História do Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat

Considera-se o Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat, originalmente denominado Castelo de São Felipe, um exemplar de extraordinária importância da nossa arquitetura fortificada primitiva, por ser o modelo mais arcaico das defesas locais que sobreviveu sem maiores transformações.

Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat
Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat

Nesse particular, é talvez o mais antigo existente em todo o Brasil.

Com efeito, na cartografia de Albernaz do primeiro quartal do século XVII, em que figuram também o Forte de Santo Alberto, a antiga Torre de Santo Antônio da Barra e a Torre de São Tiago de Água de Meninos, o Forte de Serrat é o quarto representado em planta.

Cartografia de Albernaz de 1631, cidade de Salvador em que figuram também o Forte de Santo Alberto, a antiga Torre de Santo Antônio da Barra e a Torre de São Tiago de Água de Meninos, o Forte de Serrat é o quarto representado em planta.
Cartografia de Albernaz de 1631, cidade de Salvador em que figuram também o Forte de Santo Alberto, a antiga Torre de Santo Antônio da Barra e a Torre de São Tiago de Água de Meninos, o Forte de Serrat é o quarto representado em planta.

Nessa figura abaixo, o forte apresenta com a mesma feição atual, apesar das reformas.

Perfil e planta do Forte de Monte Serrat (José Antônio Caldas, 1759).
Perfil e planta do Forte de Monte Serrat (José Antônio Caldas, 1759).

O Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat, originalmente denominado Castelo de São Felipe, passou por várias reformas ao longo de sua história. Essas reformas foram realizadas para melhorar a estrutura defensiva do forte, adaptá-lo a novas tecnologias militares, reparar danos causados por ataques ou pelo desgaste do tempo e preservar sua integridade histórica.

Principais reformas realizadas no Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat

1. Reformas do Conde de Castelo Melhor (1650-1654)

  • Durante o governo do Conde de Castelo Melhor, o forte passou por suas primeiras reformas significativas. Essas melhorias visavam fortalecer a estrutura do forte e aumentar sua capacidade defensiva. A intenção era melhorar a proteção contra ataques, especialmente após a primeira invasão holandesa, que ocorreu em 1624. Embora os detalhes exatos das mudanças realizadas não sejam amplamente documentados, sabe-se que elas incluíram reforços na estrutura e adaptações às necessidades militares da época.

2. Reformas sob o Vice-reinado de André de Melo e Castro (1735-1749)

  • No período em que André de Melo e Castro, Conde das Galveias, atuou como Vice-rei do Brasil, o forte passou por mais uma série de reformas. Essas intervenções, concluídas em 1742, foram realizadas para manter a eficiência da estrutura defensiva do forte, provavelmente com melhorias nas muralhas e bastiões, bem como a substituição ou manutenção de artilharia e outras instalações militares.

3. Restauração de Góis Calmon (1924-1927)

  • Em 1927, durante o governo de Góis Calmon, o forte passou por um projeto de restauração significativo. Esta intervenção foi parte de um esforço maior para o “embelezamento” das áreas de Monserrate. A restauração incluiu a reconstrução de partes deterioradas da estrutura, limpeza e restauração dos torreões, e a melhoria geral do estado de conservação do forte. Uma comissão foi formada para supervisionar os trabalhos, composta por especialistas como o Capitão-de-mar-e-guerra Cunha Menezes, o professor Alberto de Assis e o engenheiro Américo Furtado de Simas.

4. Pequenas Reformas pelo Exército Brasileiro

  • Nas décadas subsequentes, o forte foi mantido sob a guarda do Exército Brasileiro, que realizou pequenas reformas para manter a integridade estrutural e a aparência original do forte. Estas reformas foram de menor escala e focadas principalmente na manutenção básica, garantindo que o forte permanecesse acessível para visitas e preservando-o como patrimônio histórico.

