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O subsolo do sertão nordestino guarda muitos tesouros. Entre eles, estão as esmeraldas, retiradas de minas que chegam a 150 metros de profundidade.
Há também as cavernas naturais, onde pesquisadores encontraram fósseis de animais pré-históricos e vestígios dos antigos habitantes do Brasil.
Os labirintos subterrâneos dos sertões se estendem por centenas de quilômetros, revelando uma riqueza histórica e natural surpreendente.
O subsolo da Bahia tem o maior número de cavernas do país.
São túneis imensos, com formações de arenito e fósseis de animais pré-históricos. Os moradores da gruta, os morcegos, descansam no teto, em um local onde estão bem protegidos.
Em alguns pontos, a caverna parece um templo, pela beleza surpreendente. “Tem 28 quilômetros topografados, mas já se conhece bem mais que isso e provavelmente nossa geração não alcance o final dessa caverna, que é muito extensa”, afirma o pesquisador Rangel Carvalho.
Os pesquisadores encontram no chão do subsolo do sertão nordestino, fósseis de animais pré-históricos. “Aqui nós temos um fóssil de um cervo. É um animal já extinto, que foi identificado. É um animal que viveu em torno de dez mil anos atrás“, explica o espeleólogo.
Em Sergipe, na margem do Rio São Francisco, um museu guarda relíquias de grandes descobertas arqueológicas nos sertões.
O Museu de Xingó tem painéis e cenários com ilustrações dos primeiros habitantes da região, pintando as paredes das cavernas e fazendo as inscrições rupestres.
“O que pôde ser resgatado, foi resgatado. Foram 36 sítios arqueológicos localizados. O que foi resgatado já dá um significado, uma ideia da importância dessa região para o contexto pré-histórico“, diz Railda Nascimento Silva, coordenadora do museu.
Objetos de cerâmica, urnas funerárias e esqueletos humanos muito antigos também foram resgatados e estão sendo analisados no Museu de Xingó. “Entre os esqueletos identificados durante o projeto de resgate, provavelmente o de maior antiguidade tem cerca de 9.600 anos“, afirma o professor da Universidade Federal de Sergipe.
O subsolo dos sertões nordestinos também é rico em minério e pedras preciosas. Descendo por um buraco, escavado na rocha bruta, com uma altura de um edifício de 50 andares, se chega a um elevador, que mais parece um chuveiro, onde não para de cair água.
O túnel tem iluminação elétrica e uma bomba retira a água que nasce entre as rochas. “Nós fazemos uma galeria, com um metro de altura por dois metros de largura, madeirando tudo e entrando aqui. É aqui que produz as pedras. É aqui que tira as esmeraldas“, conta um minerador.
Usando martelos, os mineiros procuram as pedras preciosas, mas não é fácil encontrá-las. Muita gente depende desses garimpos. Mesmo fora das minas, procurando nas pedras já exploradas, uma esmeralda esquecida. “Nós temos 9,8 mil pessoas da Serra da Carnaíba que vivem desse garimpo. Nove mil e oitocentas pessoas diretamente e, indiretamente, vai para 60 mil pessoas.”
A beleza do subsolo dos sertões é a joia mais preciosa. Mesmo nos subterrâneos da área mais seca do Brasil, há um tesouro esculpido em cada rocha.
Pré-história brasileira no Museu de Arqueologia de Xingó
Descoberto em 1991, o Cemitério do Justino, localizado no subsolo do nordeste, com 188 esqueletos humanos acompanhados de seus adornos e pertences usados em vida, foi o primeiro grande vestígio pré-histórico encontrado na região do baixo São Francisco, entre os estados de Alagoas e Sergipe.
Era o primeiro sinal de que havia ali um verdadeiro tesouro arqueológico, que hoje compõe o acervo do Museu de Arqueologia de Xingó (MAX), da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Quando a pesquisadora Cleonice Vergner e sua equipe realizavam um trabalho de salvamento arqueológico solicitado à universidade pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em 1988, ela não imaginava que encontraria tantos vestígios da pré-história brasileira anos depois. A pesquisa começou na região que seria alagada pela represa da hidrelétrica de Xingó, e depois prosseguiu por todas as áreas não alagadas.
“Há trabalho para pelo menos quatro gerações“, considera Cleonice. Na margem do rio São Francisco, na região baixa, apenas dois sítios foram escavados dos 255 descobertos.
Nesses sítios do subsolo do nordeste, conhecidos como Letreiros e Vale dos Mestres, estavam as peças, esqueletos e cerâmicas que hoje são conservadas e expostas no museu, em ambiente refrigerado e musicalizado, junto com mapas e miniaturas que representam como viviam aqueles povos da pré-história.
A logomarca do MAX, o desenho de uma ave que lembra um urubu, também foi encontrada em sítios de arte rupestre, repetindo-se em três sítios diferentes. Entre platôs e terraços do rio, 41 sítios ficam a jusante da represa e 214 na foz.
O museu tem uma equipe de 43 pessoas distribuídas no laboratório de pesquisas, em Xingó, e na estação central de Aracaju. As escavações são realizadas pela própria comunidade das cidades de Paulo Afonso, Canindé, Olho D’Água e Piranhas. “Somente o pessoal dos desenhos não era analfabeto.
Ensinamos os outros a escavar e os alfabetizamos. Hoje, eles fazem supletivo, quatro deles já se formaram na graduação por nosso intermédio, e uma se tornou mestre e trabalha conosco”, conta a pesquisadora. “O projeto também teve uma preocupação social, integrando a comunidade. Hoje o museu sustenta 217 pessoas, entre funcionários e suas famílias”.
O Museu de Arqueologia de Xingó está situado no município de Canindé do São Francisco, em Sergipe, que fica a 200 quilômetros da capital sergipana (quatro horas de ônibus) e já foi visitado por mais de 55 mil pessoas nesses quatro anos.
Esmeraldas, minas e cavernas no subsolo do sertão nordestino.
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