Este post também está disponível em: Português English
O turbante, para muitos, é símbolo de cultura e beleza negra, mas esse acessório, repleto de significados e funções, também é amplamente utilizado por povos do Oriente.
Além de ser um símbolo de identidade e tradição para muitas culturas africanas, o turbante também possui forte presença em outras regiões e povos. Para nós, ele não é apenas lindo e prático, mas também um símbolo de atitude.
Dividimos a história do turbante em duas partes
- Oriente
- África, Brasil e Moda
Esperamos que aproveite e se inspire na beleza do turbante.
1. Turbante no Oriente
A origem exata do turbante ainda é desconhecida, mas sabe-se que ele existia antes de 570 d.C., ou seja, antes do nascimento de Maomé e do surgimento da fé islâmica.
Dentro do Islã, o turbante tem uma função religiosa importante, sendo um símbolo material que reforça a consciência espiritual, representando uma fronteira entre a fé e a descrença.
Como é na cabeça que ocorrem as decisões entre o bem e o mal, o certo e o errado, o verdadeiro e o falso, o turbante, chamado de kawrah, envolve e protege os pensamentos, reforçando a opção pela fé. Ele é tradicionalmente usado apenas por homens, mas, infelizmente, o uso desse tipo de turbante está hoje muitas vezes associado a imagens de atentados terroristas.
No entanto, o turbante também é o principal símbolo da fé Sikh, uma religião monoteísta indiana. Nessa tradição, tanto homens quanto mulheres não devem cortar os cabelos, usando turbantes para envolvê-los.
No Dia Mundial do Turbante (13 de abril), os homens Sikh exibem com orgulho seus exuberantes turbantes, inspirando as novas gerações para que o hábito e a religião se mantenham vivos.
Ainda na Índia, os turbantes são utilizados como proteção contra o clima severo do deserto e, além disso, sem que nenhuma palavra seja dita, eles indicam a casta, o status financeiro e a religião de quem os usa. No estado indiano de Rajasthan, dizem que a cada 12 km o dialeto e os estilos de turbantes mudam!
1.1. Principais Tipos de Turbantes
Os dois tipos mais conhecidos de turbantes são o Safa e o Pagdi.
- o Safa é uma tira de tecido com cerca de 9 metros de comprimento e 1 metro de largura;
- o Pagdi mede aproximadamente 1,50 metros de comprimento e 1 metro de largura.
Culturalmente, em algumas regiões, retirar o turbante e colocá-lo aos pés de alguém é um sinal de submissão. Além disso, trocar turbantes com outra pessoa simboliza o cimentar de laços de irmandade.
O turbante é tão importante que, na cidade de Jaipur, existe um museu do turbante.
Muitos turistas visitam o local para comprar turbantes originais. Antigamente, os reis e marajás usavam turbantes, ditando a moda para a população. Hoje, ele continua sendo um item indispensável em cerimônias de casamento, especialmente para o noivo.
O turbante faz parte das culturas oriental, africana e brasileira, além de ser visto frequentemente em desfiles de moda. Mais do que um simples acessório, o turbante carrega uma história rica e significativa.
Na continuação de nossa pesquisa (veja a parte I deste post), exploramos mais esse acessório que é uma ferramenta de comunicação sutil, uma indumentária secular, e que pode ser tanto prático, moderno, glamouroso quanto simples e chique.
2. Turbante na África, Brasil e na Moda
Na África, os tecidos enrolados no corpo são parte fundamental da cultura, e os turbantes complementam essa indumentária, compondo o conjunto visual e simbólico.
Os turbantes são usados tanto por homens quanto por mulheres, e na África Negra, os chamados turbantes gelê possuem diversas funções sociais e religiosas, além de, naturalmente, serem um importante elemento da moda.
Qual o significado dos Turbante Gelê?
O gelê é um tipo de turbante tradicionalmente utilizado na África Negra, especialmente em algumas culturas da África Ocidental. O significado do gelê é multifacetado, englobando aspectos sociais, religiosos e estéticos.
- Identidade Cultural: O gelê é um símbolo de identidade e pertencimento cultural, muitas vezes associado a grupos étnicos específicos.
- Função Social: Ele pode indicar status social, função dentro da comunidade e até mesmo a fase da vida da pessoa que o usa.
- Expressão Religiosa: Em muitas tradições religiosas africanas, o gelê é usado em cerimônias e rituais, representando a espiritualidade e a conexão com os Orixás ou outras divindades.
- Proteção e Força: O gelê também é visto como um elemento de proteção, envolvendo a cabeça e os pensamentos, simbolizando força e resiliência.
- Moda e Estilo: Além de suas funções culturais e sociais, o gelê é um acessório de moda, permitindo uma expressão pessoal e estética.
Em resumo, o gelê é muito mais do que um simples acessório; ele carrega uma rica carga de significados que refletem a cultura, a religiosidade e a identidade de quem o utiliza.
2.1. Aprenda a fazer um turbante para se enfeitar no carnaval
O turbante, conhecido como ojá ou torço, é um acessório versátil que pode ser usado enrolado na cabeça, na cintura das mulheres ou sustentando crianças nas costas das mães.
Nas religiões africanas, além de ser usado como turbante, pode envolver o busto e terminar em um laço, ou ainda ser amarrado em torno dos atabaques durante cerimônias importantes, e atado ao tronco de uma árvore sagrada — sua cor varia conforme o Orixá.
