica no início da era Cristã, surgiu uma tentativa de conter os excessos pagãos. Assim, permitiu-se que os festejos ocorressem apenas antes da Quaresma — o que levou ao uso da palavra Carnevale, significando “abstenção de carne”.

2. O Entrudo: o Carnaval em Portugal

Nos séculos XV e XVI, o Carnaval chegou a Portugal com o nome de Entrudo, introduzindo a Quaresma por meio de brincadeiras pesadas. As celebrações eram marcadas por guerras de “laranjinhas” recheadas com água-de-cheiro, que com o tempo passaram a conter substâncias desagradáveis. A festa foi gradualmente se tornando violenta e perdeu seu caráter festivo.

3. O Entrudo no Brasil

O Entrudo chegou ao Brasil e se espalhou, especialmente em Salvador. Por volta de 1853, jornais como o Diário da Bahia e a Igreja Católica começaram a criticar a prática, pressionando as autoridades a reprimi-la. Mesmo assim, as brincadeiras com água, farinha e substâncias desagradáveis persistiram por algum tempo.

Havia dois tipos de Entrudo:

  • Entrudo de salão: mais refinado, com “limões” de cera perfumados.
  • Entrudo de rua: popular e vulgar, com uso de água, farinha, ovos e até tripas de porco.

Diante dos excessos, a Câmara Municipal de Salvador proibiu o Entrudo, considerando-o prejudicial à saúde pública e perigoso aos participantes e transeuntes.

4. O Surgimento do Carnaval de Rua e de Salão

Com a repressão ao Entrudo, o Carnaval começou a se transformar:

  • O Carnaval de Salão passou a atrair brancos e mulatos de classe média.
  • O Carnaval de Rua era formado por negros e mulatos pobres.

O Teatro São João, em Salvador, foi um dos primeiros a organizar bailes de máscaras sofisticados, a partir de 1860. Com 800 lugares, o teatro sediava festas com música clássica e trajes importados da Europa.

5. Máscaras, Bailes e Subvenções

Naquela época, havia o receio de pessoas influentes serem vistas mascaradas. Casas especializadas como “Pinelli” e “Balalaia” ofereciam disfarces sofisticados. A polícia chegou a distribuir máscaras gratuitamente para estimular o Carnaval de rua.

Comissões organizadoras surgiram em bairros da cidade, e o comércio viu no Carnaval uma oportunidade de lucro. Assim, a festa foi ganhando apoio institucional e comercial.

6. O Bando Anunciador e os Primeiros Clubes

Na década de 1870, surgiram os Bandos Anunciadores, que percorriam as ruas convidando a população para participar do Carnaval. Nessa época, começaram também os clubes de Carnaval, como:

  • Zé Pereira
  • Os Comilões
  • Os Engenheiros

Esses grupos se reuniam no Campo Grande, que virou ponto de encontro oficial dos mascarados.

7. Os Bailes no Teatro São João

O Teatro São João organizava seus bailes com um ano de antecedência.

Em 1878, o grupo “Os Cavaleiros da Noite” causou sensação ao participar de um baile de gala.

Em 1880, Salvador já contava com 120 mil habitantes e um Carnaval com luxo europeu: roupas, enfeites e bebidas eram importados de Paris e Londres.

Praça Castro Alves, Teatro São João e Rua Chile
Praça Castro Alves, Teatro São João e Rua Chile em Salvador da Bahia.

8. Carnaval de Rua em Salvador

Cinco anos antes da Proclamação da República (1889), Salvador já realizava seu primeiro grande Carnaval de rua. A festa unia o luxo europeu ao espírito popular. Bandas, palanques e fantasias extravagantes dominavam as ruas.

9. Primeiras Regras e Organização

Em 1882, o comércio começou a fechar às 13h na terça-feira de Carnaval. As festividades de rua se intensificavam a partir das 14h. O Carnaval ganhava cada vez mais adesão da população, dividindo-se claramente entre os salões refinados e a alegria popular das ruas.

10. O Carnaval no Rio de Janeiro

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o primeiro baile de Carnaval foi realizado em 1840, com danças como polca e valsa. O samba só viria a ser incorporado à festa em 1917, marcando uma mudança significativa na música carnavalesca brasileira.


