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As Defesas do Porto da Barra são compostas por dois importantes fortes históricos: o Forte de Santa Maria e o Forte de São Diogo, localizados em pontos estratégicos na entrada da Baía de Todos os Santos, em Salvador.
O destaque das fortificações na paisagem de Salvador certamente reflete a necessidade tática e estratégica de posicioná-las em locais elevados, com visibilidade privilegiada para as áreas circundantes.
No entanto, não se pode negar ao engenheiro militar que as projetava e construía a sensibilidade estética assimilada da cultura de seu tempo e dos textos dos mais destacados teóricos da arquitetura do Renascimento e do Barroco.
Salvador nasceu como uma cidade-forte, ou, pelo menos, essa era a intenção de D. João III de Portugal. Enquanto foi capital, ou “Cabeça do Brasil”, houve uma constante preocupação em defendê-la.
Após o saque da cidade, a Coroa de Portugal reforçou a proteção da sua capital ultramarina, Salvador, aproveitando inclusive as defesas deixadas pelos holandeses, que se retiraram.
Um dos locais escolhidos para guarnecer Salvador foi o Porto da Barra, onde os batavos desembarcaram com facilidade em 1624.
A partir de 1624, surgem o Forte de Santa Maria e o Forte de São Diogo, que, desde então, passam a ser mencionados nas relações das fortificações de Salvador.
Há uma enorme confusão entre os historiadores sobre a origem desses fortes, pois não há nenhum documento de governador ordenando a construção, nem uma Ordem Régia autorizando as edificações.
O que se sabe é por dedução ou por registros em documentos posteriores. Também encontramos referências a uma trincheira de apoio aos dois pequenos propugnáculos (fortificações).
A lógica leva a situar a trincheira aproximadamente no trecho da atual Avenida Sete de Setembro, em frente ao Porto da Barra, local que já era conhecido, popularmente, como Porto dos Holandeses.
História do Forte de Santa Maria e do Forte de São Diogo em Salvador BA
Se houve uma crítica implacável à eficiência da Fortaleza da Ponta do Padrão ou de Santo Antônio, não se deve seguir à risca as opiniões de alguns dos críticos dos pequenos fortes, que não foram poucos.
A primeira crítica veio de Bernardo Vieira Ravasco, que considerava “não serem de utilidade alguma […]”.
Um relato mais detalhado, atribuído ao Capitão Engenheiro Antônio Correia Pinto por volta de 1671, oferece informações reveladoras, inclusive sobre o responsável pela construção, tema polêmico entre os historiadores:
“Os Fortes Santa Maria e São Diogo são de pedra e cal: ambos fundou Diogo Luís de Oliveira, sendo Governador e Capitão Geral deste estado, nos extremos de uma praia que fica na boca da barra; donde os Holandeses e D. Fradique de Tolledo lançaram a gente, que rendeu, e restaurou esta praça. Ambos estão desmantelados […]”.
Este relato sugere que o autor via alguma serventia nos fortes.
Por outro lado, o Engenheiro Militar Miguel Pereira da Costa, em 1710, não tinha grande consideração por eles, especialmente pelo Forte de São Diogo.
Como foi declarado, não se pode adotar uma posição radical em relação à serventia desses dois “redutinhos”, especialmente se consideradas as escalas e a verdadeira função para a qual foram projetados.
Está claro que o Forte Santa Maria e o Forte de São Diogo pouco contribuíam para a defesa da Barra, que era naturalmente indefensável pela geografia do local, mas eles complicavam o desembarque em um porto considerado muito cômodo.
Note-se que, quando Nassau tentou, em 1638, a invasão da cidade, ele preferiu enfrentar o Forte de São Bartolomeu da Passagem a arriscar um desembarque no local protegido pelas pequenas fortificações.
Concorda-se que os fortes eram dominados por elevações ao redor, mas poderiam servir como baterias baixas de apoio a fortificações maiores que ocupassem as eminências.
Mesmo durante o período imperial, os Fortes de Santa Maria e São Diogo ainda foram considerados nas defesas da costa brasileira, como relata o Coronel Beaurepaire Rohan durante a Questão Christie, evidenciando que os especialistas de fortificação da época julgavam que essas estruturas ainda tinham alguma serventia.