5. Outras Intervenções e Uso Contemporâneo

  • Além dessas reformas mais notáveis, ao longo dos anos, o forte também passou por pequenas intervenções de conservação para evitar a deterioração causada por condições climáticas e pelo passar do tempo. Atualmente, o forte é um ponto turístico e histórico de Salvador, utilizado para eventos culturais e educacionais, o que demanda contínua manutenção e preservação.

A planta de Albernaz é o documento iconográfico mais antigo a respeito do forte.

Na verdade, do ponto de vista de imagem da cidade, Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat é uma referência como muitos outros fortes, porém bastante especial pela posição privilegiada e em extrema harmonia com a morfologia do terreno.

Os seus bastiões redondos eram muito a gosto da arquitetura fortificada italiana da transição, embora em escala infinitamente mais modesta.

História do Forte de Nossa Senhora de Monserrate

Para o leitor menos avisado, convém destacar que o nome do forte não tem relação com o Baluarte de Monserrate.

Este fazia parte do perímetro defensivo aproximado de Salvador, situado, provavelmente, na encosta da cidade, abaixo da Fortaleza de Santo Antônio Além-do-Carmo, como o descreveu o Capitão João Coutinho.

Partindo do pressuposto de que foi edificado no tempo de D. Francisco de Sousa, como acreditavam Teodoro Sampaio e muitos outros ilustres investigadores da nossa história, imagina-se que o seu desenho bem pode ser obra de Baccio de Filicaia, que estava a serviço daquele governador.

Em seu trabalho sobre a história militar do Brasil, escrito no século XVIII, o Coronel José Mirales avalia que seja mais antigo, do tempo do Governador-geral Manoel Teles Barreto (1583-1587).

O certo é que já fazia parte das fortalezas referidas por Diogo de Campos Moreno no relatório de 1609.

Ainda que tivesse capacidade de receber maior número de peças, Monserrate não dispunha de mais do que seis ou sete, já que “não devem dar a um pigmeu as mesmas armas que a um gigante […]”, como era opinião do Mestre-decampo Miguel Pereira da Costa, entendedor do assunto.

Com efeito, Caldas, que o via como “fortificação antiga e defeituosa”, vai encontrá-lo em meados do século XVIII com nove peças, o que se considera mais do que suficiente para o seu poder de fogo.

Encontrou-o, também, com os dois torreões da frente cortados até a altura da barbeta, para aumentar a linha de fogo. Esses torreões, em algum momento do passado, foram reconstruídos.

As suas “guaritas”, como o vulgo costuma considerar, na verdade são diminutos torreões, cuja função era flanquear as cortinas com o tiro de mosquete (tipo de arma de fogo portátil).

Por possuir um parapeito à barbeta, essa fortaleza era sempre malvista pelos artilheiros, pois ficavam mais expostos aos disparos do inimigo.

Todos esses artifícios, porém, visavam aumentar a capacidade de fogo do fortim, fazendo-o receber maior número de peças e desobstruindo a visibilidade do tiro frontal.

Tinha, entre outros, um defeito peculiar a muitas fortificações de Salvador, que era a existência de um padrasto, formado pela colina onde se encontra atualmente a sede da Coordenação de Recursos Ambientais, em altitude superior à do reduto de Monserrate.

Diferentemente de outras defesas da nossa cidade, que jamais pugnaram contra um inimigo externo, o antigo Forte ou Castelo de São Felipe, hoje Forte de Nossa Senhora de Monserrate, viu-se envolvido em algumas refregas ao longo da sua quadricentenária existência.