3. Cronologia do Carnaval de Salvador da Bahia

  1. O Grande Carnaval de 1884
  2. A Rivalidade Entre Clubes
  3. Carnaval Ganha Força Popular
  4. Novidades no Final do Século XIX
  5. Primeiros Afoxés
  6. Clube dos Inocentes e Afoxé Filhos de Gandhy
  7. Surgimento do Trio Elétrico
  8. Carnaval dos Anos 60
  9. Carnaval nos Anos 70
  10. Afirmação da Identidade Negra
  11. Carnaval nos Anos 1980
  12. Circuito de Carnaval Barra-Ondina

1. O Grande Carnaval de 1884

O ano de 1884 é considerado o marco decisivo para o Carnaval da Bahia. Embora a festa já tivesse um porte considerável — principalmente nos salões — é neste ano que se inicia a organização dos festejos de rua, com desfiles de clubes, corsos, carros alegóricos e diversos grupos populares.

A partir daí, intensifica-se a participação popular e a aclamação do Carnaval de rua, característica marcante até os dias de hoje.

Naquele período, Salvador vivia um momento de rápido crescimento urbano, impulsionado pelo progresso agrícola em outras regiões e pela necessidade de reorganização do espaço urbano devido ao êxodo rural.

Respirava-se progresso: comerciantes já anunciavam nos jornais durante a festa, e tanto os foliões quanto o público se vestiam com elegância — ternos de linho, polainas, chapéus.

Fundado em 1º de março de 1833, o Clube Carnavalesco Cruz Vermelha só veio a participar do Carnaval em 1884.

Esse clube organizou um cortejo com rapazes e moças ricamente trajados, e a grande novidade foi um carro alegórico com o tema “Crítica ao Jogo de Loteria“, decorado com peças importadas da Europa.

O cortejo partiu de uma das ruas do Comércio, subiu a Montanha, passou pela Barroquinha, Rua Chile, Direita da Misericórdia, Direita do Colégio, e retornou ao Politeama de Baixo (atual Instituto Feminino).

A iniciativa foi um sucesso absoluto, recebendo aplausos e pétalas de flores do público nas ruas. O Cruz Vermelha transformou o Carnaval.

Em março de 1884, um grupo de jovens fundou o Clube Carnavalesco Fantoches da Euterpe, liderado por quatro figuras da elite: Antônio Carlos Magalhães Costa (bisavô de ACM), João Vaz Agostinho, Francisco Saraiva e Luís Tarquínio (seu primeiro presidente).

2. A Rivalidade Entre Clubes

Em 1885, a disputa entre Cruz Vermelha e Fantoches se intensificou. O Diário de Notícias, jornal mais influente da época, publicou um anúncio de ¼ de página, a pedido do Cruz Vermelha, detalhando seu desfile.

O Fantoches reagiu com um programa de festas em três colunas. Ambos desfilaram com temas luxuosos e indumentárias europeias. Os carros alegóricos representavam “A Fama” (Cruz Vermelha) e “A Europa” (Fantoches). Outros clubes também desfilaram, como Saca Rolhas, Cavalheiros de Malta, Clube dos Cacetes e Grupo dos Nenês.

Sem uma comissão julgadora, a imprensa assumia esse papel, medindo a reação do público. O Cruz Vermelha, mais popular, geralmente vencia, enquanto o Fantoches, ligado à aristocracia, recebia menos apoio popular. As demais entidades representavam a classe média.

3. Carnaval Ganha Força Popular

Em 1886, comerciantes decidiram não abrir o comércio na terça-feira de Carnaval. Presidentes dos principais clubes reuniram-se na Associação Comercial para planejar um itinerário único para os desfiles.

Dois anos depois, Cruz Vermelha e Fantoches promoveram um baile grandioso no Politeama. No grande domingo de Carnaval, as ruas estavam lotadas. O Cruz Vermelha surgiu primeiro, com esplendor e coordenação. Em seguida, o Fantoches desfilou com carros magnificamente decorados, arrancando delírios da multidão.

O Carnaval já era uma realidade consolidada, vencendo definitivamente o Entrudo.

4. Novidades no Final do Século XIX

  • 1892: Introdução de confetes e serpentinas. Os confetes eram trocados entre entidades; as serpentinas substituíam as flores lançadas aos carros.
  • 1894: O Carnaval era ainda predominantemente da elite, com clubes como Cruz Vermelha e Fantoches frequentando os bailes do Teatro São João e do Politeama. A população pobre fazia manifestações paralelas.