No Brasil, devido à forte influência africana, o turbante se transforma em uma manta que se enrola na cabeça, compondo o traje das baianas, que são figuras típicas do país, reconhecidas por sua luta e pela regularização de suas profissões.
Assim como na África, o turbante também tem uma função religiosa no candomblé, umbanda e xangô do nordeste, variando o número de abas de acordo com o Orixá. Ele representa senioridade e respeito, além de servir como proteção para os filhos de santo, especialmente as mulheres.
Na moda, o estilista francês Paul Poiret, na década de 1930, introduziu o turbante na alta costura, inspirado na indumentária oriental e figurinos exóticos, fazendo sucesso entre mulheres sofisticadas, como Simone de Beauvoir e Greta Garbo.
Logo depois, Carmen Miranda popularizou o acessório no Brasil.
Prático e funcional, durante a Segunda Guerra Mundial, muitas mulheres usavam o turbante para esconder o mau estado de seus cabelos. Na década de 1960, o movimento do orgulho negro, que teve origem nos Estados Unidos, fez com que o turbante retornasse ao cenário como uma forma de afirmação para o povo negro.
Recentemente, o turbante apareceu em desfiles de grifes famosas, como a Prada, e voltou a estar na moda ocidental.
3. Traje e o Turbante da Baiana
Na Bahia de Todos Os Deuses, com seus trajes pomposos, turbantes (torços), panos da costa, batas (blusas compridas e soltas), saias rodadas (brancas ou de estamparia colorida), muitas anágas rendadas e engomadas, e pulseiras e colares na cor do seu Orixá, as negras de ganho criaram um tipo físico que se tornou tradicional.
O traje que costumamos chamar de baiano reflete a influência da cultura africana no Brasil, aliado ao rebolado e à ginga do corpo.
O turbante e os balangandãs indicam elementos da cultura islâmica predominante no Norte da África (Sudão).
3.1. Balangandãs
As pencas de balangandãs integraram as roupas tradicionais das negras mucamas dos séculos XVIII e XIX. Balangandã é o ornamento de contas coloridas ou amuleto, em forma de figa, fruta, medalha, moeda, chave ou dente de animal; pendente de argola, broche, brincos ou pulseira de prata, usado pelas baianas em dias festivos.
Figas, dentes e guias são usados como amuletos para proteção, louvação ou combater o mau-olhado. A figa, particularmente, é um amuleto em forma de mão fechada, com o polegar entre o indicador e o dedo grande, usado como ornamento pessoal, da casa ou estabelecimento comercial.
3.2. Pano da Costa
Na África, o pano da costa era apenas um complemento da vestimenta das mulheres negras, e não tinha conotações religiosas. A partir do século XIX, no Brasil, começou a ter ligação com as celebrações do Candomblé.
Na África, é denominado alaká ou pano de alaká. No Brasil, ficou conhecido como pano da costa porque vinha da Costa do Marfim (África) e também por ser usado nas costas.
Os primeiros panos da costa vieram no corpo das escravas, que não tinham roupa e eram vendidas enroladas no pano. Depois, os panos foram tecidos aqui mesmo por escravos ou por seus descendentes, em teares manuais e rústicos vindos para o Brasil no século XVIII.
Tecido em tear manual, o pano da costa é formado por tiras de dois metros de comprimento, com largura variando entre 10 a 15 centímetros. As tiras são depois costuradas uma a uma.
Branco não é a cor predominante no pano da costa, que geralmente é listrado ou bordado em alto-relevo e colorido com padronagens variadas, dependendo do Orixá de cada nação.
3.3. Usos do Alaká
Os filhos de santo usam o alaká enrolado no tronco. As mães escravas traziam durante as horas de trabalho seus bebês escanchados (com as pernas em volta da cintura) às costas e presos por um alaká.
As baianas atuais, descendentes de africanos (das tribos ioruba, nagô, mina, fula, haussá), são as que mais se esmeram no trajar.
As nagô, cuja presença maior se nota nos candomblés, são baixas e gordas, usando cores vivas e berrantes, com saias amplas toda estampada.
A baiana mulçumana (do Sudão da África), alta e esguia, usa o traje branco imaculado. Às vezes, no ombro, um “pano da Costa” rústico.
3.4. A Baiana de Hoje
Hoje, como traje e figura típica da Bahia, tão cantada por Dorival Caymmi, podemos ver a baiana pregoeira com seus coloridos tabuleiros de comidas típicas e doces, nas ruas, ladeiras e praias de Salvador, ou em ritos de Candomblé e Umbanda e festas religiosas, como a Lavagem do Bonfim.
Em Salvador, no dia 25 de novembro, quando se comemora o Dia da Baiana, é celebrada uma missa na Igreja de N. Sra. do Rosário dos Pretos e manifestações culturais como Samba de Roda, Capoeira, Olodum e Afoxé, no Memorial das Baianas.
A baiana é uma figura que traz consigo os elos da herança ancestral africana — a oralidade, a culinária, a crença, o misticismo, a dança, a ginga e, sobretudo, a cor.
É preciso ter sangue ancestral pra saber o que é que a baiana tem.
Turbante é história, religião, moda e cultura.
Guia Turístico do Nordeste, Bahia e Salvador