Todos os Santos Bay, Brazil, 1671, Publication: De Nieuwe en Onbekende Weereld
Baía de Todos os Santos, Brasil, 1671, Publicação: De Nieuwe en Onbekende Weereld. A obra de Montanus foi talvez o maior livro ilustrado sobre o Novo Mundo produzido no século XVII. Esta é uma vista soberba da Baía de Todos os Santos com Salvador da Bahia ao fundo. A gravura ilustra a região quando os holandeses tentavam ganhar o controlo das colónias portuguesas no Brasil e o seu lucrativo comércio de açúcar. Em 1624, os holandeses capturaram e saquearam Salvador da Bahia, mantendo-a, juntamente com outros portos do nordeste, até ser retomada por uma frota luso-espanhola. A cidade desempenhou então um papel estrategicamente vital na resistência luso-brasileira contra os holandeses na década de 1630. Esta vista foi retirada da obra de Frans Post. As suas obras são algumas das primeiras pinturas europeias do Brasil e foram avidamente reproduzidas em gravuras por gravadores holandeses.

O comportamento dos seus defensores é, porém, motivo de controvérsias.

Durante a primeira invasão holandesa, foi tomado pelos batavos, depois de ter trocado tiros com algumas naus da esquadra inimiga.

Sua resistência ao assalto parece não ter sido tenaz porque, ocupada a cidade, não havia alternativa senão a retirada.

Além do mais, não era difícil desembarcar nas praias da península de Itapagipe e cortar a sua comunicação com a guarnição da cidade.

Há uma nova divergência entre os historiadores sobre o que aconteceu no Fortim de Monserrate com a chegada de D. Fradique de Tolledo, em 1625.

Querem uns que, à vista da poderosa frota, os holandeses recolheram-se à cidade abandonando-o, medida prudente e salutar.

Aldenburgk diz que a sua guarnição ainda atirou contra os navios da esquadra luso-espanhola, retirando-se na noite seguinte.

Já os que queriam valorizar os feitos portugueses, como o militar Francisco de Brito Freire, autor de História da Guerra Brasílica, falam da tomada do forte de surpresa. Onde abundam as bravatas, falece a verdade histórica.

Treze anos tinham decorrido da reocupação portuguesa do forte, quando, sobre ele, “na tarde de 21 de abril, o Major van den Brand avançou com alguma gente pela praia, conduzindo cinco peças, e o tomou ao Capitão Pedro Aires de Aguirre, que dispunha de poucos soldados, e seis canhões”.

Era a invasão de Nassau de 1638. Os holandeses só o desocuparam quando retornaram a Pernambuco.

No particular, caberia dizer que Aguirre era cabo do fortim desde 1618 e, certamente, um homem de idade.

O Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat iria hibernar por uns duzentos anos, acordando esporadicamente do seu cochilo com alguma salva comemorativa quando foi ocupado pelos revoltosos da Sabinada, em 1837.

Era “sua terceira aventura guerreira”.

Os sediciosos, que o tomaram com a ajuda do paquete Brasília, trocaram tiros com naves da Armada Imperial, mas se renderam diante da artilharia mais moderna da corveta Regeneração e do brigue Três de Maio, que efetuaram o desembarque das guarnições apoiados por destacamento legalista que avançou pela terra.

Já no Segundo Reinado, a questão Christie, que envolveu incidentes com navios e resultou no rompimento diplomático com a Inglaterra, levantou o problema da reforma do fortim.

Esta foi executada em 1863, de acordo com as recomendações do Coronel de origem francesa Beaurepaire Rohan, que colaborava então com a segurança do país.

Mapa dos Atrativos Turísticos de Salvador da Bahia

Daí em diante, não se tem conhecimento de nenhuma intervenção substancial para a sua conservação até que, em estado deplorável, foi objeto de trabalhos de restauração no governo de Góis Calmon (1924 a 1928), inserido no projeto de “embelezamento” das áreas de Monserrate.

Nesse momento, criou-se uma comissão da qual faziam parte o Capitão-de-mar-eguerra Cunha Menezes, o professor Alberto de Assis e o engenheiro Américo Furtado de Simas.

As restaurações mais recentes, empreendidas pelo Exército Brasileiro, foram de pequena monta, não alterando a aparência da defesa.

O Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat esta localizado na Ponta de Humait em Salvador da Bahia.

História do Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat – Guia Turístico de Salvador da Bahia

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