5. Primeiros Afoxés

  • 1895: Os negros nagôs criam o primeiro afoxé, a “Embaixada Africana”, com trajes e adereços africanos.
  • 1896: Surge o segundo afoxé, “Pândegos da África”, também criado por negros. Os grupos representavam casas de culto afro-brasileiras, com cantos e músicas tradicionais.

Os afoxés desfilavam na Baixa dos Sapateiros, Taboão, Barroquinha e Pelourinho, enquanto os clubes de elite ocupavam áreas nobres. Nove anos depois, um afoxé subiu a Ladeira de São Bento, rompendo a separação de espaços entre classes — e gerando protestos.

6. Clube dos Inocentes e Afoxé Filhos de Gandhy

  • 1900: Dissidentes do Cruz Vermelha fundam o clube “Os Inocentes em Progresso”, nome inspirado em meninos que cantavam tocando latas.
  • 1949: Surge o afoxé “Filhos de Gandhy”, fundado por estivadores do Porto de Salvador para homenagear o líder indiano Mahatma Gandhi.

7. Surgimento do Trio Elétrico

  • 1950: Inspirados pelo bloco “Vassourinha” de Pernambuco, a dupla Dodô (Adolfo Nascimento) e Osmar (Osmar Macêdo) restauram um Ford 1929 e saem tocando com instrumentos elétricos. O carro, com alto-falantes, arrasta multidões.
  • 1951: Surge o nome “trio elétrico”, quando se junta o músico Temístocles Aragão ao grupo. Dodô tocava o violão-pau-elétrico, Osmar a guitarra baiana, e Aragão o triolim (violão tenor).
Replica do Ford 1929 feita em 1975 para celebrar o primeiro carro de trio eletrico de salvador criado por Dodô e Osmar em 1950.
Replica do Ford 1929 feita em 1975 para celebrar o primeiro carro de trio eletrico de salvador criado por Dodô e Osmar em 1950.

8. Carnaval dos Anos 60

  • 1961: Primeiro Rei Momo público, interpretado por Ferreirinha.
  • 1962: Surge o bloco “Os Internacionais”, só para homens.
  • Aparecem as cordas e mortalhas para proteger foliões ao redor dos trios.
  • 1965: Proibido por decreto o lança-perfume, usado desde 1906.

9. Carnaval nos Anos 70

A década de 70 consagrou a Praça Castro Alves como o coração do Carnaval. Era uma época de libertação cultural, social e sexual.

  • Trios ainda eram veículos simples, com alto-falantes e sem vocalistas.
  • Morais Moreira dá voz ao trio com Pombo Correio.
  • Novos Baianos inovam com caixas de som e equipamentos transistorizados.
  • Baby Consuelo canta com microfone plugado na guitarra.

A canção “Colombina”, de Armando Sá e Miquel Brito, torna-se o hino oficial do Carnaval de Salvador.

10. Afirmação da Identidade Negra

  • 1974: Surge o bloco Afro Ilê Aiyê, marcando o início do processo de reafricanização do Carnaval.
  • Aparecem o afoxé Badauê e o renascimento dos Filhos de Gandhy.
  • A festa passa a incorporar protestos contra o racismo e expressões da cultura negra.
  • 1975: O trio Dodô e Osmar comemora jubileu de prata e volta à cena com Armandinho, filho de Osmar.
  • O nome muda para “Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar”.
  • 1976: Surge o trio dos Novos Baianos, inovando ainda mais o formato.

11. Carnaval nos Anos 1980

No início dos anos 80, a transformação do Carnaval de Salvador se intensificou ainda mais, e coube ao bloco Traz Os Montes introduzir algumas inovações, tais como: a montagem de um trio elétrico com equipamentos transistorizados, a instalação de ar-condicionado para refrigerar e manter os equipamentos em temperatura suportável, a retirada das bocas de alto-falantes, a instalação de caixas de som retangulares, a eliminação da tradicional percussão lateral do trio e a inserção de uma banda com bateria, cantor e outros músicos em cima do caminhão.

Em 1981, o bloco Eva, surgido em 1980 e considerado uma das entidades mais irreverentes e inovadoras do Carnaval, decidiu radicalizar ainda mais do que o Traz Os Montes. Contratou engenheiros para elaborar o cálculo estrutural do novo trio e de todo o sistema de sonorização, importado dos Estados Unidos — incluindo uma nova mesa de som e diversos periféricos necessários para o perfeito funcionamento do trio e da banda. Com isso, o Eva obrigou os demais blocos a também investirem em seus trios.