O Forte de Santa Maria foi construído sobre um pequeno promontório rochoso, que delimitava o lado esquerdo da enseada local. Sua capacidade de fogo, devido ao desenho escolhido, era voltada principalmente para o flanqueamento e cobertura do ancoradouro, demonstrando que sua função era bem limitada e específica.
Atualmente, o forte tem canhoneiras no parapeito, mas, conforme descrito e desenhado por Luís dos Santos Vilhena, o forte provavelmente tinha originalmente um parapeito à barbeta, cuja principal função era permitir a instalação de mais artilharia e aumentar o alcance das peças de tiro, embora isso ocorresse em detrimento da segurança dos artilheiros.
Segundo Vilhena, um respeitado professor de grego e cronista de Salvador, “não há muito tempo que se repararam imperfeitissimamente os seus parapeitos, de forma que da cintura para cima fica a guarnição exposta aos tiros do inimigo, sem algum outro recurso mais que retirar-se antes que ele dispare; não tem este capacidade para montar mais de sete até nove peças.”
Essa configuração, de sete peças, parece ter sido considerada adequada para o tamanho do forte. Além disso, o Forte de Santa Maria mantém, desde os tempos de Vilhena, um detalhe incomum nas outras fortalezas de Salvador: uma banqueta de tiro para os mosqueteiros que defendiam as cortinas. O forte também contava com uma ponte levadiça de madeira, que mais tarde foi substituída por uma fixa, inicialmente de madeira e posteriormente de alvenaria.
O historiador João da Silva Campos aponta que a forma atual do Fortim de Santa Maria remonta à administração de D. João de Lencastro, e ele até menciona uma data para a inauguração das reformas: 11 de dezembro de 1694. Isso indica que o forte foi parte das restaurações de todas as fortificações na Barra da Baía de Todos os Santos realizadas durante aquele governo.
Ao comparar a forma atual do forte com as representações do final do século XVIII e início do XIX, percebe-se que algumas modificações foram feitas na área coberta, a qual foi ampliada, resultando em uma redução do plano de fogo para as armas leves. No entanto, essas mudanças não comprometeram o desenho geral das cortinas da fortificação.
Quanto ao Forte de São Diogo, ele também é considerado uma obra de D. Diogo Luís de Oliveira, conforme o documento de 1671. Essa fortificação tem uma forma irregular e foi construída ao pé da colina onde ficava o núcleo primitivo da Vila Velha de Pereira Coutinho, cercada por uma tranqueira (uma cerca defensiva feita de madeira) e uma torre.
A ideia de que, com o desaparecimento das defesas originais, a eminência mais alta teria sido reforçada com alguma bateria ou estrutura de defesa é plausível. Isso se deve ao fato de que uma posição elevada poderia ser tomada pelo inimigo, neutralizando as defesas dos fortes localizados abaixo.
O fogo combinado do Forte de São Diogo e do Forte de Santa Maria teria sido bastante eficaz na proteção do Porto da Barra. O Forte de São Diogo, embora pequeno, possui um desenho irregular, adaptando-se à topografia do terreno, com uma cortina parcialmente arqueada. O parapeito, ainda hoje, é à barbeta, preservando muito do desenho original.
Uma das maiores modificações sofridas pelo edifício ocorreu no acesso principal. Segundo registros, Edgar Cerqueira Falcão o fotografou antes de 1942, quando ainda existia a rampa interna de acesso, embora o forte já contasse com uma escada no portão de entrada. A maior alteração na topografia e na rampa interna provavelmente ocorreu durante a instalação do Cirex, um clube recreativo dos oficiais da 6ª Região Militar.
A forma menos modificada da fortificação foi registrada em fotografias feitas por Benjamin Mulock em meados do século XIX. Antigas plantas, guardadas no Arquivo Militar do Exército, mostram a existência de um caminho que passava próximo ao forte e seguia em ziguezague até o topo da colina, onde se encontra a Igreja de Santo Antônio.
Esses elementos reforçam a importância tática dos Fortes de Santa Maria e São Diogo na defesa do Porto da Barra, sendo componentes essenciais do sistema de defesa da cidade de Salvador.
Defesas do Porto da Barra – Fortes de Santa Maria e de São Diogo – História do Brasil