As artes plásticas no nordeste tiveram influências e informações externas e ajudam a construir uma arte genuinamente brasileira e local – um processo de apropriação e recriação que remonta à colônia.
Aos artistas europeus que acompanharam Maurício de Nassau durante a ocupação holandesa de Pernambuco (1630-54) devem-se as primeiras imagens da paisagem do Brasil e do Nordeste em particular.
Frans Post registrou os vastos horizontes nordestinos, seus engenhos e fortes; Albert Eckhout fixou animais, plantas e personagens típicos em telas de grandes dimensões; a fauna e a flora dos novos domínios holandeses foram desenhadas minuciosamente por Zacharias Waneger, escrivão e despenseiro de Nassau e artista amador.
Se essas imagens inaugurais foram elaboradas por mãos holandesas e calvinistas, o conjunto da arte que brotou no Nordeste durante os primeiros séculos da colônia é filho de Portugal e é católico, criado por religiosos das ordens que apartaram em território nordestino ou por leigos contratados para decorar as igrejas das vilas e dos engenhos.
Eram frades beneditinos Agostinho da Piedade (1580-1661), o primeiro escultor sacro da Bahia, e seu discípulo, Agostinho de Jesus (1600-61).
Jesuítas e franciscanos também se inscrevem na galeria de escultores seiscentistas, que cresceu à medida que a sociedade do açúcar enriquecia, fazendo erguer novos templos ou ampliando e reformando os primitivos.
Com o tempo, o oficio de moldar, talhar e pintar as glórias de Deus foi transmitido para artífices já nascidos na colônia, às vezes mestiços.
Era mulato o pernambucano João de Deus Sepúlveda, que viveu na segunda metade do século XVIII e pintou, entre outros, o teta da igreja de São Pedro dos Clérigos, em Recife.
Quer seja oficio de portugueses ou brasileiros, de brancos ou negros, a arte barroca nordestina desenvolveu-se no litoral, transpondo e adaptando para a colônia a linguagem da metrópole: a falta do mármore usado nas esculturas européias, por exemplo, foi compensada pelo desenvolvimento na técnica do entalhe da madeira, que atingiu o patamar da excelência com Francisco das Chagas, conhecido como o Cabra, e posteriormente com Manuel Inácio da Costa, ambos de Salvador.
Do primeiro pouco se sabe, salvo que era mulato e que, em 1758, esculpiu o magnífico Cristo Morto com gotas de sangue de rubi para a Ordem Terceira do Carmo.
Do segundo, que viveu entre 1763 e 1857, conhece-se mais: considerado o maior escultor da época, deixou um amplo legado, em que sobressai a imagem de São Pedro de Alcântara da igreja de São Francisco.
Evolução e História das Artes Plásticas no Nordeste
ESCOLA BAIANA DE PINTURA
Entre meados do século XVIII e do XIX estendeu-se no Nordeste a influência da Escola Baiana de Pintura. Seu maior expoente, José Joaquim da Rocha (1737-1807), era brasileiro, mas aprendeu o oficio em Lisboa antes de voltar a Salvador, onde se tornou o mais requisitado mestre-pintor de seu tempo.
Entre as suas obras que resistiram ao tempo sobressai o forro da nave da igreja da Conceição da Glória.
Rocha formou inúmeros discípulos, entre eles José Teófilo de Jesus (1758-1847), que como o mestre, estudou na Europa e trabalhou na ornamentação de igrejas, mas exerceu igualmente a função de retratista.
Também da Escola Baiana, Antônio Franco Velasco (1780-1833) pintou o forro da nave na igreja do Bonfim, entre outros, mas tornou-se conhecido nacionalmente pelos retratos.
ACADEMICISMO
No século XIX a pintura divorciou-se da arquitetura e das demandas da religiosidade.
Implantava-se no Nordeste uma ordem acadêmica que, mantendo a vocação manifestada desde os primeiros tempos da colônia, se espelhava na Europa – destino de quase todos os artistas nordestinos do período, alguns precedidos por passagens pela Academia de Belas-Artes do Rio de Janeiro.
Esse trânsito, porém, não significou uma rejeição ao Brasil, mas uma busca de novos instrumentos para retratá-lo e construí-lo.