O público e a crítica passaram a notar claramente a diferença entre os equipamentos do Eva e os demais, assim como a qualidade dos cantores e das bandas.

Ainda em 1981, o governador da Bahia assinou o Decreto nº 27.811, que determinava a suspensão do expediente nas repartições públicas na sexta-feira da semana anterior ao Carnaval.

Em 1982, registrou-se uma multidão nas ruas de Salvador tão grande que os tradicionais frequentadores da Praça Castro Alves — como intelectuais, profissionais liberais e travestis — ficaram irritadíssimos com a “invasão” do reduto liberal. Nesse ano, a mortalha começou a desaparecer como indumentária carnavalesca, sendo substituída por short, bermuda ou macacão.

No Carnaval de 1983, surgiram entre 30 e 40 ritmos novos.

Em 1988, pela primeira vez, um bloco afro de grande porte, o Olodum, desfilou na Barra, celebrando o centenário da abolição da escravatura no Brasil, com o tema: “Bahia de Todas as Áfricas”.

12. Circuito de Carnaval Barra-Ondina

O glamuroso “circuito do mar”, mais tarde batizado como Dodô – Barra-Ondina, foi oficializado em 1992 e, hoje, é um dos pontos de maior efervescência do Carnaval de Salvador. Ali estão a maioria dos camarotes, nova invenção dessa festa que vem se transformando ao longo dos anos.

Do Entrudo aos desfiles dos clubes e corsos, passando pela influência afro-brasileira, iniciada com os afoxés, e pela descoberta da guitarra baiana, que deu origem aos trios elétricos.

Com os trios, veio a explosão da maior manifestação popular do planeta — o Carnaval de Salvador — que multiplicou ritmos e batidas, consagrou o samba-reggae e a axé music, e produziu milhares de músicos e artistas que trabalham incansavelmente para surpreender os milhões de foliões que desembarcam na Capital da Alegria, vindos de todas as partes do Brasil e do mundo, para viver essa mágica maneira de ser feliz.


4. Cronologia do Trio Elétrico em Salvador da Bahia

“O Trio Elétrico, com seu som antropofágico, vai carnavalizando tudo. Desde os populares mais clássicos, até os clássicos mais populares.”

Década de 30

  • Em Salvador, o conjunto musical criado por Dorival Caymmi, o grupo Três e Meio, fazia sucesso nas rádios e festas.
  • Com a saída de Caymmi em 1938, o grupo se reestruturou, incluindo Osmar Macêdo.

1942

  • O violonista Benedito Chaves, do Rio de Janeiro, apresentou em Salvador um “violão eletrizado”, despertando o interesse de Dodô e Osmar, que começaram a desenvolver seus próprios instrumentos.
  • Assim nasceu a “Dupla Elétrica”.
  • A partir de uma experiência de Dodô com cordas esticadas e microfones, nasceu a guitarra baiana, que evitava a microfonia com o cêpo maciço — apelidada de “pau elétrico”.

1943–49

  • A dupla começou a tocar com seus instrumentos em clubes, festas e bailes.

1950

  • Inspirados pelo Clube Vassourinhas do Recife, Dodô e Osmar criaram seu primeiro trio elétrico, utilizando um Ford 1929 (a Fobica), decorado e equipado com alto-falantes e placas com os dizeres “Dupla Elétrica”.

1951

  • Convidaram Temístocles Aragão e o nome “Trio Elétrico” começou a se popularizar.

1952

  •  Com o patrocínio da Fratelli Vita, o trio passou a usar um veículo maior, com oito alto-falantes, geradores e lâmpadas fluorescentes.

1953–58

  • Surgiram novos trios como o Ypiranga, Cinco Irmãos, Atlas, Jacaré (depois Saborosa) e o Paturi (de Feira de Santana).

1956

  • Surge o conjunto Tapajós, grande responsável por consolidar o trio elétrico como estrutura física do Carnaval.

1957–58

  • O Tapajós anima o Carnaval no Subúrbio Ferroviário.
  • O trio de Dodô e Osmar passa a ser patrocinado pela Prefeitura de Salvador.

1959–61

  • O trio participa do Carnaval do Recife com patrocínio da Coca-Cola.
  • O Tapajós firma contratos comerciais e anima micaretas pelo interior da Bahia.