Assim, coube ao paraibano Pedro Américo (1843-1905) a façanha de pintar o que se tornaria o retrato oficial da proclamação da Independência, uma imagem incorporada ao inconsciente brasileiro – o quadro Independência ou morte, atualmente no Museu Paulista (Museu do Ipiranga) de São Paulo.
Em O último tamoio, Rodolfo Amoedo (1857 -1941), baiano, ajudou a construir a imagem do índio, emblema da nação que formava. O pernambucano Telles Júnior (1851-1914) usou a linguagem aprendida na Europa para retratar o Nordeste.
Outros artistas nordestinos de importância no período são o pernambucano Arsênio Silva (1833-83), que introduziu o uso do guache no país, e o alagoano Rosalvo Ribeiro (1867-1915), especializado em cenas militares.
Essa adaptação de linguagens, estilos e técnicas européias à realidade brasileira manteve-se quando, a partir da segunda década do século XX, artistas nordestinos incorporaram-se ao movimento modernista.
São exemplos dela a trajetória de dois dos maiores pintores brasileiros do período, ambos pernambucanos. Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) apurou em Paris uma linguagem marcada pela cerâmica indígena; Cícero Dias (1907 -2003), que no fim dos anos 1920 criava aquarelas de inspiração surrealista a partir das cores e temas de sua Recife natal, passou grande parte da vida na Europa sem desvincular-se do universo nordestino.
É curioso lembrar que o Nordeste não apenas “exportou”, mas também recebeu artistas que se encantaram com suas paisagens.
O pintor ítalo-paulista José Pancetti (1902-58) estabeleceu-se na década de 1950 em Salvador, onde produziu algumas de suas melhores marinhas; fixou-se ali à mesma época o argentino Carybé (1911-97), pintor e desenhista que registrou com traço inconfundível elementos da cultura baiana.
NOVOS RUMOS
Entre os anos 1940 e 1950, as artes plásticas nordestinas passaram por uma fase de efervescência e renovação. Em Salvador, participaram desse movimento o próprio Carybé, Genaro de Carvalho (1922-71), conhecido por suas tapeçarias, e o pintor sergipano Jenner Augusto (1923), além do escultor Mário Cravo (1923).
No Ceará, criou-se em 1943 a Sociedade Cearense de Artes Plásticas, da qual saíram nomes como Aldenur Martins (1922) , Sérvulo Esmeralda (1929), Raimundo Cela (1890-1954) eAntôtuo Bandeira (1922-67), grande abstracionista brasileiro.
Em Pernambuco, formou-se em 1948 o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife, cujo maior expoente é Gilvan Sanuco (1928) , pintor e gravurista que retomou e renovou o universo do cordel nordestino. Participou desse ateliê também João Câmara Filho (1944), paraibano que mais tarde representou cenas do país sob a ditadura militar com cores densas e sombrias.
O intercâmbio entre influências externas e referências locais continuou e perdura até hoje.
Ele é visível no construtivismo do soteropolitano Rubem Valentim (1926-91), que usou símbolos do candomblé, e nas esculturas de Francisco Bremund (1927), que em seu ateliê-olaria em Recife trabalha técnicas herdadas da tradição européia de cerâmica.
Nascido na Polônia, o escultor Frans Krajcberg (1921) vive no sul da Bahia e usa raízes, troncos e cipós calcinados em esculturas gue aliam pesquisa artística e militância ecológica.
Cearense, Leonilson desenvolveu em São Paulo (1957-93) uma obra vasta que inclui desenhos, pinturas e bordados.
Uma lista de artistas nordestinos ou vinculados à cultura do Nordeste brasileiro passaria ainda pelas gravuras de Guita Charifker (1936), pelas fotografias de Pierre Verger (1902- 96), de Mário Cravo Neto (1947) e Christian Cravo (1974), pelas esculturas de raízes africanas de Agnaldo dos Santos (1926-62) e de Emanoel Araújo (1940), pela obra de Antonio Dias (1944), e se estenderia por muitos nomes, alcançando Gil Vicente (1958) e Sebastião Pedrosa, de Recife, e o baiano Marepe (1970), gue expõe instalações e pinturas nas galerias de São Paulo e Rio de Janeiro. A arte do Nordeste olha para além de suas fronteiras.
Artes Plásticas no Nordeste
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