1962–64

  • O trio Dodô e Osmar volta com patrocínio da Refinaria Mataripe.
  • O jovem Armandinho (com 9 anos) já é solista.
  • Nasce o mini-trio elétrico, feito para os filhos dos fundadores.

1965–67

  • O mini-trio de Armandinho e Betinho anima o Carnaval.
  • O Tapajós se consagra tricampeão do Carnaval de Salvador.

1969

  • Caetano Veloso lançou a música “Atrás do Trio Elétrico Só Não Vai Quem Já Morreu”.
  • O trio Tapajós lançou no mercado fonográfico o primeiro disco gravado por um trio elétrico e foi ao Rio de Janeiro para reforçar o lançamento nacional da música.
  • Em uma semana, a canção saltou do sétimo para o segundo lugar nas paradas de sucesso e foi apresentada no programa televisivo “A Grande Chance”.

1972

  • Um histórico encontro na Praça Castro Alves reuniu Osmar, que tocava no trio Caetanave, e Armandinho, no trio Saborosa, executando o “Desafilho”.
  • O Tapajós homenageou Caetano Veloso, que voltava do exílio em Londres, com o lançamento da Caetanave – um trio com linhas arquitetônicas arrojadas, verdadeira obra de arte que, proporcionalmente, ainda não foi superada.
  • O público nas ruas viu Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa juntos em cima do trio.
  • Surgiu o trio elétrico Marajós.

1973

  • O trio Tapajós animou o Carnaval de Curitiba.

1974

  • Após longa ausência, a dupla Dodô e Osmar retornou ao Carnaval com a nova formação: “Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar”.
  • Gravaram o disco “Jubileu de Prata”, comemorando 25 anos de criação do trio.
  • O Tapajós, com seis LPs e dois compactos lançados, foi animar o Carnaval de Belo Horizonte.

1975

  • A fobica, após sua estreia em 1950, voltou às ruas para comemorar o Jubileu de Prata do trio elétrico.
  • Uma grande festa homenageou os inventores, com desfile de vários trios puxados por Dodô e Osmar.
  • Os trios partiram do Campo Grande até a Praça Castro Alves, executando juntos o “Parabéns a Você”.
  • A dupla recebeu o troféu comemorativo, em apoteótica despedida instrumental do Carnaval.
  • A empresa Souza Cruz contratou dois trios Tapajós para o Rio de Janeiro.

1976

  • O Tapajós animou os carnavais de Salvador, Belo Horizonte e Santos.
  • Surgiu a empresa Tapajós Promoções Artísticas e Publicidade Ltda.
  • Em show na Concha Acústica de Salvador, Armandinho lançou a guitarra de dois braços, criação de Dodô, batizada de Dodô e Osmar.
  • Apareceu nas ruas de Salvador o trio dos Novos Baianos, causando revolução no cenário musical: substituição dos amplificadores de válvulas e cornetas Sedam por caixas acústicas, tweeters e cornetas Snak e mudança na linguagem musical, com os Novos Baianos cantando repertório popular.
  • Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia batizaram o grupo de “Os Doces Bárbaros”.

1977

  • O Tapajós animou o Carnaval de Brasília.
  • Com o lançamento da música “Pombo Correio”, o trio Dodô e Osmar ganhou uma gigantesca ave branca que batia as asas ao ritmo do trio.

1978

  • Morreu Adolfo Nascimento, o Dodô, um dos pais do trio elétrico.
  • Seu sepultamento foi acompanhado pelo Tapajós, com faixa preta de luto, tocando a Ave Maria de Gounod, a Marcha Fúnebre de Chopin e o Hino ao Senhor do Bonfim.
  • Ocorreu o casamento do som dos afoxés com o trio elétrico, graças a Moraes Moreira e ao poeta Antônio Risério, com a música “Assim Pintou Moçambique”.

1979

  • Três carros-trios da empresa Tapajós foram contratados por entidades de Salvador.
  • Na festa do tricampeonato do Flamengo, o trio arrastou uma multidão do Maracanã até a Gávea, ao som de um frevo de Moraes Moreira.

1980

  • O trio Traz os Montes, de uma entidade carnavalesca, estreou nas ruas de Salvador.
  • Ganhou destaque por introduzir novidades técnicas, som potente e transistorizado.
  • A música mais executada foi “Beleza Pura”, de Caetano Veloso, com arranjo de Armandinho.
  • No Rio de Janeiro, o Carnaval começou com batalha de confete em Madureira, tendo o Tapajós como atração principal.
  • Em Natal (RN), surgiram três trios com consultoria de Osmar Macêdo.

1981

  • O novo trio de Armandinho, Dodô e Osmar teve como tema “Vassourinha Elétrica”, sucesso nacional.
  • O trio dos Novos Baianos foi comandado por Baby Consuelo, a única cantora de trio.

1983

  • Um trio elétrico construído na Itália foi inaugurado na Piazza Navona, diante de 80 mil pessoas, embaladas pela banda de Armandinho, Dodô e Osmar.

1985

  • Outro trio elétrico foi construído na França para o Carnaval em Toulouse.

1986

  • O trio Armandinho, Dodô e Osmar foi à Copa do Mundo do México, e na volta percorreu cidades da Riviera Francesa, terminando em Lion.

1988

  • Foi criado o trio Espacial, com palco giratório e elevação automática.

1990

  • O trio elétrico completou 40 anos.

1992

  • Orlandinho, filho de Orlando Campos, resgatou o trio Caetanave, homenageando o pai com um encontro de gerações no Carnaval.

1997

  • Faleceu Osmar Macêdo, o outro pai do trio.
  • Seu sepultamento teve cortejo de trios elétricos passando pela Praça Castro Alves.

1998

  • Foi inaugurado, na Praça Castro Alves, o monumento em homenagem à dupla Dodô e Osmar.
  • A fobica voltou às ruas durante o Carnaval.

1999

  • O percussionista Carlinhos Brown retomou o projeto da Caetanave, trazendo um novo equipamento para as ruas de Salvador.

2000

  • O trio elétrico completou 50 anos e recebeu novas homenagens junto à fobica e seus idealizadores.

5. Axé Music

  • A axé music nasceu dos tambores das entidades afro-carnavalescas, em meados dos anos 70.
  • Surgiram os blocos Ilê Aiyê, Badauê, o renascimento dos Filhos de Gandhy, e, depois, Olodum e Muzenza.
  • Esses grupos influenciaram profundamente os artistas surgidos nos trios elétricos nos anos 80.
  • No início, o sucesso se restringia à Bahia, graças ao estúdio WR, à Itapoan FM e à TV Itapoan.
  • Em 1985, a música “Fricote”, de Paulinho Camafeu e Luiz Caldas, rompeu barreiras e fez o axé conquistar o Brasil.
  • Com Luiz Caldas e Acordes Verdes, a música baiana chegou ao mercado fonográfico nacional.
  • A axé music quebrou paradigmas, misturando estilos, comportamentos e gerando impacto na economia baiana, com: Vendas de CDs, Atração de turistas, Geração de empregos e Crescimento do Carnaval de Salvador
  • Além disso, recolocou a música brasileira nas rádios nacionais e influenciou novos estilos como: Sertanejo de São Paulo, Pagode do Rio de Janeiro, Lambada do Pará e Pop de Recife
  • O sucesso impulsionou os carnavais fora de época, que seguem crescendo.

6. Carnaval de Salvador – Ano, Música, Bloco e Cantor

Ano Música Bloco Cantor/Banda
1985 Fricote Luiz Caldas
1986 Eu Sou Negão Gerônimo
1987 Faraó, Divindade do Egito Olodum Olodum
1988 Protesto do Olodum Bandamel
1989 Beijo na Boca Banda Beijo Banda Beijo
1990 Revolta Olodum Olodum Olodum
1991 Prefixo de Verão Bandamel
1992 Baianidade Nagô Banda Mel Banda Mel
1993 Doce Obsessão Cheiro de Amor Cheiro de Amor
1994 Requebra Olodum Olodum
1995 Avisa Lá Olodum Olodum
1996 Araketu Bom Demais Araketu Araketu
1997 Rapunzel Crocodilo Daniela Mercury
1998 A Latinha Timbalada Timbalada
1999 Juliana Pierre Onasis
2000 Cabelo Raspadinho Camaleão Chiclete com Banana
2001 Bate-Lata Banda Beijo Banda Beijo
2002 Festa / Diga Que Valeu Coruja / Camaleão Ivete Sangalo / Chiclete com Banana
2003 Dandalunda AfroPop Margareth Menezes
2004 Maimbê Dandá Crocodilo Daniela Mercury
2005 Coração Rapazolla
2006 Café com Pão Vixe Mainha
2007 Quebraê Asa de Águia
2008 Toda Boa Psirico

História e Cronologia do Carnaval de Salvador da Bahia

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